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Áudios revelam atuação de ex-funcionários em investigação na Eletronuclear

Os áudios revelam que os dois funcionários da estatal montaram uma espécie de quartel general em uma empresa contratada pela Eletronuclear após o afastamento de suas atividades
10:20 | Jul. 08, 2016
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Tipo Notícia
O ex-superintendente de construção da Eletronuclear José Eduardo Brayner Costa Mattos, e Luiz Messias, ex-superintendente de gerenciamento de empreendimentos, presos na quarta-feira. 6, na Operação Pripyat, foram interceptados em ligações telefônicas as quais o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso. Os áudios revelam que os dois funcionários da estatal montaram uma espécie de quartel general em uma empresa contratada pela Eletronuclear após o afastamento de suas atividades.

Além dos dois, outras oito pessoas foram presas durante a operação de quarta-feira, dia 6, entre elas o vice-almirante reformado Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, que já havia sido preso pela Lava Jato no ano passado e estava em prisão domiciliar desde dezembro.

A Operação Pripyat, desdobramento da Lava Jato no Rio, investiga o pagamento de propina que podem chegar a mais de R$ 48 milhões nas obras da Usina Nuclear Angra 3, investimento de R$ 17 bilhões no litoral sul do Rio.

As escutas mostram que, com ajuda de funcionários, Costa Mattos e Messias faziam um pente-fino nas respostas que seriam enviadas por suas equipes ao Tribunal de Contas da União (TCU), interferindo em documentos internos da estatal. O posicionamento para o TCU ocorreu em face a irregularidades apontadas pelo órgão na construção de Angra 3.

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Costa Mattos teve acesso bloqueado a suas salas na Eletrobras e Angra 3, mas um dia após seu afastamento foi interceptada ligação telefônica com seu motorista, tratado como "Borel", na qual ele afirma que estava retirando uma pasta e um computador da Eletronuclear. "Vou descer e pegar o computador e minha pasta", disse. Depois fala: "Quando você estiver na garagem, me avisa que eu desço e pego. Eu vou só pegar o computador e minha bolsa, o resto deixo lá".

 

Empresas

Nas interceptações telefônicas, foi constatada uma relação suspeita de Costa Mattos e Luiz Messias com as empresas Marte Engenharia e Logos Engenharia. Messias também foi afastado de suas funções.

As investigações mostram que eles mantinham uma sala na Logos. Em um áudio, Costa Mattos liga para um interlocutor identificado como Fred, apontado como funcionário da Eletronuclear em Angra 3. O ex-superintendente da estatal diz: "Realmente nós vamos montar um esquema segunda-feira lá na Logos, tá?". Em outro áudio, acrescenta: "Vamos trabalhar na Arcade Logos, para tentar (...) fechar o melhor possível para o TCU".

Segundo as investigações, Costa Mattos teria feito um pente-fino nas respostas que seriam enviadas para o TCU, mesmo após seu afastamento. Todas as respostas teriam que passar pelo QG montado na Logos com Messias.

Em outra conversa, desta vez com Edson Medeiros, outro funcionário da Eletronuclear, Costa Mattos é questionado sobre o pente fino. Medeiros diz: "Parece que tem uma orientação sua para não passar nada para frente". Ele responde: "Não, porque segunda-feira vamos fazer um filtro lá na Logos, entendeu?".

 

Afastamento

Responsável direto pela obra em Angra 3, Costa Mattos foi afastado no dia 14 de abril de 2016 pelo Conselho de Administração da Eletrobras. O motivo foram indícios de que ele estaria dificultando a investigação interna realizada pela empresa contratada Hogan Lovells.

Messias, que era superior direto de Costa Mattos, foi afastado no mesmo dia. Além de impedir as investigações, também saiu da função por indícios de que estaria coagindo pessoas que prestavam depoimentos.

A Logos Engenharia e a Marte Engenharia foram contratadas em 2010 pela Eletronuclear, sendo que a primeira assinou contrato de R$ 100,5 milhões e a segunda de R$ 1,4 milhão para projetos em Angra 3. Após o afastamento de Costa Mattos e Messias, a relação com a Logos se mostra "mais intensa", segundo as investigações.

Os dois teriam procurado um meio de continuar suas atividades, com preocupação em elaborar respostas para o TCU. Costa Mattos foi citado nas delações premiadas de Flávio Barra e Clóvis Primo, como sendo um dos diretores a receber propinas. O material obtido pela reportagem mostra ainda que os dois teriam liquidado patrimônio após afastamento de suas atividades.

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