Senadores costuram pacto pela governabilidade para se contrapor à Câmara
Lideranças do Senado do PMDB, do PSDB, do PT e de outros partidos intensificaram as conversas a fim de circunscrever à crise as iniciativas tomadas pela Câmara, presidida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O peemedebista rompeu no mês passado com o Palácio do Planalto na esteira da divulgação de uma delação premiada na Operação Lava Jato que o implicou pessoalmente. Ele acusa o governo de estar por trás do caso.
Um dos principais gestos ocorreu na terça-feira, 4, em jantar promovido pelo senador e empresário Tasso Jereissati (PSDB-CE) com a presença de integrantes da cúpula do seu partido e do PMDB, como o senadores Aécio Neves (PSDB-MG), José Serra (PSDB-SP), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o líder do PMDB na Casa, Eunício Oliveira (CE) e o senador Romero Jucá (PMDB-RR).
No encontro, segundo relatos de participantes, ficou acertado que os senadores vão criar um "cordão de isolamento" para impedir a aprovação de pautas-bomba pelos deputados. Renan chegou a propor que os senadores não podem permitir que o "País se destrua".
Senadores também têm tido conversas com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a fim de fechar uma agenda para o pós-ajuste. A ideia é buscar uma pauta de votações que pudesse "reanimar a economia", na afirmação sempre usada pelo senador Romero Jucá.
Temer
Ontem pela manhã foi a vez do articulador político e vice-presidente Michel Temer fazer um apelo aos líderes do Senado para impedir a votação de pautas-bomba. À tarde, pela primeira vez, Temer fez um apelo público aos partidos políticos para que juntos ajudem a superar o agravamento da crise.
A avaliação é que não é um pacto "pró-governo", mas sim para encontrar um rumo para a governabilidade. Os senadores consideram que a postura da Câmara - que hoje de madrugada aprovou uma proposta que vincula o reajuste salarial de servidores da AGU ao de ministros do STF - só tem atrapalhado no momento de incertezas na política e na economia. E que acabam por atingir a todos indiscriminadamente. O pacto não implicará, ao menos no momento, em um gesto único e público de todos os envolvidos, seja da base e da oposição.
"Que o Senado seja uma espécie de para-choque, um amortecedor dessas pautas que, sem dúvida nenhuma, não cabem no Brasil que vivemos hoje", disse o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS). "O Senado pode cumprir bem esse papel de ser um filtro de questões que não venham a ser positivas de serem aprovadas", completou o líder do PT na Casa, Humberto Costa (PE).
Ex-ministro de Dilma, o senador Fernando Bezerra (PSB-PE) conclamou os pares a assumirem "protagonismo maior" para superar as duas crises. "O Legislativo não pode usar, neste momento, da fraqueza do governo para destruir o País, tem que ter responsabilidade", afirmou o senador e empresário Blairo Maggi (PR-MT), hoje, ao defender que os colegas da Casa tentem, em suas falas, passar tranquilidade para o País e para o mercado de que não vão compactuar com o que a Câmara está fazendo. "Se querem colocar fogo no País, vão colocar lá, no tapete verde, naquele lado de lá, mas aqui nós temos que ser o bombeiro, nós devemos ser o bombeiro", completou.
Publicamente, a oposição deve continuar a criticar a falta de respaldo político e social de Dilma. Mas, nos bastidores, ao menos se comprometeram a não apoiar a votação de medidas que causem impacto fiscal.