Denúncias da Lava Jato contra políticos mostram crimes em família
"O envolvimento de família em esquema de lavagem de dinheiro não é um fenômeno recente, é algo que reconhecido como uma tipologia internacional de lavagem de dinheiro há muito tempo. Familiares são escolhidos para fazer este tipo de tarefa, porque são pessoas de estreita confiança dos criminosos, e eles podem acreditar e confiar que aquelas pessoas não vão narrar estes crimes para frente, não vão confessar e reconhecer contra sua vontade", explica o procurador Deltan Dallagnol, que integra a força tarefa da Lava Jato.
Os ex-parlamentares são acusados de lavagem de dinheiro, corrupção e peculato. André Vargas é acusado também de organização criminosa. Ele tem 51 anos e é o mais velho dos três irmãos denunciados - Milton tem 49 anos e Leon, 47.
Segundo o Ministério Público Federal, entre 26 de outubro de 2010 e 2 de abril de 2014, após a deflagração da Operação Lava Jato, os três irmãos, o publicitário Ricardo Hoffmann e outras pessoas não identificadas, "de modo consciente, voluntário, estável e em comunhão de vontades, promoveram, constituíram e integraram, pessoalmente, uma organização criminosa que tinha por finalidade a prática de crimes de corrupção ativa e passiva em face da Caixa Econômica Federal e do Ministério da Saúde e a lavagem dos recursos financeiros auferidos desses crimes".
A Procuradoria aponta que, entre os meses de junho e dezembro de 2011, André Vargas foi pessoalmente por quatro vezes ao escritório do doleiro Alberto Youssef. Entre abril de 2013 e fevereiro de 2014, Leon Vargas visitou o local por 18 vezes. Milton Vargas esteve 6 vezes no escritório de Youssef, entre maio de 2013 e novembro de 2013.
Personagem central da Lava Jato, Alberto Youssef operava propina para o PP no esquema de corrupção instalado na Petrobrás e desbaratado pela força-tarefa de procuradores da República e delegados da Polícia Federal. O PP, o PT e o PMDB são suspeitos de lotear diretorias da Petrobrás para arrecadar entre 1% e 3% de propina em grandes contratos, mediante fraudes em licitações e conluio de agentes públicos com empreiteiras organizadas em cartel.
Pedro Corrêa, de 67 anos, e a filha Aline Corrêa, de 42, teriam sido beneficiários do esquema. Foram denunciados com eles outro filho de Pedro Corrêa, Fábio Corrêa de Oliveira Andrade Neto, de 43 anos, e Márcia Danzi Russo Corrêa de Oliveira, 40, nora do ex-deputado.
"Por isso, inclusive, nós vemos que das diversas pessoas que reconheceram a prática dos crimes, mesmo pessoas envolvidas, como por exemplo o assessor parlamentar que trabalhava no gabinete, num esquema comum com outras pessoas familiares", afirma Deltan Dallagnol.
"Esse ex-assessor reconheceu a prática dos crimes, enquanto os familiares não reconheceram. Essa é uma prática que vem de longa data, muito comum."
O investigado a quem o procurador se refere é o ex-assessor parlamentar de Pedro Corrêa, Ivan Vernon, de 61 anos, também denunciado. Ele chegou a ser preso temporariamente em abril, na mesma data que foi pedida a prisão do ex-deputado.
Na época das prisões, a comerciante Vera Lúcia Leite Sousa Shiba, dona de uma banca de jornal em Brasília, disse à Polícia Federal que a partir de 2006 trabalhou no gabinete de Pedro Corrêa. Em troca do emprego, ela afirmou que teve de fechar acordo com Ivan Vernon: repassava ao assessor de Pedro Corrêa metade de seus vencimentos.
"Além do recebimento de vantagens indevidas pessoalmente, Pedro Corrêa recebia a propina, no período compreendido entre 14 de maio de 2004 e 17 de março de 2014, por meio do comparecimento de emissários ao escritórios de Alberto Youssef na cidade de São Paulo, entre eles Fábio Corrêa e Márcia Danzi, em valores que giravam em torno de R$ 50 mil e R$ 200 mil por recebimento", diz a denúncia do Ministério Público Federal.
"Os registros de entrada no escritório de Alberto Youssef apontam que Fábio Corrêa realmente compareceu no local por pelo menos 33 vezes nas datas acima especificadas, para receber vantagens indevidas em nome de seu genitor", aponta a Procuradoria.
A denúncia da Procuradoria revela que em 28 de setembro de 2012 Pedro Corrêa, por meio de Fábio Corrêa, recebeu a quantia de R$ 35 mil no escritório de Youssef. Em 2 de outubro de 2012, o filho do ex-deputado teria recebido R$ 55 mil, e em 3 de outubro de 2012, R$ 35 mil.
"Em depoimento prestado em sede policial, Rafael Ângulo (entregador de dinheiro de Youssef e novo delator da Lava Jato) declarou que Fábio Corrêa foi várias vezes ao escritório de Alberto Youssef receber valores em espécie de Pedro Corrêa. Relatou, em acréscimo, que Fábio Corrêa apresentava contas para pagamentos e listas de pessoas físicas e jurídicas para que fossem creditados valores, ai incluída a conta corrente do escritório do próprio Fábio Corrêa e da empresa do cunhado Laudo Dalla Costa, a Dalla Costa Consultoria LTDA", afirma trecho da denúncia.
Ouvido na Polícia Federal, Fábio Corrêa alegou que não se recordava de ter comparecido ao escritório de Alberto Youssef em São Paulo, apesar de conhecer o doleiro. Márcia Danzi afirmou que não conhecia o doleiro.
A advogada de André Vargas não comentou a denúncia contra o ex-deputado.
Após a denúncia do Ministério Público Federal, o advogado de Pedro Corrêa, Marcus Vinícius Bernardes, afirmou que o ex-parlamentar 'vai prestar as declarações dele, no momento oportuno, quando forem realizados os depoimentos dele na Polícia Federal e principalmente perante o juízo'.
"O deputado já afirma que não fará nenhuma delação e nega qualquer tipo de acusação contra ele."
O escritório Arns de Oliveira & Andreazza, que defende Ivan Vernon, informou que comentará o caso na próxima semana.
Os advogados dos irmãos de André Vargas e dos filhos e da nora de Pedro Corrêa não foram localizados.