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Opinião: Faxina política necessária em Paris

11:07 | 21/06/2017
François Bayrou (esq.) tem que ir, Macron mantém sua credibilidade políticaNa prática, o presidente francês acaba de perder seu parceiro de coalizão. Menos mal, opina o jornalista Max Hofmann, se em contrapartida ele mantiver sua credibilidade como autodeclarado saneador da política nacional.Démission de courtoisie – demissão por cortesia – é como se denomina na França o que normalmente acontece em seguida a uma eleição parlamentar. O primeiro-ministro retira seu governo, para em seguida colocá-lo novamente em campo, por vezes com leves alterações. Essa formalidade visa refletir eventuais dados novos, trazidos à tona pela eleição, e é o que deveria acontecer também desta vez. Mas o que se vê agora na França pouco tem a ver com cortesia e muito mais com credibilidade. Quatro ministros deixaram – ou tiveram que deixar – o gabinete, entre eles três do social-liberal Movimento Democrata (MoDem), liderado pelo veterano centrista François Bayrou. O mesmo político que, na qualidade de ministro da Justiça, já havia anunciado medidas "para moralização da vida política" – ou, menos pomposamente, uma lei anticorrupção. Desse modo, Bayrou estava perfeitamente alinhado com o novo presidente francês, Emmanuel Macron, que declarou a intenção de dar fim ao desavergonhado desvio de impostos arrecadados e ao abuso de posições de poder pelos políticos com o fim de locupletarem a si e a suas famílias. O chato é que agora a legenda de Bayrou como um todo entrou na mira das investigações, sendo acusada de desviar verbas da União Europeia para financiar questões partidárias, quando ambos os campos deveriam ficar rigorosamente separados. Em governos anteriores, o caso teria possivelmente sido descartado como bagatela. E pode até ser visto como tal se comparado com o que o ex-candidato presidencial conservador François Fillon se permitiu, ao garantir para a própria esposa pagamentos no total de até 1 milhão de euros por atividades até o momento incomprovadas. Mas Macrou assumiu com a promessa de passar um pente fino na política nacional, e espera-se dele que cumpra essa promessa. Desse modo, é lógico que o presidente – que mantém seu gabinete sob controle estreito – esteja agora intervindo. A participação eleitoral extremamente baixa no pleito legislativo mostra que o desencanto de muitos franceses com a política não desapareceu da noite para o dia. Pelo contrário: nos extremos da direita e da esquerda, a Frente Nacional e a França Insubmissa estão à espreita do primeiro passo em falso do governo para voltarem a explorar plenamente o potencial radical do eleitorado francês. Portanto, se Macron não quiser, logo no início, afundar no mesmo pântano elitista de corrupção que os seus antecessores, ele precisa intervir. Apesar de tudo, a situação é incômoda para o chefe de Estado. Em primeiro lugar, nunca dá uma boa impressão as falcatruas dos ministros só serem reveladas quando eles já ocupam o cargo. Cabe perguntar: é realmente tão difícil uma sindicância mais eficaz dos problemas potenciais antes da nomeação para o gabinete? Em segundo lugar, para Macron pouco a pouco vão se esgotando as opções de ministros experientes e "limpos". Do MoDem não há mais nada a esperar, já que até mesmo seu chefe foi forçado a renunciar. Deste modo, o presidente perdeu de facto seu parceiro de coalizão e terá que fechar as lacunas com figuras de seus próprios quadros. Uma tarefa nada fácil, dado que mais da metade do pessoal do A República Em Marcha! (LREM) são novatos na política. Se cumpre sua promessa de renovação, Macron também fica com uma malha de competência bastante delgada. Nos últimos dias, Macron deve ter se irritado muito por ter tido a ideia de fechar uma aliança com o MoDem. Mesmo sem Bayrou e companhia, ele alcançou maioria na Assembleia Nacional, e ela seria ainda maior se o LREM não tivesse aberto mão de candidaturas em favor do parceiro. No entanto, algumas semanas atrás, Macron calculava que, tendo um partido recém-fundado, dependeria de uma coligação com os social-liberais. Por outro lado, como reza o ditado alemão, "melhor um fim horroroso do que um horror sem fim". A cooperação entre os dois grupos não seria fácil, e agora Macron terá mais liberdade de ação, mesmo com uma maioria parlamentar encolhida pela perda do parceiro MoDem. Entretanto, para o presidente mais vale uma maioria pequena do que nenhuma credibilidade. Autor: Max Hofmann
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