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Cerveró apontou propinas de mais de meio bilhão de reais desde 2002

O valor mais alto se refere à aquisição pela Petrobras, em 2002, da empresa petrolífera argentina Pérez Companc. O negócio rendeu US$ 100 milhões em propina para integrantes do governo FHC
14:41 | Jun. 06, 2016
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Tipo Notícia
O ex-diretor internacional da Petrobras Nestor Cerveró relatou o pagamento de pelo menos R$ 564,1 milhões em propina envolvendo negócios da estatal e da subsidiária BR Distribuidora. Na delação premiada, ainda são citados nominalmente 11 políticos como beneficiários dos desvios. A cifra deve ser ainda maior porque não há informação de quanto foi pago em propina em parte dos negócios com irregularidades.

Segundo Cerveró, o valor mais alto se refere à aquisição pela Petrobras, em 2002, da empresa petrolífera argentina Pérez Companc. O negócio rendeu US$ 100 milhões em propina para integrantes do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Em 2007, a venda da Transener, principal linha de energia que liga a Argentina de norte a sul e que era da Pérez Companc, rendeu pelo menos US$ 300 mil (R$ 1,06 milhão) para Cerveró e outros US$ 300 mil para o lobista Fernando Antônio Falcão Soares, mais conhecido como Fernando Baiano. Segundo Cerveró, no entanto, a maior parte da propina ficou na Argentina.

De acordo com o ex-diretor da Petrobras, a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, rendeu US$ 15 milhões (R$ 53,1 milhões) em propina para o ex-senador Delcídio Amaral, Fernando Baiano e o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, entre outros. Mais R$ 4 milhões foram pagos a Delcídio em razão da reforma da refinaria.

Em 2014, o Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que Pasadena causou um prejuízo de US$ 792,3 milhões (R$ 2,804 bilhões) à Petrobras. A aquisição de sondas levou ao pagamento de pelo menos US$ 24 milhões (R$ 84,96 milhões) em propina. Cerveró apontou como beneficiários o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e Delcídio, entre outros.

[SAIBAMAIS 2] Segundo Cerveró, a compra de blocos de petróleo em Angola gerou propinas de R$ 40 milhões a R$ 50 milhões para a campanha presidencial do PT de 2006, quando Lula era candidato à reeleição. Cerveró citou propinas de pelo menos R$ 26 milhões para Fernando Collor envolvendo negócios da BR Distribuidora. Também falou de propina para a campanha de alguns petistas, como Jaques Wagner, em 2006.

Política
Além de propinas, Cerveró mencionou a interferência da ex-ministra Ideli Salvatti para que a BR Distribuidora renegociasse uma dívida de R$ 90 milhões que a transportadora Dalçoquio tinha com a estatal.

Também há menção do prejuízo de US$ 40 milhões (R$ 141,6 milhões) com a interrupção da obra da fábrica de lubrificantes em Duque de Caxias (RJ). Cerveró disse ainda que o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão ordenou o fundo de pensão da estatal, Petros, a investir no Banco BVA, que viria a falir.

Defesa
O ex-presidente Fernando Henrique soltou nota defendendo o ex-presidente da estatal Francisco Gros. “Na época o presidente da Petrobras era Francisco Gros, pessoa de reputação ilibada e sem qualquer ligação politico partidária. Afirmações vagas como essa, que se referem genericamente a um período no qual eu era presidente e a um ex-presidente da Petrobras já falecido, sem especificar pessoas envolvidas, servem apenas para confundir e não trazem elementos que permitam verificação”.

O Instituto Lula negou todas as acusações vindas de Cerveró, assim como o ex-ministro Jaques Wagner. Os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e o afastado da Câmara, Eduardo Cunha, negaram ter recebido quaisquer vantagens indevidas. Os senadores Jader Barbalho e Edison Lobão também negam.
O senador Fernando Collor disse repudiar “os termos da delação que são absolutamente inverídicos”. Ideli Salvatti disse que Cerveró “mente em todas as suas declarações”. Apesar de ter feito delação premiada, o ex-senador Delcídio Amaral afirmou à Polícia Federal não ter recebido propinas.

Redação O POVO Online

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