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'Mercado persa' é comandado por Padilha no Planalto

08:50 | 19/05/2015
Noite de terça-feira, 12 de maio, Câmara em ebulição em razão das votações do ajuste fiscal. "Olha o tanto de ligações que já anotei para dar retorno", comenta um assessor por volta das 22h no 4º andar do Palácio do Planalto com outros três colegas. O local é a atual antessala do ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, novo inquilino do espaço destinado à extinta Secretaria de Relações Institucionais.

Da sala, o ministro se dedica a ouvir as demandas dos aliados feitas pessoalmente em um momento de discussões acaloradas.

A missão foi concedida ao ministro pelo vice-presidente Michel Temer, articulador político do governo. Para não ser interrompido pelas ligações, a maioria de parlamentares e até de alguns ministros, Padilha prefere deixar o aparelho celular aos cuidados do assessor, que tem ao alcance um bloquinho e uma caneta. Em meio às ligações, há um entra e sai do gabinete por onde passam de deputados do "baixo clero" a presidentes de partidos da base.

Com envelopes nas mãos, os políticos são recebidos na porta do gabinete pelo ministro que tem o cuidado de chamar cada um pelo nome. Cerca de meia hora depois saem com o semblante de satisfação. "Isso aqui é um verdadeiro mercado persa", brincou um outro ministro.

"O problema é que, num processo de total desconfiança com o governo, todos resolveram pedir tudo ao mesmo tempo", reclamou o presidente de um partido da base, após deixar o gabinete de Padilha, com uma pasta nas mãos. "Não posso mostrar", se esquivou, como se tivesse em mãos algo precioso.

O segredo em torno das negociações também faz parte das conversas. Isso porque muitas vezes estão em jogo espaços disputados por outras legendas, sempre interessadas em ampliar o seu quinhão ou não perder lugar no governo federal.

O principal foco dos partidos aliados tem sido conquistar estruturas que estão sob o guarda-chuva do ministério comandado pela própria legenda.

Cores

Para dirimir possíveis guerras entre aliados, foi criado um "mapa" com a divisão de cargos. A pasta, que carrega o simbolismo de poder ditar o ritmo da fidelidade dos aliados, fica sobre a mesa de Padilha, numa planilha dividida em três cores. Vermelho: inegociável. Amarelo: em negociação. Verde: negociado. "Hoje temos mais verde", disse Padilha no fim daquela noite de terça.

Mesmo após várias reuniões, Padilha realiza uma última ligação às 23h para o ministro da Previdência, Carlos Gabas. Quer tirar uma dúvida sobre a votação da Medida Provisória 664, que trata de benefícios previdenciários e iria a plenário no dia seguinte.

Após as explicações, ele se despede: "Tudo bem, meu doutor, desculpa estar incomodando nesta hora". Gabas responde: "Soldado não escolhe hora, você sabe que telefone nunca desligo, né!".

Além das negociações do segundo escalão, passou a ser rotina a realização do "petit déjeuner" na residência oficial do vice-presidente no dia de votações importantes. "É para desfazer os últimos focos de tensões", diz Padilha.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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