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Avaliação de especialistas em Educação

05:00 | 26/08/2012
As propostas formuladas pelos diversos candidatos à prefeitura de Fortaleza para a educação em nossa cidade estão cheias de boa vontade, mas precisando de profundidade. Não podemos mais ter ideias inexequíveis em se tratando de educação, precisamos de propostas reais e que possam ser implantadas no primeiro ano de gestão, e não no último.

A educação tem que estar acima de qualquer disputa político-partidária. Ela deve ser executada pelo gestor, independente de sua filiação partidária e continuada pelos próximos, com igual independência. Não podemos mais permitir que projetos que apresentaram bons resultados, não tenham continuidade por terem sido implantados em gestões anteriores.

A construção de escolas de Educação Infantil, tantas quanto forem necessárias para atender a população desta faixa etária, que sigam o padrão de qualidade descrito pelo MEC, a implementação de tempo integral nas escolas, a formação continuada, de qualidade, para os professores, com salários dignos e condições de trabalho (incluindo-se a questão de segurança dentro e nos arredores das escolas), abertura de concursos públicos, eleições para diretores, envolvimento dos pais e comunidade e a reformulação pedagógica, coerente e sustentável, são propostas que já conhecemos, mas que precisam ser executadas.

Tudo que for feito sem levar em conta essas últimas são “adereços” que pouco influenciarão para uma educação de qualidade. Precisamos de gestores que priorizem a educação, em todos os seus aspectos.

Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca, diretora da Faculdade de Educação da UFC

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Existe em Fortaleza uma carência muito grande em relação ao atendimento em creches. Uma parceria entre a prefeitura, governo estadual e federal viabilizaria a construção de um número bem superior a 80 novas creches em 4 anos. A dívida social dos governos em relação ao atendimento as crianças pequenas é histórica e deve começar a ser paga o mais urgente possível.

A Formação Continuada dos professores deve ser uma política permanente da Gestão Municipal, aliada a um plano de cargos, carreiras e salários. Esse plano deve garantir ao professor seu crescimento profissional para que ele possa permanecer constantemente motivado na profissão.

A instalação de uma escola modelo MEC em cada bairro deve ser amplamente discutida e avaliada. Teremos recursos financeiros suficientes para a implantação dessa proposta? Devemos ter cuidado com propostas de impacto, pois necessitamos equipar com laboratórios, bibliotecas, contratação de pessoal qualificado, etc.

Parcerias público-privadas para qualificar escolas é uma proposta relativamente nova em Fortaleza. O poder público municipal, por determinação constitucional, não pode deixar de aplicar no mínimo 25% do seu orçamento na área de educação, o que hoje chega a ser insuficiente, pois alguns entes da federação já aplicam até 30% ou mais do seu orçamento. Resta saber qual o papel da iniciativa privada e como se daria essa parceria. A sociedade precisa participar desse debate.

O regime de tempo integral nas escolas é uma proposta antiga e implantada no Rio de Janeiro através do Governador Leonel Brizola. Alguns estados e municípios já executam essa política com relativo sucesso e aos poucos deve se espalhar pelo Brasil.

A realização de concurso público é uma necessidade urgente em virtude do grande número de professores temporários na rede municipal. A proposta é muito genérica, deve ser quantificada e ter um plano de reposição de vagas para os próximos quatro anos.

As eleições para diretor de escola devem ser mista, aliar seleção por concurso de provas e títulos, para dar transparência e moralidade pública e eleições diretas, para evitar o clientelismo político.

José Nelson Arruda Filho, diretor do Centro de Educação da Uece
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As escolas em sua maioria carecem de um acompanhamento pedagógico sistematizado e rigoroso, que proporcione o redimensionamento da ação educativa em prol da aprendizagem do aluno. Outro ponto fragilizado refere-se à falta de acolhimento de forma profissionalizada ao professor recém ingressado na rede pública por meio de concursos ou de contratações.

Na minha opinião, é inadmissível o professor assumir sua carreira sem um programa claro de valorização do magistério, que perpassa pela formação continuada, salário e condições de trabalho. Percebe-se que as propostas ainda são pontuais, por que não atendem o cerne da questão que é: fortalecer a função social da escola por meio da ação de ensinar. Simplesmente isso, ensinar conteúdos, de português a matemática e dar sentido a esses conhecimentos, preparando os educandos para ler as letras a partir da “leitura de mundo”.

Quanto a questão de adoção do regime de tempo integral nas escolas, basta saber o que isso significa. Caso seja simplesmente a ampliação da jornada escolar, não se justifica, pois isto não vai garantir o aprendizado do aluno. Quais as reais condições para sua ampliação? Será desenvolvida por monitores sem assistência? Ou por profissionais realmente preparados? Esta proposta implicará na mobilização do tempo, recursos e espaço na escola.

Na prática, é preciso ter clareza quais as reais exigências para a viabilização do desenvolvimento de atividades diversificadas, integradas ao currículo escolar, focadas para uma formação integral do educando, incluindo conhecimentos como artes, cultura e esportes.

Todas as propostas passam pela gestão, exigindo uma direção escolar comprometida e com competências necessárias ao desenvolvimento da função. Ter como critério o clientelismo por meio de nomeação política não ajuda a profissionalizar a escola. Por isso, é indicada a eleição para diretor atrelada a uma avaliação técnica criteriosa, superando práticas autoritárias e centralizadas. O desafio está posto: integrar a competência técnica e política, profissionalizar a escola, elaborar políticas, diretrizes que consolide a vontade de ensinar e de aprender.

Cecília Lacerda, doutora em Educação e professora da Faculdade 7 de Setembro

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