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Avaliação de especialistas em Mobilidade Urbana

05:00 | 26/08/2012
Das propostas apresentadas pelos candidatos, a de Elaborar o Plano Diretor de Mobilidade já prevista pelo Estatuto da Cidade é de extrema importância para a eficiência do sistema de transporte, se o mesmo for considerado como totalidade. Entretanto, é fundamental que ele realize a Integração dos modais do sistema de transporte metropolitano. A integração deve levar em conta a implantação do Bilhete único, permitindo ao usuário utilizar quantos ônibus forem necessários por mais de uma hora, pagando uma única tarifa. O bilhete único só cumpre sua função social se ele for capaz de integrar ônibus, metrô e VLT.

Quanto à Construção de ciclovias, salienta-se que não se concebe mais a o modelo atual. Ele simplesmente transforma a construção de ciclovias numa ação de contrapartida privada. Ciclovia é infra-estrutura de transporte para dar mais conforto, rapidez e agilidades aos seus usuários. Não pode e não deve ser concebida apenas como opção de passeio e lazer.

O BRS - Bus Rapid Service, com sistema de faixas exclusivas para ônibus tem oferecido bom desempenho nas cidades onde ela já foi implantado. Fortaleza experimenta o sistema na Avenida Bezerra de Menezes com resultados positivos.

A proposta de Transformação da avenida Perimetral em uma Via Expressa teria que ser muito discutida. Os trechos de maior demanda já foram alargados (Santana Júnior, Washington Soares e Rodovia 040, até Messejana. Transformá-la em via expressa na área do Antônio Bezerra, Barra do Ceará, Pirambu, Praia de Iracema, Meireles e Mucuripe exige um conjunto de obras de alto custo como túneis e viadutos que, certamente, encareceriam muito a obra, sem nenhuma garantia de resultados positivos pois teria que ser buscado solução para o tráfego local ao longo de toda extensão da Perimetral. caso ela fosse transformada em via expressa.

A proposta de fazer a alça expressa Mucuripe-Pirambu, consiste na execução de obras já previstas pela PMF.

A construção de um túnel na Praça Portugal teria que considerar o equilíbrio e a estética que aquela área da cidade mantém e apresenta.

A criação de três novos terminais de ônibus depende de sua localização e organização da malha coletora secundária. O candidato tem que dizer onde eles serão implantados para que seja discutida a conveniência de sua implantação.

A oferta de serviços públicos nos terminais é uma idéia que deve ser amadurecida. Gera comodidade mais também gera fluxo e refluxo de passageiros, aumentado s demanda pelos terminais. Qual é a função do Terminal: local de passagem ou local de permanência? Mediante a resposta dos usuários saber-se-á da conveniência ou não da oferta de serviços.
A Revitalização da Companhia de Transporte Coletivo, antiga CTC é muito bem vinda. Caso após sua revitalização ela se consolide, a prefeitura poderia pensar no fim de isenções e incentivos às empresas de transporte.
A proposta de alargamento de vias, túneis, viadutos e calçadas deve ser vista com certo cuidado. A prioridade é o serviço público de transporte coletivo eficiente e de qualidade.

Quanto a proposta de criação da Secretaria de Mobilidade Humana, creio que seria mais adequado substituir Humana por urbana.

José Borzacchiello da Silva, geógrafo e professor da Universidade Federal do Ceará

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A mobilidade, em termos gerais, pode ser definida como a capacidade de movimentar-se. E esta é uma ação cada vez mais difícil de ser realizada nos grandes centros urbanos, sobretudo quando não existem políticas pública orientadas nesse sentido. As principais cidades brasileiras, a exemplo de Fortaleza, vêm padecendo de um mal que poderia ser combatido com o esforço contínuo e conjunto do governo e da sociedade.

Sendo a Mobilidade Urbana a palavra de ordem do momento político atual, é pertinente uma breve análise das principais propostas dos candidatos à Prefeitura de Fortaleza, como forma de tentar esclarecer à população sobre o futuro da capital caso alguma das propostas seja efetivamente posta em prática nos próximos anos.

Das propostas até então apresentadas pelos candidatos, algumas delas, tais como a bilhetagem única, a oferta de serviços públicos nos terminais, a elaboração de planos de municipais de mobilidade, são possíveis de serem executadas no curto prazo, desde que haja vontade política e um adequado planejamento.

A outra maior parte das propostas somente torna-se viável, e de fato a serviço da população, a médio e, como é praxe, a longo (ou muito longo) prazo. Isso porque ações que necessitam de alterações na infraestrutura urbana, tais como a construção de túneis e viadutos e o alargamento de vias, exigem um esforço maior da cidade e, por consequência, da sua população, nem sempre disposta a enfrentar os desgastes e os transtornos que tais obras causam, principalmente por serem executadas sem um planejamento amplo, técnico e decente, e por levarem um tempo de execução sempre muito maior que o previsto.

Nenhuma das propostas é explícita diretamente, por exemplo, quanto ao desestímulo do uso do transporte particular/individual em regiões mais movimentadas da cidade nos horário de pico, ao incremento da fiscalização do tráfego para coibir as inúmeras infrações cometidas rotineiramente, ao aumento de linhas e da frota de coletivos para o atendimento mínimo da demanda de passageiros e a melhoria global da infraestrutura urbana existente.

Muito provavelmente os candidatos à Prefeitura de Fortaleza tenham a consciência de que proporcionar adequada e mínima mobilidade é uma ação essencial no processo de desenvolvimento urbano, econômico e social, e consequentemente na melhoria da qualidade de vida e do bem-estar da população. Talvez eles estejam esquecendo o principal: não é uma tarefa simples e individual, tampouco imediata. Definir objetivos compatíveis com a realidade da cidade e envolver a sociedade civil no planejamento da mobilidade urbana são etapas importantes nesse processo.

Heber Oliveira, mestre em Engenharia de Transportes e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor)
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POR UMA EFETIVA MOBILIDADE URBANA
Em tempo de eleições continuamente vemos vir a público, através do debate dos eleitoráveis, uma série de propostas que giram em torno dos principais problemas que assolam as grandes cidades, contudo, não significa dizer que tais questões são preocupações recentes no cotidiano da população.

A mobilidade é um desses temas que por várias razões, dentre estas, a reestruturação do espaço urbano de algumas das grandes cidades brasileiras, para atender as demandas de megaeventos esportivos, e ainda, os cada vez mais comuns congestionamentos de trânsito e suas consequências para a economia da cidade e principalmente, suas implicações na qualidade de vida do citadino, colocam em destaque sua discussão.

Pensada na maior parte das vezes a partir da infraestrutura implantada ou não no território, com destaque para a abertura de vias, construção de túneis, viadutos, etc, esta deve ser compreendida levando em consideração a produção do espaço urbano, que sendo reflexo das desigualdades sociais gera por consequência, desigualdades socioespaciais, com repercussões no cotidiano de quem habita a cidade.

Esse pressuposto nos permite afirmar que não basta a construção de infraestrutura, se a maior parte da população, por exemplo, não pode arcar com os valores das tarifas para ter acesso ao Serviço de Transporte Público Coletivo. De que adianta passar uma avenida na porta de casa, se não se puder ter acesso ao ônibus?

Dessa forma, refletir efetivamente sobre mobilidade requer pensar no espaço urbano produzido e na inserção precária da maior parte da população neste, e que consequentemente precisam deslocar-se para ter acesso a serviços básicos essenciais que não estão disponíveis efetivamente, nos bairros onde residem. Por outro lado, o Sistema de Transporte Público Coletivo, mostra-se ineficiente e desconfortável não atendendo efetivamente às necessidades de quem precisa a este recorrer.

Pesquisas demonstram que a população mais pobre das grandes metrópoles brasileiras (com renda mensal abaixo de três salários mínimos) está sendo privada do acesso aos serviços de transporte público, provocando dentre outros problemas, o não acesso às oportunidades que a cidade oferece. Em contrapartida assistimos o contraste com o aumento de linhas de crédito para aquisição do transporte individual (automóvel e motocicleta).

Salienta-se que um dos grandes entraves para a proposição de ações efetivas no trato da questão, consiste na ausência de pesquisas periódicas que forneçam informações sobre a mobilidade urbana, como aquelas relativas a pesquisa Origem-Destino, que possibilitariam uma maior compreensão das necessidades reais da população, balizando as intervenções necessárias.

No que diz respeito a questões mais pontuais, e não esgotando-as, pensamos que:

-É necessário fazer com que o pedestre seja respeitado, que as calçadas sejam efetivamente calçadas, sejam públicas e seguras, o que não ocorre atualmente, com sua apropriação privada por pessoas que as utilizam como estacionamento, ou ainda, por motociclistas impacientes que as utilizam como extensão da pista, colocando em risco a vida de quem aguarda um ônibus ou está de passagem.

-Pesquisas apontam que a bicicleta é um meio de transporte importante para uma grande parcela da população que a utiliza para ter acesso às mais variadas áreas da cidade e para os mais variados fins, principalmente por motivo de trabalho, frente a má distribuição de renda e não acesso efetivo ao transporte público coletivo. Coloca-se como imperativo então, fazer com que as ciclovias sejam eficientes e adequadas para atender a essa demanda da população. O que se constata é uma não interligação destas na cidade, além de uma não manutenção adequada.

- É necessário que haja a disposição por parte das autoridades competentes de realizar uma integração efetiva do transporte público coletivo que envolva os municípios da Região Metropolitana de Fortaleza, onde direitos adquiridos historicamente sejam respeitados, como por exemplo, a meia estudantil.

-O serviço de transporte público coletivo integrado, deve ser tratado como prioridade em detrimento do transporte individual.

Enfim, destaca-se que a inserção, no espaço urbano, da população com menor poder aquisitivo sucede de forma precária, em razão do movimento de constituição da cidade, que favorece as desigualdades socioespaciais com implicações no que tange à mobilidade urbana. Essas implicações estão relacionadas à expulsão popular para as periferias cada vez mais distantes e ao não provimento adequado de infraestrutura e equipamentos urbanos, que assistam a população pobre no lugar onde ela habita de forma adequada, e neste caso, a mobilidade passa a ser compulsória e não mais sinônimo de urbanidade.

Enfim, a mobilidade, um dos componentes essenciais para a vida, o é assim também para o espaço urbano, uma vez que esta é um componente daquele, haja vista que esta o qualifica, potencializando a inserção da população na cidade.

Cristiane Ferreira, integrante do Laboratório de Estudos Urbanos e da Cidade - LEURC/UECE

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