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A retomada da autoridade

As lições, os erros e o que pode mudar na condução do governo Cid Gomes, a partir da greve militar que paralisou a cidade no último dia 3

08:49 | 08/01/2012

A mais longa semana vivida pelo governo Cid Gomes chegou ao fim com a inevitável pergunta: o que e como fazer para restabelecer o controle político e a ordem policial? À procura dessa resposta, O POVO conversou com aliados, opositores, militares e foi aos bastidores políticos cearenses. A resposta: tanto o Palácio da Abolição quanto o setor de segurança pública têm muito que aprender com o apagão do último dia 3. E, com isso, mudar a linha de atuação.

Primeiro, as questões políticas. Testemunha privilegiada do episódio e presente nas negociações que vararam madrugadas, o deputado federal Chico Lopes (PCdoB) acredita que o governo Cid precisa repensar o tratamento e o relacionamento com as demandas sociais. “Se não pode, não pode. Mas se fizer o acordo, cumpra”, cobra o parlamentar, sobre promessas e sinalizações de melhorias para a Polícia Militar (PM) e o Corpo de Bombeiros Militar (CBM) que não teriam sido cumpridas. “A greve aconteceu por falta de credibilidade dos seus superiores, que negociavam e não cumpriam”.

Essa credibilidade, lembra o deputado, foi encontrada em órgãos como o Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil, Defensoria Pública e Igreja. “O governo mudou, mas certas cabeças não mudaram”, pontua.

Outro aliado, que pediu para não ter o nome publicado, diz que a falta de diálogo por parte do Governo é inspirada no estilo pessoal do governador. “Tudo está mudando. Não dá mais para se governar como se fosse quase proprietário do Estado”, afirma um entrevistado. “Esse tipo de comportamento só prejudica ele (Cid) mesmo”, diz a fonte.

Para o cientista político e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor) Clésio Arruda, a linha dura com que o governo Cid trata descontentes pode ter relação com o fato de o Executivo praticamente não ter oposição na Assembleia Legislativa. “Há um histórico do governo Cid que é a dificuldade de o governo se relacionar com os grevistas”, pontua.

Também cientista político, o professor da Faculdades Integradas do Ceará (FIC), Francisco Waston, é mais contundente: “A greve mostrou que eles (os Ferreira Gomes) são muito bons no discurso. Mas na hora de uma crise, eles não sabem o que fazer”.

Hierarquia

Sobre o restabelecimento da hierarquia na PM e CBM, as opiniões se dividem. Clésio Arruda defende que o Estado adote reação forte, “proporcional ao pânico que se gerou”. Inclusive, afirma, com a retirada das corporações dos principais líderes do movimento. A medida, temida por militares abordados pela reportagem, está descartada. Pelo menos foi o que assegurou ao O POVO o chefe de Gabinete do Palácio e irmão do governador, Ivo Gomes.

O professor Waston adota uma linha mais conciliadora. Apesar de classificar como “delicada” a rebelião, argumenta que a solução e o tratamento da questão devem ser articulados em nível nacional. Inclusive porque, observa o professor, o que houve no Ceará pode inspirar reivindicações similares em outros estados. “Foi um grande precedente”.

Esse é o raciocínio também adotado por Chico Lopes. O deputado cita movimentos de entidades civis e segmentos da própria Polícia Militar articulando uma ampla reforma no regimento da corporação. Ele adianta que o caso reacendeu a discussão e seminários deverão acontecer, para alinhavar propostas a serem encaminhadas ao Ministério da Justiça. “A hierarquia foi quebrada, não adianta esconder. Mas não tem como continuarmos encastelados nos gabinetes e não atender aos reclames da sociedade”.

Erivaldo Carvalho

 

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