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Ano difícil para consolidar 3ª via na política brasileira

11:10 | 11/01/2015
O cansaço da população com a política expresso nas manifestações de 2013 e os 20 anos de polarização no cenário político nacional abriram espaço para a chamada "terceira via". Além de novos projetos de partido, surgiram iniciativas como a união de PSB, PPS, PV e Solidariedade em um bloco no Congresso. Especialistas consultados pelo Broadcast Político, serviço em tempo real da Agência Estado, no entanto, avaliam que 2015 não será um momento fácil para a consolidação das forças que tentam se contrapor ao PT e ao PSDB.

A Rede Sustentabilidade, iniciativa mais promissora dessa tendência, saiu enfraquecida das eleições deste ano, com a derrota de Marina Silva no pleito, avalia o professor do Insper e cientista político Humberto Dantas. "Marina se mostrou a pessoa que efetivamente é, carregada de uma dose de insegurança. Não estava confortável na disputa depois de partir para o sacrifício após a morte de Eduardo Campos", avalia Dantas, que ressalta ser difícil, no contexto político brasileiro, criar partidos ideológicos.

O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Jairo Nicolau, estudioso de partidos políticos no Brasil, pondera que Marina foi colocada em uma situação muito delicada e acabou vítima das circunstâncias, sem condição de enfrentar as poderosas máquinas petista e tucana. Ele também acredita que o sistema eleitoral e o contexto democrático brasileiro dificultam propostas como as da Rede e afirma que, em ano de turbulências na economia e na política, a situação pode ser ainda delicada para projetos ainda frágeis. "No atual cenário não adianta, não cabem mais legendas. Além de ser muito difícil de se firmar no Brasil, é difícil de virar um movimento de massas", afirmou.

Nicolau ressalta que é delicado fazer previsões para 2018, mas, se confirmada a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato, o mais provável é a manutenção da disputa central entre petistas e tucanos. "Não vejo no horizonte uma situação positiva para a terceira via, sobretudo se o Lula se confirmar como candidato. Aí acabou, volta a mesma coisa de PT versus PSDB."

Os estudiosos concordam que, no curto e médio prazos, a iniciativa do bloco liderado pelo PSB tem uma possibilidade maior de se firmar como força política alternativa que um novo partido como a Rede. "Hoje, com a nossa cultura política, esse é o caminho mais viável. É uma pista pavimentada, enquanto a Rede e partidos pequenos estão mais para um acostamento", avalia Dantas.

Nicolau afirma que uma prova da dificuldade de trazer novas ideias para um sistema político saturado de partidos é o histórico do PSOL, que nasceu como uma dissidência ideológica do PT. "Veja a realidade do PSOL, que tem presença forte em segmentos como o estudantil, mas não consegue se apresentar, ter candidaturas fortes. Vive uma década de desastre político", avalia.

Não significa que o bloco liderado pelo PSB não tenha falhas ou fragilidades. Dantas, do Insper, ressalta o desafio desses partidos de mostrar um lado mais propositivo, em meio ao modo de operar tradicional de legendas brasileiras, do toma lá, dá cá. "Entrar em uma sala com o Penna e com o Paulinho para falar de inovação na política ou terceira via parece brincadeira", disse em referência aos presidentes do PV, José Luiz Penna, e do Solidariedade, Paulinho da Força. Esse bloco ainda terá a dificuldade de se contrapor à máquina do governo e de não se confundir com o PSDB no processo, lembra Nicolau, da UFRJ.

Para ele, a força com maior potencial para se colocar no cenário político nacional seria o PMDB. A questão, nesse caso, é se a legenda terá disposição para deixar a tradição de fisiologismo. "Para mim, a terceira via tem nome e sobrenome: PMDB. Mas precisa ver se vai querer ou não desempenhar esse papel", disse Nicolau, ao avaliar que o partido tem uma estrutura constituída pelo País, recursos e até mesmo um nome promissor, na figura do prefeito carioca Eduardo Paes. "O problema no Brasil é que tem partido pequeno com liderança nacional e partido grande sem um grande nome", afirmou, ao lembrar da candidatura de Ciro Gomes à presidência pelo PPS, de Cristovam Buarque pelo PDT e, mais recentemente, do próprio Eduardo Campos pelo PSB.

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