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Após abertura do processo de impeachment, Mercado financeiro aposta em nervosismo

09:25 | 03/12/2015
A expectativa no mercado financeiro diante da abertura processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff é de uma reação nervosa dos investidores no curto prazo. Embora a presidente enfrente hoje resistência do mercado, que avalia negativamente a condução da economia, a falta de perspectivas concretas sobre o desfecho do processo no Congresso Nacional é um componente que, na opinião de especialistas, deve causar turbulências.

A leitura é que os investidores estrangeiros se mantenham em "stand by" até que o cenário de consolide para um dos lados. "A crise é mais política do que econômica. É preciso restabelecer o longo prazo no Brasil, e isso é a política que estabelece", avalia André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

"As dúvidas sobre um eventual próximo governo podem levar a uma alta do dólar e queda da bolsa em um primeiro momento, mas a leitura do mercado deve ser positiva no médio prazo", conclui Perfeito.

A opinião do ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central e atual sócio da Schwartsman & Associados, Alexandre Schwartsman, é semelhante. "Vai ser um dia negativo para o mercado. O dólar deve abrir para cima", afirmou o economista.

Perguntado se a saída da presidente Dilma restabeleceria a confiança do mercado, tomando como verdade que a crise brasileira é mais de caráter político que econômico, o ex-diretor do BC disse que a crise de confiança é em relação à presidente.

'Sangrando'

Para Roberto Luis Troster, doutor em economia pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e ex-economista chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), independentemente da decisão final, para um lado ou para o outro, o fim da indefinição será um fator positiva.

"Estamos sangrando desde o começo do ano. Não é uma questão de tirar o presidente da República. É a questão de se definir qual é a política econômica. A decisão do impeachment pode acabar com este impasse, onde de se tem uma política que, de um lado se gasta com a compra de aviões supersônicos da Suécia, e do outro se quer criar mais impostos", afirmou.

Perfeito ressalta, porém, que a consolidação de um cenário de queda da presidente também viria cercada de dúvidas. "O mercado não sabe ainda quem é o interlocutor econômico do PMDB e qual o projeto no caso de assumir o Temer".

Na noite de ontem, ao deixar o Ministério da Fazenda, Joaquim Levy evitou comentar o pedido de abertura de impeachment da presidente Dilma Rousseff. "Esse não é um tema econômico", disse, ao ser questionado por jornalistas sobre o assunto.

A reação inicial dos ativos brasileiros negociados em Nova York após o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, deflagrar o pedido de impeachment de Dilma foi positiva. O maior fundo de índice relacionado ao país, ou ETF (na sigla em inglês), conhecido como EWZ e com patrimônio de US$ 1,7 bilhão, operava em alta de 0,11% no after market no final da noite.

Outro fundo de índice ligado ao Brasil, o Direxion Daily Brazil Bull 3X Shares, subia 0,68%. Entre os American Depositary Receipts (ADRs), que representam recibos de ações de companhias brasileiras e são listados nas bolsas em Nova York, o papel da Petrobras subia 1,61%. A ação do Banco do Brasil ganhava 1,67% e a da Eletrobras tinha alta de 7%. No setor privado, o papel da mineradora Vale subia 0,31%.

Economia real

Para o chefe da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor de Política Monetária do BC, Carlos Thadeu de Freitas, a economia real será mais afetada com a decisão do presidente da Câmara.

Segundo ele, o mercado financeiro já havia colocado nos preços a possibilidade de, em algum momento, Cunha acatar pelo menos um dos vários pedidos de impeachment que chegaram às suas mãos. "O mercado já havia precificado esta possibilidade, a taxa de juros neste patamar tem permitido a entrada de dólares no País mesmo com a situação econômica e, agora, pesa a favor a aprovação da meta fiscal", disse o ex-diretor do BC.

Segundo Freitas, no entanto, a incerteza tende a aumentar na economia real, porque o empresário não sabe como, numa eventual saída de Dilma, será o comportamento do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP) com relação aos juros.

"Temer, caso venha a assumir a Presidência, não deve fazer grandes alterações na área fiscal, por exemplo. Mas com relação a juros, não se sabe como ele pensa. Então, o empresário que estava começando a pensar em investir poderá desistir. O consumidor, mesmo com a chegada do Natal, também pode desistir de comprar", afirmou.

Para o presidente do Sindicato da Construção de São Paulo (Sinduscon-SP), José Romeu Ferraz Neto, o problema não é a saída ou não de Dilma, mas a falta de um direcionamento no País e um impasse político que tem travado os investimentos.

"O que tiver de acontecer, que seja rápido para reverter o momento de impasse", afirmou. "O sentimento de indefinição política está prejudicando o País, travando os investimentos e a economia." Colaboraram Valmar Hupsel Filho, Altamiro Silva Júnior e Lucas Hirata. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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