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Grampos indicam que Aécio negociou entrevista de Temer na TV Record

A emissora teria pedido ao então senador para conversar com o ministro Moreira Franco, que faria o intermédio para conseguir patrocínio da Caixa Econômica Federal
15:04 | Jun. 02, 2017
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Conversas interceptadas pela Polícia Federal (PF) entre o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral de Governo) e o executivo da TV Record Douglas Tavolaro indicam negociação de uma entrevista com o presidente Michel Temer (PMDB) em troca de patrocínio da Caixa Econômica Federal. A informação é do portal BuzzFeed News.

 

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O telefone de Aécio estava grampeado pela PF porque ele foi flagrado, em outra ocasião, pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS.

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Tratam-se de três diálogos, realizados no dia 19 de abril, que acontecem em cerca de 10 minutos no total.O primeiro é entre Aécio e Tavolaro, sobrinho do bispo Edir Macedo e vice-presidente de jornalismo da Record. Eles tratam de uma entrevista com Temer. O executivo pede ao então senador para falar com Moreira Franco.

 

Aécio desliga o telefone e liga para Moreira Franco, ao que ele responde que já tinha encaminhado a demanda da emissora. Em seguida, Aécio retorna para o executivo da Record e o pede para procurar Moreira Franco.

 

Tratava-se, segundo o BuzzFeed, de um pedido de patrocínio da Record à Caixa — que foi negado pela área técnica do banco. A entrevista da Record com Temer não foi realizada.

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Leia os diálogos, divulgados pelo BuzzFeed:

 

1. Aécio Neves e Douglas Tavolaro, às 19h57min do dia 19 de abril de 2017

Tavolaro - O Moreira me ligou no celular duas vezes. Eu já deduzo qual seja o assunto. Antes de falar com ele, eu queria alinhar com você para entender. Ele ligou para o nosso presidente também e pediu para gente tentar colocar nosso número 1 numas entrevistas. Eles estão agora com essa estratégia de comunicação, de colocá-lo para falar. Eu acho que ele me ligou para me pedir isso. E eu estou muito sem graça de falar com ele. Eu vou ter que passar isso para cima e a situação está parada. Eu não sei você quer ajudar a intermediar isso, ligar para ele..


Aécio - Eu até te mandei uma mensagem ontem.


Tavolaro - Que você ia chamar o pessoal lá


Aécio - É, falei com ele próprio, que isso era um absurdo. Ele até esculhambou o cara, falou que era um idiota, que ia chamar ele aqui hoje ainda para dar o comando. Eu como tinha esse evento aqui, eu acabei não indo a Brasília. Você não tem como empurrar um pouquinho ou pelo menos ouvir o que ele tem para dizer...


Tavolaro - Eu só não dou retorno porque se eu retornar, ele vai pedir.


Aécio - Vai ficar chato para você


Tavolaro – O presidente não vai conseguir fazer. Eu já tenho o retorno, já. Entendeu? O nosso presidente [da Record] aqui não vai conseguir fazer. Só tem um jeito de sair. Se tiver uma coisa, entendeu? Eu acho inteligente a estratégia deles, diminui o impacto.


Aécio - Deixa eu tentar mesmo por telefone intermediar novamente isso e te ligo.


Tavolaro – Se você quiser, na minha opinião, fala como desentendido para saber.


Aécio - Com o próprio Moreira, ne?


Tavolaro - É, como uma intermediação. Eu nunca falei com ele até agora.


Aécio - Eu acho até que nos fortalece realmente mutuamente. Eles ficam sabendo que o canal é aqui e me dá mais força para resolver. Pode ser uma boa estratégia nossa.

 

2. Aécio Neves e Moreira Franco, às 20h05min do dia 19 de abril de 2017

Aécio - Deixa eu te falar, Moreira. É uma questão que corre no paralelo das questões que você está cuidando. Eu cheguei a falar com o presidente algumas vezes do assunto da Record. Você está a par disso? Do assunto do... número 1 lá.


Moreira - Tratei disso hoje. Já liguei para o Douglas e não consegui falar ainda. Liguei três vezes. Você que é amigo dele…


Aécio - É aquelas coisas que não precisa falar por telefone. Mas você entrou nesse circuito com o cara da Caixa?


Moreira - Já entrei. Entrei hoje. Peça para ele me ligar.


Aécio - Isso vale a pena.

 

3. Aécio Neves e Douglas Tavolaro, às 20h07min do dia 19 de abril de 2017

Aécio - Liguei para ele (Moreira) direto e falei que eu to num constrangimento enorme. Aí eu inverti e falei “liguei para o pessoal lá, até para pedir uma gentileza… dos jornalistas e ele (Douglas Tavolaro) me cobrou com todas as letras, não teve nenhuma resposta ainda de um assunto que eu tratei direto com o presidente e eu imagino que o presidente tenha tratado com você (Moreira) lá na Caixa e não tiveram uma resposta. Aí ele (Moreira) falou 'é sobre esse assunto que eu quero falar com ele também'. Isso andou? Aí ele (Moreira): andou, tentei falar com ele hoje duas ou três vezes e não consegui. Peça para ele (Douglas Tavolaro) me ligar. E brincou, “vi que ele (Douglas Tavolaro) é seu amigo”. E é mesmo, e está constrangido de ligar para você (Moreira), você pedir outra coisa e ele (Douglas Tavolaro) ia ter que te dizer não. Ele (Douglas Tavolaro) recebe ordens. Tem toda a boa vontade, mas não é o dono. Eu estou com esse compromisso, estou constrangido com eles. Aí ele (Moreira) falou, 'peça por favor para ele (Douglas Tavolaro) me ligar'. Deixa passar hoje para não parecer tanta ansiedade. E ai você (Douglas Tavolaro) liga amanha de manhã, fala que recebeu o recado. E aí me liga em seguida para ver se é mais uma embromação e se eles realmente entraram no circuito. Eu disse a ele (Moreira Franco) o seguinte: é o assunto Caixa, o assunto paralelo, que nada tem a ver com o que você está tratando.


Tavolaro - Ele tá juntando num pacote. Não tem problema. Se ele juntar o pacote e sair, eu agito o nosso cá, entendeu? Porque eu acho importante a estratégia dele.


Aécio
- Eu acho bom que a gente faça esse canal porque eu fico com mais autoridade, inclusive do número 1. E ele vai saber que as coisas só vão andar se for por aqui. Porque ele não vai cobrar, ele vai ficar naquela de que está fazendo para todo mundo. E eu só tenho esse compromisso com você, tenho como priorizar com mais rigor.

 

O outro lado

Leia as notas de explicação dos envolvidos.

 

Aécio Neves: "São conversas particulares, descartadas pelas autoridades exatamente por não terem qualquer relação com fatos investigados. Os mais de 1 mil diálogos privados equivocadamente distribuídos a jornalistas tiveram seu sigilo novamente determinado pelo ministro Fachin, em razão das garantias constitucionais dadas a todos os não investigados. Não cabe, portanto, comentários sobre os mesmos".

 

Palácio do Planalto: Informou que não tem conhecimento do pedido de Aécio a Temer sobre o patrocínio à Record nem sobre a atuação de Moreira Franco.

 

TV Record: “Houve uma solicitação de entrevista com o presidente Michel Temer e a Record TV queria ter a exclusividade e prioridade, naquele momento, e não foi atendida. O Vice-Presidente de jornalismo, Douglas Tavolaro, trabalhava com suas fontes para conseguir as informações e a primazia. O Planalto estava decidindo, através de outra estratégia, de colocar o Presidente para falar, quase simultaneamente, com todos os veículos, como de fato aconteceu com várias emissoras de TV, rádio, jornais e sites. Por mais que o vice-presidente de jornalismo da Record TV tenha elogiado a estratégia, ele defendeu, junto a suas fontes, o desejo de falar primeiro e exclusivamente com o Presidente. Como o Palácio do Planalto optou por outro formato, a Record TV decidiu não fazer a entrevista. Com relação a Caixa Econômica Federal, é um cliente histórico da emissora e o Departamento Comercial da Record TV trata diretamente com a Instituição e seus representantes publicitários, como acontece em qualquer outro veículo de comunicação. O sigilo das relações entre um jornalista e sua fonte são resguardadas pela Constituição Brasileira. O artigo 5º inciso XIV da Constituição diz que “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.

 

Caixa Econômica Federal: "O ministro Moreira Franco solicitou à CAIXA uma avaliação a respeito da possibilidade de patrocínio ao Grupo Record, que não foi atendido por não se enquadrar na política de patrocínio do banco".

Redação O POVO Online

 

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