Ato contra crimes da ditadura reúne estudantes e índios
Com faixas contra o governador Sérgio Cabral (PMDB), o grupo da aldeia passou a gritar palavras de ordem durante os discursos de apoio à Comissão Nacional da Verdade e pelo esclarecimento e punição das torturas e desaparecimentos de presos políticos. Os defensores dos índios criticavam a presença de militantes do PC do B, partido que faz parte da base do governador: "Apoia a ditadura quem apoia o Cabral".
Os organizadores do ato contra a tortura reagiram. Houve bate-boca, empurra-empurra e por pouco manifestantes de um lado e de outro não partiram para o confronto físico. Finalmente conseguiram se entender e entoaram juntos "o povo unido jamais será vencido". O clima tenso, no entanto, não se desfez completamente. Somando os dois grupos de manifestantes, cerca de cem pessoas se reuniram na Cinelândia, com o reforço de uma militante do grupo Femen, que tem como marca registrada o protesto com seios à mostra.
O índio Anajé Aruak fez um discurso em que pediu atenção à causa e protestou: "Vários parentes indígenas foram assassinados durante a ditadura e ninguém fala disso". "A gente sempre participa de atos contra a ditadura, somos contra a ditadura do passado, mas também a do presente. O PCdoB participar (do governo Cabral e do protesto) é uma contradição. Eles nunca se pronunciaram sobre a Aldeia Maracanã", reclamou Fernando Soares, morador da favela de Manguinhos que se uniu à causa dos índios.
"Faz parte da democracia, nem todo mundo pensa igual. Temos que identificar nossos inimigos e eles não estão aqui neste ato. Também sou contra a retirada da Aldeia Maracanã, mas cada um tem que saber onde reivindicar o quê. Este é o momento de reivindicarmos nossos mortos e não de ver quem é mais ou menos revolucionário", disse o estudante de pedagogia Vinícius Musso, um dos militantes que levavam a bandeira do PCdoB.
Cartazes espalhados no chão exibiam imagens de vítimas da repressão. "Até hoje a família Angel não tem o corpo do Stuart para velar, prantear, enterrar. Aproveito para fazer deste manifesto um velório", disse a jornalista Hildegard Angel, irmã de Stuart Angel, um dos desaparecidos homenageados no ato público.
Ao contrário do ano passado, quando a manifestação contra a ditadura na Cinelândia coincidiu com um ato organizado por militares em comemoração ao movimento de 1964 e houve confronto entre manifestantes e PMs, desta vez não havia qualquer evento na sede central do Clube Militar. Estava previsto para o fim da tarde, na sede da Lagoa (zona sul), o lançamento do livro "Um caldeirão chamado 1964", do jornalista Aristóteles Drummond.