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Oposicionistas criticam saída de Cardozo da Justiça e falam em 'mordaça'

17:20 | Fev. 29, 2016
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Tipo Notícia
Representantes de partidos de oposição na Câmara criticaram, nesta segunda-feira, 29, a saída de José Eduardo Cardozo do Ministério da Justiça. Para os líderes dos principais partidos oposicionistas na Casa, a mudança na Esplanada dos Ministérios é fruto de pressão exercida pelo PT e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o objetivo de preservar figuras importantes da sigla que estão na mira da Operação Lava Jato e transformar a Polícia Federal em polícia política.

"O que o PT e Lula querem é que o ministro da Justiça controle as atividades da Polícia Federal e as investigações que atingem membros do governo e do partido. Sem ter como se explicar, os investigados querem impor uma mordaça aos investigadores", disse por meio de nota o líder da bancada tucana na Casa, Antonio Imbassahy (BA).

Imbassahy afirmou que a saída de Cardozo ocorre logo após críticas públicas de Lula a atuação da PF e do Ministério Público durante o aniversário do PT. "A pressão do PT sobre Cardozo tornou-se notória, tanto que o ministro se utilizava do cargo para, indevidamente, sair em defesa do PT e da campanha petista à reeleição, investigada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Agora, com o cerco se fechando contra o ex-presidente Lula, que não tem respostas às investigações que apuram se ele é dono oculto de um tríplex no Guarujá e de um sítio em Atibaia, a cobrança sobre o ministro deve ter aumentado de intensidade", disse.

Em entrevista na tarde desta segunda-feira, o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), afirmou que a PF vinha atuando com independência na Operação Lava Jato e elogiou Cardozo por não fazer ingerência nas investigações. Ele se disse, ainda, preocupado com a possibilidade de cerceamento das investigações e possível corte no orçamento da PF.

"Vamos denunciar aqui se houver qualquer tipo de cerceamento de investigação pela via da sufocação orçamentária, fazer as operações da PF minguar por falta de verba", declarou.

Tanto Pauderney quanto Imbassahy afirmaram que a saída de Cardozo é uma sinalização ruim para a sociedade e enfraquece ainda mais a autoridade da presidente Dilma Rousseff.

Interferência

"É inadmissível e condenável qualquer tentativa de interferência nas atividades da Polícia Federal e da Justiça, que prestam hoje um extraordinário serviço à sociedade ao expor os esqueletos que o PT quis esconder. Agora, resta saber se a presidente Dilma mentiu mais uma vez as brasileiros, ao dizer que não governa só para o PT", afirmou Imbassahy.

Por meio de nota, o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), ressaltou que a saída de Cardozo ocorre às vésperas do depoimento da família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Ministério Público, quando devem dar explicações sobre o apartamento tríplex no Guarujá, litoral sul de São Paulo, e o sítio de Atibaia, no interior de São Paulo.

"No PT, a lógica é inversa: quem está atrás das grades ou na iminência de parar lá é tratado como herói. Já quem se posiciona no sentido de cumprir a lei, que parece ser o caso do atual ministro, é alvo de pressões políticas para deixar o cargo. Ou seja, estamos diante de uma ação do partido de Dilma para cortar a cabeça de Cardozo e transformar a PF em um órgão político", comentou Bueno.

O presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), acredita que há um processo de implosão do partido da presidente Dilma Rousseff. "No PT, as coisas funcionam assim: Aos que não cumprem a ordem do rei, forca! É possível que o ministro não tenha aguentado a pressão da ala do PT, simpatizante de Lula, para que o partido tenha mais influência sobre a Polícia Federal e trabalhe para inocentar Lula", opinou.

Paulinho da Força, como é conhecido, disse que a mudança na Esplanada pode impulsionar o processo de impeachment. "A oposição está vigilante a mais uma manobra criminosa do PT. Se Dilma permitir isso, o impeachment ganha mais força. Não vamos aceitar que um partido político trabalhe para livrar o Lula e a Dilma", afirmou em nota.

'Desgaste natural'

Deputados federais do PT minimizaram a saída de Cardozo do Ministério da Justiça, oficializada nesta segunda-feira pelo Palácio do Planalto. Para petistas, é "natural" que o ministro tenha pedido para deixar o cargo, após quase seis anos no cargo que lhe rendeu um "desgaste natural".

Cardozo teria decidido deixar o governo após sofrer pressão por parte de uma ala do PT. A pressão se intensificou nos últimos dias, após rumores de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria alvo de quebra de sigilos bancário, telefônico e fiscal no âmbito da Operação Lava Jato.

"Ele já vinha manifestando vontade de sair. Isso é natural, já que estava lá há muito tempo (desde 2011)", avaliou Wadih Damous (PT-RJ), um dos petistas apontado por fazer pressão pela saída de Cardozo nos bastidores. "É uma mudança necessária, na medida em que ele estava querendo sair", emendou o deputado.

Para Damous, a saída de Cardozo não deve prejudicar o andamento da Operação Lava Jato, pois, segundo ele, não há nada que o ministro da Justiça possa fazer para conter investigações feitas pelo Judiciário. O deputado afirmou não conhecer o novo ministro da Justiça, Wellington César, mas disse ter ouvido "elogios" de juristas ao novo chefe da Pasta.

Damous ainda negou que tenha havido por parte dele um movimento articulado de pressão para saída de Cardozo. "Se fizeram, fizeram sem meu conhecimento", alegou. O parlamentar ponderou, contudo, que "todo homem público está sujeito a críticas e elogios". "Eu pessoalmente acho ele um bom ministro", afirmou.

"O ministro entendeu que fechou um ciclo. Tem um desgaste natural, mas ele cumpriu bem sua função e suas atribuições", afirmou o deputado federal Leo de Brito (PT-AC). Para o parlamentar, como Cardozo irá para a Advocacia Geral da União (AGU), no lugar de Luís Inácio Adams, não deve haver "prejuízo" para o governo.

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Afonso Florence (BA), por sua vez, minimizou a insatisfação de seus correligionários com o ex-ministro da Justiça. "José Eduardo respeitou a autonomia da Polícia Federal. O ministro da Justiça vinha exercendo suas atribuições de forma republicana", afirmou Florence.

Questionado se a dança das cadeiras oficializada pelo Planalto satisfazia os parlamentares petistas, ele negou pressão. "A bancada não tem que se sentir contemplada, agraciada", disse o líder.

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