Participamos do

Quem são e onde estão os jovens eleitores do projeto Saia do Muro, do Unicef, 16 anos depois

Após 16 anos, Unicef reedita projeto voltado para formação política da juventude, em parceria com O POVO, MPT, TRE-CE e APDM-CE. Como estão hoje os então adolescentes que participaram do projeto?
19:00 | Set. 20, 2018
Autor Rubens Rodrigues
Foto do autor
Rubens Rodrigues Repórter do OPOVO
Ver perfil do autor
Tipo Notícia
Dezesseis anos separam as duas edições do projeto Saia do Muro, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). A iniciativa que incentiva a inclusão de adolescentes no debate político e o voto consciente surgiu em 2002, em um Brasil pós-ditadura militar e no ainda recente processo democrático. 
 
 
[FOTO1]
O projeto retornou em 2018 e quem participou da primeira vez já não é mais adolescente, se formou na universidade, votou e fez escolhas que apontam para diferentes caminhos. Iniciativa é parceria com O POVO, Ministério Público do Trabalho (MPT-CE), Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE) e Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Ceará (APDM-CE).
 

Então coordenador do projeto pelo Instituto de Juventude Contemporânea (IJC), Rodrigo Amaral lembra que o projeto surge em momentos conflituosos no País. "Havia uma ideia de que a juventude não queria participar dos debates e nós constatamos com o 'Saia do Muro' que isso não era verdade", afirma. Ele destaca que, na época, 48 mil estudantes estavam envolvidos no projeto.

 
[SAIBAMAIS]
Nascido em Juazeiro do Norte, o sociólogo e advogado Edson Ferreira, 32, comenta no resgate da organização política da juventude por meio do projeto. "Foi um momento que me possibilitou ter acesso à informação e conhecimento da história política da minha escola e da comunidade", afirma. "Me empoderou como sujeito político".
 
Política 
 
A família de Edson é de Farias Brito, município distante 457 km de Fortaleza. Enquanto adolescente, participou de programas de fortalecimento da juventude, como cursos de Liderança Juvenil. Ele se formou em Ciências Sociais na Universidade Regional do Cariri (Urca) e depois veio o interesse pelo Direito. 
 

"Foi justamente a minha militância no movimento estudantil secundarista que me levou a descobrir essa formação acadêmica. Hoje tenho atuação política partidária e em movimentos sociais", afirma o juazeirense hoje titular da Coordenadoria Estadual de Direitos Humanos do Partido dos Trabalhadores (PT).
 

"Dialogar com a juventude é caminho para resgatar a ideia de política e também para transformá-la. É importante mostrar que a solução só se dá pela democracia e que a política vai além de um cenário de corrupção atrelada a ela hoje no Brasil", pondera.
 
Direitos humanos 
 
A advogada Rose Marques, 32, era estudante da rede pública quando viu a oportunidade de participar das atividades do 'Saia do Muro'. Com passagens por grêmio estudantil e pela Pastoral da Juventude, tinha a vivência política na rotina. Na época, participou do Tendas da Juventude, culminando em um encontro de elaboração de propostas que seriam entregues ao governador eleito, Lúcio Alcântara.
 

"Foi uma primeira experiência mais política pra além daquela atuação local, e foi fundamental para o que viria depois", conta. "Não só de influenciar no exercício da minha profissão mas também de criar uma consciência política, cidadã a partir dessa vivência com outros jovens. Passar por qualquer processo de formação política impacta muito na tomada de consciência do mundo. Todas as minhas escolhas profissionais partiram disso". 
 

Rose atua no campo dos direitos humanos e nunca optou pela formação para o meio corporativo. Para ela, a profissão precisava estar engajado na melhoria de vida da sociedade. "Sou feminista, trabalhei em várias experiências com a política de mulheres. Meu campo de estudo e de trabalho também é a questão do enfrentamento da violência contra a mulher. As temáticas dos Direitos Humanos são estratégias de fazer dessa profissão algo que impacta na vida das pessoas e não que favoreça o poder econômico ou a desigualdade".
 

Para ela, trazer de volta esse processo de educação política a partir do 'Saia do Muro' é oportunidade de resgatar o debate com mais cuidado, mostrando que é possível fazer leitura política contrária à desilusão. "Essa leitura crítica das estruturas, das relações de poder, de entender os sujeitos e as identidades foi também para mim um processo muito importante. De entender que há uma grande pluralidade nas expressões de ser jovem", continua. "Naquela época pra gente era uma descoberta de outras realidades. Hoje o cenário é mais complexo tanto do ponto de vista socioeconômico como na leitura política das pessoas. Há um fenômeno em que as pessoas transformam a política em espaço para ideias racistas, homofóbicos, machistas. O absurdo tá despudorado no mundo político".
 
Políticas públicas 
 
Formada em Letras, Hanoy Barroso, 37, é hoje articuladora de políticas públicas na Coordenadoria da Juventude do Estado do Ceará. Em 2002, era estudante da rede pública na periferia, do bairro Carlito Pamplona. Foi do grêmio estudantil e sabia que o debate político na adolescência seria uma forma de reanimar uma juventude talvez não muito contente com o cenário.
 

“A política era vista como distante e exclusiva. É importante ter essa noção de que os adolescentes não devem ser contaminados com a pouca fé e falta de informação sobre como funciona o cenário político. É preciso ter protagonismo”, diz. “Discutir política deságua em outros processos. Eu participava do jornalzinho da esola, do Conselho Escolar. Estava em atividade com os movimentos sociais mesmo depois que saí da escola. Virei educadora e hoje tô no Governo. O Saia do Muro foi o primeiro passo para minha a formação e emancipação política”.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente