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Comissão da Verdade reabre caso do guerrilheiro Berbert

17:30 | 08/07/2012
A Comissão da Verdade vai reabrir o caso do guerrilheiro Ruy Carlos Vieira Berbert, morto aos 24 anos, em janeiro de 1972, na cadeia pública de Natividade, hoje Tocantins. Integrante da comissão, o ministro Gilson Dipp afirmou que as fotografias do corpo de Berbert, localizadas pelo Estado no Arquivo Nacional, revelam a necessidade de nova busca dos restos mortais e uma reavaliação das circunstâncias da morte do guerrilheiro. "Vou propor à comissão nesta segunda-feira que se defina uma equipe de técnicos para verificar o que ocorreu", afirmou.

Na avaliação de Gilson Dipp, as buscas para encontrar os restos mortais de Ruy Carlos foram falhas. "As procuras que foram feitas no passado não tinham o apoio oficial que se tem agora e tecnologia, por isso não avançaram", observou. Ele ressaltou que a Lei de Acesso à Informação possibilitou que documentos como o álbum de fotografias de Ruy Carlos, guardado desde 2005 no Arquivo Nacional, pudessem ser revelados.

O presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos, Marco Antonio Rodrigues Barbosa, que assessora a Comissão da Verdade, defenderá, na reunião desta segunda-feira, a reabertura conjunta do caso da morte de Ruy Carlos. Ele vai apresentar à família Berbert, que mora em São Paulo, uma proposta para colher amostras de DNA para possível trabalho de busca pelo corpo de Ruy Carlos.

Além de divulgar as primeiras imagens, após a redemocratização, do corpo de um guerrilheiro morto em dependências do Estado, o jornal também divulgou um relatório secreto da Polícia Federal que põe em xeque versão de que Ruy Carlos cometeu suicídio. No documento, um agente informa que o médico Colemar Rodrigues Cerqueira, que atendia à população de Natividade, se recusou a fazer a autópsia. O tarefa acabou sendo realizada por um farmacêutico local.

Há 20 anos, a família Berbert conseguiu localizar nos arquivos do Dops, de São Paulo, uma ficha com o registro da morte de Ruy Carlos, enterrado com o nome de João Silvino Lopes. O Ministério da Justiça chegou a fazer uma busca no cemitério de Natividade, mas o trabalho foi abortado. Em 1992, a família fez um enterro simbólico de Ruy Carlos na cidade de Jales, interior de São Paulo.

A divulgação de fotos inéditas de Ruy Carlos causou "surpresa" em um companheiro do guerrilheiro no Movimento de Libertação Popular (Molipo). O engenheiro Vinícius Medeiros Caldevilla, o "Manuel" do Molipo, disse que, agora, é preciso saber as circunstâncias da morte de Ruy Carlos. Caldevilla, que atualmente mora em São Paulo, relatou ter convivido com Ruy Carlos em Cuba, onde participaram de treinamento de guerrilha.

Estudante de letras da Universidade de São Paulo, Ruy Carlos foi um dos estudantes presos no Congresso de Ibiúna, organizado em 1968 pela UNE. Após a prisão, ele entrou para a clandestinidade. No começo dos anos 1970, ele esteve em Cuba, onde fez treinamento de guerrilha e se juntou a dissidentes da Ação Libertadora Nacional (ALN) para formar o Molipo, um movimento armado de combate à ditadura também conhecido como Grupo Primavera ou Grupo da Ilha, uma referência à ilha de Cuba.

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