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Por que é quase impossível hackear eleição nos EUA?

12:34 | 17/10/2016
Para especialistas, medo de invasão ao sistema de votação é infundado: mais provável do que fraude é que a ameaça levantada por tais suspeitas leve à perda da confiança do eleitorado no processo.A rigor, uma corrida pela Casa Branca como a atual – distinta de qualquer outra na memória recente, e com os dois candidatos mais impopulares dos últimos tempos – não precisa de suspense adicional. Ainda assim, agora se difunde o medo de que o resultado das urnas seja alterado por hackers. Segundo esse raciocínio, se hackers podem invadir os servidores do Comitê Nacional do Partido Democrata (DNC), porque não fariam o mesmo com os sistemas de votação? A suspeita, de especialistas em segurança de TI e das autoridades americanas, de que o governo russo teve envolvimento no hackeamento do DNC, agrava tais preocupações. No entanto, especialistas em sistemas de votação argumentam que os temores de uma eleição hackeada são desproporcionais, muitas vezes fruto da falta de conhecimento sobre os procedimentos e sistemas eleitorais. "Invadir o servidor de e-mail privado do DNC ou de uma empresa como a Sony é completamente diferente de invadir os sistemas eleitorais", explica David Becker, diretor executivo do Center for Election Innovation and Research (CEIR), sediado em Washington. Diferente desses servidores, onde os potenciais invasores atacam um único ponto de acesso, os sistemas de votação dos EUA não só são altamente descentralizados, como nenhum deles está em rede ou conectado à internet. Maioria vota em papel Becker aponta que, nos EUA, há "cerca de 10 mil jurisdições eleitorais e 50 estados diferentes, e em geral os municípios são responsáveis pela realização das eleições". Tornando as coisas ainda mais difíceis para potenciais hackers, "dezenas de diferentes tipos de sistemas de votação estão sendo usados por todos os EUA, e cerca de 80% dos americanos votam com cédulas de papel, não nas urnas eletrônicas", acrescenta o diretor do centro de pesquisa eleitoral. "Portanto, para conseguir alterar os resultados da eleição nacional, seria necessária uma conspiração em que centenas de milhares de pessoas tivessem acesso físico às máquinas, em todo o país." Invadir sistemas eleitorais conectados à internet, como os de registro de eleitores, é menos difícil e já ocorreu antes, mas agora esses sistemas foram fortalecidos, em resposta ao caso do DNC, ressalta Merle King, diretor executivo do Centro para Sistemas Eleitorais da Kennesaw State University. "Além do mais, nas invasões de bancos de dados, como o do sistema de registro eleitoral, a meta geralmente não é política, mas criminosa, ou seja: obter acesso a um grande lote de informações pessoais." Sistemas antigos, mas funcionais Isso não significa que a segurança dos sistemas eleitorais não deva ser uma preocupação ou que seja impossível, mas sim que os sistemas atualmente em vigor estão à altura da tarefa, mesmo que alguns deles sejam velhos. "Quem lê histórias sobre o velho sistema de votação deve entender que idade não quer dizer obsolescência, e que a funcionalidade dos sistemas não muda ao longo do tempo", frisa King. "Nós ainda usamos bombardeiros B52 em nossa Força Aérea, porque eles ainda conseguem cumprir a missão e sua operação é econômica". Embora a tecnologia usada em muitas das máquinas de votação não seja a mais moderna e possa ser atualizada, "certamente, ela é boa o suficiente para realizarmos uma eleição segura e eficaz", salienta David Becker. Semeando insegurança Por isso, ambos os especialistas estão menos preocupados com hackers ou com o mau funcionamento da tecnologia de eleição do que com as implicações negativas do debate sobre a segurança do sistema eleitoral. Sobretudo as declarações do candidato presidencial republicano, Donald Trump, de que a eleição poderia ser "manipulada", podem afetar a confiança dos eleitores no sistema. "Acho legítimas as ressalvas levantadas de que, seja lá quem esteja levantando essas dúvidas sobre manipulações, sua intenção principal de não é promover maior segurança à eleição, mas sim semear confusão e desconfiança no processo, para que as pessoas talvez não apareçam para votar", suspeita Becker. "Para mim, a principal ameaça que estamos vendo é a confiança no processo estar sendo minada", reforça Merle King. "Se começarmos a duvidar da integridade do processo, então é um passo muito curto para duvidarmos da veracidade do resultado." Da mesma forma que profissionais eleitorais dos dois partidos em todos os EUA, ambos os especialistas dizem ter plena confiança no processo eleitoral. "O que os eleitores nos Estados Unidos precisam saber é que, se eles forem às urnas em 8 de novembro, o voto deles será contado corretamente", garante David Becker. Autor: Michael Knigge (md)
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