Participamos do

Ex-assessor diz que dava 2/3 do salário a Queiroz

21:41 | Fev. 21, 2019
Autor Agência Estado
Foto do autor
Agência Estado Autor
Ver perfil do autor
Tipo Notícia
O primeiro depoente ouvido sobre o caso das movimentações suspeitas entre funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro (PSL) na Assembleia Legislativa do Rio, Agostinho Moraes da Silva, admitiu ao Ministério Público fluminense que depositava, todos os meses, cerca de dois terços de seu salário na Casa na conta de Fabrício Queiroz, ex-assessor do parlamentar, agora senador. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) constatou que o ex-assessor teve movimentações atípicas - e incompatíveis com a renda - de R$ 1,2 milhão em uma conta a de janeiro de 2016 a janeiro de 2017.
Segundo Silva contou em depoimento prestado em 11 de janeiro, ao qual jornal O Estado de S. Paulo teve acesso, todos os meses, assim que o salário da Alerj era depositado em sua conta, ele fazia uma transferência eletrônica para a conta de Queiroz, sempre em valor aproximado de R$ 4 mil. O depoente, que assim como Queiroz, é policial militar, disse que ganhava aproximadamente R$ 6 mil por mês como assessor de Flávio. Além disso, ele recebia mais R$ 8.500 líquidos como subtenente da Polícia Militar.
O policial alegou aos promotores do Grupo de Atribuição Originária Criminal da Procuradoria-Geral de Justiça que as transferências eram investimentos em atividade empresarial desempenhada por Queiroz: compra e venda de veículos. Silva disse ainda que, Queiroz lhe devolvia, sempre, cerca de R$ 4.500 a R$ 4.700, em espécie, como retorno do negócio, em aproximadamente um mês.
Silva não apresentou documentos que comprovassem suas afirmações. Elas convergiram com declarações do próprio Queiroz que, em entrevista ao SBT, afirmou que ganhava dinheiro comprando e vendendo carros usados - também sem mostrar provas dessas negociações. O ex-assessor nunca depôs nas investigações. Ele faltou a quatro depoimentos marcados com o Ministério Público. Alega problemas de saúde - está em tratamento de um câncer.
Silva não explicou aos promotores por que recebia em dinheiro vivo o retorno do investimento. Também afirmou que não declarou no seu Imposto de Renda seus ganhos na atividade de Queiroz. O depoente disse que a prática era vantajosa "na medida em que lhe retornava um valor maior do que seria em caso de investimentos bancários tradicionais".
Despesas. Ele afirmou ainda que pagava suas despesas com dinheiro em espécie e, além disso, como tinha grandes despesas no cartão de crédito, usava os valores que recebia de Queiroz para pagar as faturas e para quitar as contas de condomínio de sua residência. Ele disse acreditar que Flávio não sabia das atividades de Queiroz "por ser uma pessoa muito transparente".
Silva afirmou ainda não ter conhecimento da existência de "funcionários fantasmas" no gabinete de Flávio, e disse que não sabia que as filhas de Queiroz, Nathalia e Evelyn e sua mulher Márcia Aguiar eram assessoras do filho do presidente Jair Bolsonaro. Disse também não conhecer Raimunda Veras, assessora de Flávio que também fez depósitos na conta de Queiroz.
O PM afirmou que foi indicado para trabalhar no gabinete do então deputado estadual por Queiroz e era lotado lá desde 2007. Admitiu que não comparecia à Alerj regularmente, não precisava bater ponto e que realizava atividades externas determinadas pelo gabinete.
Ele disse que sempre ficou integralmente com seu salário e assegurou que jamais foi obrigado a repassar parcela de seu salário "a quem quer que seja".
A defesa de Queiroz não quis comentar o depoimento. O Ministério Público do Rio respondeu que o caso corre em sigilo. O procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem, disse que o órgão pode encerrar a investigação sem colher os depoimentos de Flávio e Queiroz. O senador faltou o convite de sua oitiva.
Força-tarefa. O MP e a Polícia Civil do Rio fecharam ontem uma parceria para atuar em conjunto na investigação de nove casos de gabinetes da Alerj citados no relatório do Coaf que ficaram com a 24ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal.
Só estarão nesses inquéritos deputados estaduais não reeleitos. Policiais do Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro vão ajudar na análise dos Relatórios de Inteligência Financeira do Coaf, além de ouvir testemunhas e realizar diligências.
Os deputados estaduais reeleitos continuarão a ser investigados pelo procurador-geral de Justiça, em razão da continuarem com foro especial. O caso do gabinete de Flávio, que assumiu mandato no Senado, está sendo analisado na primeira instância, pela 25ª Promotoria de Investigação Penal, com auxílio do Grupo Especializado no Combate à Corrupção.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente