Argélia abandona mais de 13 mil imigrantes no Deserto do Saara
No Níger, os mais sortudos conseguem cruzar, vacilantes, um território de 15 km até o vilarejo de Assamaka, na fronteira do país. Outros vagam por dias até serem resgatados por equipes das Nações Unidas. Inúmeros morrem.
[SAIBAMAIS]
Quase todos os cerca de 30 sobreviventes entrevistados pela agência de notícias Associated Press mencionaram pessoas de seus grupos que simplesmente desapareceram no Saara. "Mulheres e homens caiam mortos. Outros desapareceram no deserto porque não sabiam o caminho", disse Janet Kamara, que estava grávida na época. "Todos estavam por conta própria", afirmou.
Em uma voz desprovida de sentimento, ela lembrou duas noites passadas a céu aberto antes de o grupo com o qual estava ser resgatado, e afirmou que perdeu a noção do tempo. "Perdi meu filho, minha criança", disse ela, que é da Libéria. Outra mulher com cerca de 20 anos entrou em trabalho de parto no meio da travessia e perdeu seu bebê, contou Janet.
As expulsões em massa de imigrantes têm aumentado na Argélia desde outubro de 2017, a medida que a União Europeia (UE) aumenta a pressão sobre os países da África do Norte para frearem a ida de pessoas para o norte da Europa por meio do Mar Mediterrâneo.
Um porta-voz da UE disse que o bloco estava ciente do que a Argélia vinha fazendo, mas que os "países soberanos" podem expulsar imigrantes desde que o ato esteja de acordo com a lei internacional.
Diferente do Níger, a Argélia não recorre ao dinheiro oferecido pela UE para ajudar com a crise migratória, mas recebeu US$ 111,3 milhões em recursos da Europa entre 2014 e 2017.
A Argélia não divulga números de suas expulsões, mas a quantidade de pessoas que cruzam a fronteira do Níger a pé tem crescido desde que a Organização Internacional de Migração (OIM) começou a registrar esses dados, em maio de 2014. Na época, 135 pessoas foram expulsas. Em abril de 2018, esse número saltou para 2.888. Segundo a OIM, 11.276 homens, mulheres e crianças sobreviveram à marcha.
Autoridades argelinas não quiseram comentar o assunto, mas o país já negou no passado as críticas de que comete abuso dos direitos humanos ao abandonar imigrantes no deserto. As autoridades qualificaram as alegações de "campanha maliciosa" com a intenção de inflamar países vizinhos. Fonte: Associated Press.
Agência Estado