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Opinião: Uma eleição sem vencedores na Colômbia

10:28 | 18/06/2018
Colombianos votaram contra o processo de paz mais uma vez, elegendo um populista de direita, embora sem poder. Resultado paradoxal denota um país dilacerado, opina Uta Thofern, chefe do Departamento América Latina da DW.Apenas uma coisa está clara: Ivan Duque terá terríveis dificuldades como presidente colombiano. O francamente simpático advogado sem experiência política chegou ao poder na chapa de um linha-dura. Sem o apoio do ex-presidente Álvaro Uribe, Duque teria continuado um desconhecido. Agora, é o amável populista que mora ao lado que terá de governar e cumprir suas promessas de campanha: "rasgar" o acordo de paz, combater o plantio de coca com mão de ferro, fortalecer os "valores tradicionais da família" e, obviamente, fazer avançar a economia. Nada disso funcionará como num passe de mágica. Duque não possui maioria no Congresso, e a Colômbia não é mais o país que Uribe certa vez governou. O resultado eleitoral mostrou muito nitidamente que posições de esquerda ainda não são capazes de obter maioria, mas pelo menos se tornara socialmente aceitáveis num país tradicionalmente conservador: o candidato adversário de Duque, o populista de esquerda Gustavo Petro, conquistou um resultado surpreendentemente bom, com mais de 40% dos votos. A ironia histórica é que foi precisamente o ponto forte de Petro que deu a vitória a Duque. Se a eleição tivesse sido disputada por um candidato mais moderado, os eleitores tradicionais do centro provavelmente teriam votado contra o populista de direita. Mas assim, no melhor dos casos, Duque será um presidente com apoio cambaleante no Congresso e enfrentará uma forte oposição e uma sociedade mais autoconfiante – além de uma comunidade internacional que apoia o acordo de paz. Ele terá que fazer concessões. As conquistas do processo de paz são grandes demais: a Colômbia se tornou mais segura e mais aberta. Um país que não é mais uma "no go area", ele voltou a atuar no palco internacional, o que é interessante para investidores estrangeiros, com uma sociedade civil que tomou consciência de seus direitos e que não se deixará reprimir sem resistência por estruturas patriarcais. O processo de paz não dividiu o país. Apenas demonstrou onde estão os verdadeiros problemas: na desigualdade social, ainda incrivelmente enorme; nas estruturas parcialmente feudais e nas noções sociais pré-modernas. Ele deu voz a quem nunca tivera representação política. O fato de as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) terem posado como representantes dos interesses desses indivíduos descreditou qualquer progresso social por anos a fio. Isso acabou, e não pode mais mudar. Ivan Duque é considerado inteligente e flexível. Ele não vai querer impelir a guerrilha de volta para a clandestinidade. Ele deve saber que uma vitória militar é uma ilusão. E, já na noite da eleição, o novo presidente também já soava bem diferente do que durante a campanha: ele afirmou não mais querer "rasgar" o acordo de paz, mas sim garantir que "a paz chegue a toda parte". Para isso, disse, sua primeira tarefa será trabalhar na implementação do acordo – de fato, até hoje altamente incompleta –, oferecer uma perspectiva à população das antigas regiões de guerrilha e impedir novos conflitos sociais. No entanto grande parte de seu eleitorado espera que ele modifique o pacto e, sobretudo, imponha punições mais duras à liderança da guerrilha. Ao mesmo tempo, Duque depende do apoio de Uribe e seu partido. Por outro lado, alguém já conseguiu se livrar de uma situação similar: Juan Manuel Santos, presidente em exercício da Colômbia e vencedor do Prêmio Nobel da Paz. A eleição deste domingo (17/06) não tem vencedor. Ivan Duque tem um delicado número de equilibrismo a enfrentar, se quiser assegurar que não haja apenas perdedores. ---------------- A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App | Instagram Autor: Uta Thofern (rk)

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