Dilma manda mudar programas para incluir visitas a obras
A equipe de Santana já havia feito gravações de cenários em Belo Monte, mas sem Dilma, que depois visitou a obra. O plano inicial era mostrar a candidata do PT à reeleição falando sobre "avanços" sociais nas áreas de saúde (Mais Médicos) e educação (Pronatec, ProUni) "in loco", sempre tendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como garoto-propaganda do governo. Nos primeiros programas, no entanto, a presidente discorreria sobre as obras de infraestrutura dentro de um gabinete, com fundo verde - as imagens externas seriam adicionadas na edição no lugar da cor verde, com a técnica chamada chroma Key.
O modelo "favela cenográfica", utilizado sem sucesso pelo então candidato tucano José Serra ao Planalto em 2010, foi rejeitado pela presidente.
A ideia sempre foi a de "vender" a imagem de Dilma como gerente de grandes obras, mas ela não gostou do que viu e mandou Santana refazer o roteiro. Disse que não poderia discorrer sobre os avanços da área de infraestrutura sem estar no local e deixou produtores de vídeo à beira de um ataque de nervos. Motivo: a mudança atrasou o cronograma de gravações acertado para o começo do horário eleitoral.
"Não tem problema. Quem manda aqui sou eu!", afirmou Dilma, segundo relatos obtidos pelo jornal "O Estado de S. Paulo". Por causa da explosão da presidente, a estratégia foi alterada e a equipe - que antes gravava três vezes por semana - agora tem feito filmes diários, para acertar o ritmo de trabalho. A partir de terça-feira, Dilma terá 11 minutos e 24 segundos na propaganda do rádio e da TV para expor suas propostas, um tempo bem maior do que os de seus adversários Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).
Desde que a presidente mandou Santana mudar tudo, há cerca de duas semanas, ela já visitou três canteiros de obras, onde gravou cenas para o programa de TV. Acompanhada do marqueteiro, Dilma esteve no último dia 5 na usina hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, no Pará. Lá, subiu num mirante dedicado a ela, sem prévio aviso à empresa que administra a obra (Norte Energia), tirou fotos com os operários e almoçou com eles no refeitório.
Obras atrasadas
Três dias depois, a candidata do PT desembarcou em Iturama, na divisa dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, onde fez gravações e vistoriou obras atrasadas da Ferrovia Norte-Sul sobre o Rio Grande. Na manhã de terça-feira, 12, a presidente visitou um outro trecho da mesma obra, desta vez ligando Palmas (TO) a Anápolis (GO).
Na ferrovia, Dilma fez questão de comparar o avanço da obra da Norte-Sul durante a sua administração (2011-2014) e a do seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), às gestões anteriores. De acordo com seus números, entre o governo José Sarney (1985-1990) e o de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), foram construídos 205 quilômetros da ferrovia. "No governo do presidente Lula, no PAC, nós fizemos o trecho de Açailândia até Palmas, em torno de 500 e poucos quilômetros. Aí, nós continuamos até Ouro Verde de Goiás - as obras físicas, todas, foram concluídas em maio deste ano, 855 quilômetros."
Dilma iria nesta quinta-feira, 14, a Porto Velho (RO) gravar nas usinas de Santo Antônio e Jirau. Mas, pressionada pelo candidato do PT ao governo de Minas, Fernando Pimentel, decidiu ir a um encontro com formandos do Pronatec em Belo Horizonte. No sábado, a petista volta a gravar imagens, desta vez no canteiro de obras da transposição do Rio São Francisco em Cabrobó e Floresta, em Pernambuco.
A tensão no comitê de Dilma registrou um primeiro abalo no mês passado, quando uma desavença entre Santana e o jornalista Franklin Martins - também integrante do comitê da reeleição - agitou a campanha.
Ex-ministro da Comunicação do governo Lula, Martins é adepto de um estilo de disputa política agressivo, na linha "bateu, levou". Diferentemente, João Santana tem preferência por uma estratégia mais "light", que mostra a presidente como "rainha", que não entra no "jogo rasteiro".
Nos bastidores, auxiliares de Dilma contam ser comum ela se irritar e mudar gravações de pronunciamentos e programas na última hora. Exemplo disso é o programa semanal de rádio Café com a Presidenta, sempre gravado no domingo. Em várias ocasiões ela alterou o tema e mandou a equipe buscar ministros em casa para que lhe passassem informações que entrariam no ar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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