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Ex-diretor do FBI diz que Trump não pediu para acabar investigação sobre Rússia

14:24 | 08/06/2017
O ex-diretor do FBI, James Comey, afirmou em depoimento no Comitê de Inteligência do Senado dos Estados Unidos que o presidente do país, Donald Trump não pediu à ele para interromper as investigações do órgão federal sobre a possível interferência da Rússia nas eleições presidenciais de 2016. No entanto, Comey afirmou que "não tem dúvidas" de que a Rússia tentou interferir nas eleições presidenciais, mas declarou que tem confiança de que nenhum voto foi alterado à época.

Comey ainda afirmou que "não há dúvidas" de que o governo russo esteve por trás das tentativas de ciberataque no banco de dados dos eleitores americanos.

O ex-diretor do FBI, demitido por Trump no início de maio em meio a polêmica sobre ligações da Rússia com o governo do republicano, especificamente com o então conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, respondeu à diversas questões de senadores que investigam a questão no Senado americano, e que podem comprometer o presidente.

Comey garantiu que Trump nunca perguntou sobre mais nenhuma investigação do FBI, com exceção do caso de Flynn. Segundo o ex-diretor, em um jantar em janeiro, o presidente perguntou se ele gostaria de continuar no trabalho, o que o deixou "surpreso e perturbado. "Senti que Trump queria que eu fizesse algo para ele para que eu continuasse no cargo", declarou Comey. "Ele me pediu lealdade. Jamais alguém pediu isso a mim como diretor do FBI".

O ex-diretor relatou que foi chamado para uma conversa privada com Trump na qual o presidente teria sugerido que ele interrompesse as investigações sobre as relações de Flynn com a Rússia. Segundo Comey, o pedido foi "perturbador" e ele não soube como reagir. No entanto, ao ser questionado se Trump pediu especificamente para ele "interromper" as investigações, Comey disse que não, que não viu como uma ordem, mas como uma sugestão. "Acredito que Trump queria que eu interrompesse as investigações sobre Flynn, mas levei o comentário como uma sugestão e não o fiz", disse.

O ex-diretor da agência federal também não quis declarar se considerava as ações de Trump uma tentativa de obstrução da Justiça. "Acredito que não sou eu quem deva afirmar que a conversa que tive com o presidente foi uma tentativa de obstrução, isso é com vocês (Comitê)".

Questionado sobre o porquê não pediu a Trump para parar de pressioná-lo sobre Flynn, Comey disse que "deveria ter feito isso, se eu fosse mais corajoso do que realmente sou, mas fiquei chocado com a conversa e não soube como reagir". Segundo o ex-diretor, seus colegas de FBI "ficaram tão chocados quanto eu com o pedido de Trump sobre Flynn".

Comey disse que parte do motivo que o levou a documentar o encontro com Trump no qual ele falou sobre Flynn, foi porque ele estava preocupado que o presidente pudesse mentir sobre o que ocorreu durante a reunião. "Eu estava honestamente preocupado de que ele fosse mentir sobre a natureza daquele encontro", falou.

Em seu depoimento escrito, Comey disse que não tinha o hábito de documentar os encontros com o ex-presidente americano, Barack Obama. Mas, devido as circunstâncias da conversa com Trump e pela "natureza da pessoa" com quem ele estava interagindo, ele decidiu fazer anotações imediatamente após a reunião. (Gabriela Korman - gabriela.korman@estadao.com)

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