Sheinbaum reúne centenas de milhares de mexicanos para reafirmar seu poder diante das críticas

19:22 | Dez. 06, 2025

Por: Arturo ILIZALITURRI

Ao grito de "Você não está sozinha!", centenas de milhares de pessoas se reuniram neste sábado (6) para apoiar a presidente do México, Claudia Sheinbaum, que convocou uma grande concentração para reforçar seu respaldo após um mês de críticas políticas e protestos.

No Zócalo da Cidade do México, a principal praça do país, onde se encontra o Palácio Nacional, sede da presidência, reuniram-se cerca de 600 mil pessoas, segundo as autoridades, muitas delas vindas de ônibus de várias partes do país.

"Que ninguém se engane", declarou Sheinbaum. "A maioria dos jovens está com a transformação" da vida pública do México, afirmou em referência aos recentes protestos contra sua política de segurança.

No entanto, alguns de seus simpatizantes reconhecem que o apoio à juventude é um dos pontos pendentes da governante de esquerda.

Fabián Olivo, de 28 anos, servidor público do município de García, no estado de Nuevo León (norte), viajou 15 horas de ônibus para participar do comício e disse à AFP que os jovens precisam de mais atenção para não "seguir por caminhos errados", como se integrar ao crime organizado.

A mandatária tem mantido altos índices de aprovação desde sua chegada ao poder no ano passado, mas esse apoio caiu levemente nos últimos meses, passando de 74% em outubro para 71% no início de dezembro, segundo o resumo de pesquisas do Polls MX.

O assassinato, em 1º de novembro, de um popular prefeito muito crítico à política de segurança de Sheinbaum desencadeou fortes protestos, aos quais se somou pouco depois uma violenta marcha convocada em nome da Geração Z e a abrupta renúncia do procurador-geral Alejandro Gertz por divergências sobre a estratégia de combate ao crime.

Combinados, esses eventos configuraram o momento político mais difícil na gestão da presidente mexicana, que com essa mobilização massiva buscou mostrar o respaldo de suas bases.

Cristian Vilchis, funcionário público de 23 anos de Tenancingo, no central Estado do México, criticou Gertz por ter causado "muito dano ao país" e apontou como uma pendência de Sheinbaum resolver o desaparecimento de 43 estudantes no estado de Guerrero (sul) em 2014, um dos casos que provocou confrontos entre a presidente e o procurador.

- Ataques internos -

"Claudia, escuta, o povo está na luta", gritaram neste sábado os manifestantes enquanto marchavam em direção ao Zócalo.

Ali, as centenas de milhares de pessoas reunidas demonstraram a capacidade de mobilização do Morena, o partido governamental fundado pelo antecessor de Sheinbaum, Andrés Manuel López Obrador, que defende a "justiça social" com políticas de apoio aos mais desfavorecidos.

A governante aproveitou o comício para fazer uma "reflexão" dirigida aos seus correligionários: "Governar não é para ter privilégios".

Membros proeminentes do Morena protagonizaram escândalos por gastos considerados excessivos. Andrés Manuel López Beltrán, filho de López Obrador, foi criticado no verão passado por uma viagem de férias ao Japão.

Dentro do movimento, "temos que nos fazer ouvir (...) não concordamos com muitas coisas", disse Guadalupe Medina, funcionária do setor privado da Cidade do México, de 48 anos.

"O mais interessante e o mais irônico", disse à AFP o analista político Pablo Majluf, é que "quem mais enfraquece Sheinbaum não é a oposição, que está aniquilada, completamente fora do jogo, mas sim seu próprio movimento" político.

Essa concentração no Zócalo é uma "tentativa de apoio interno, de recompor o relato, de convocar à unidade", acrescentou.

Sheinbaum é "uma presidente incrivelmente eficiente" que gosta de ter controle e exige muito de sua equipe. Mas também tem a pele "muito fina" e "lhe custa conviver com o dissenso", considera o analista Hernán Gómez Bruera, em referência aos ataques internos à política da mandatária.

- "Ofensas"-

As "ofensas" proferidas por alguns manifestantes na marcha da oposição em 15 de novembro motivaram Marlene López, de 42 anos, engenheira industrial, a participar da mobilização deste sábado.

Beatriz Hernández, médica de 67 anos, também marchou em solidariedade a Sheinbaum e outras funcionárias criticadas pelo empresário Ricardo Salinas Pliego, que mantém um conflito com o governo sobre o pagamento de impostos e ridicularizou a aparência física de algumas integrantes do gabinete.

"Sou contra isso, também já fui agredida por homens", disse Hernández, que lembrou ter sido vítima de toques indesejados na rua, assim como suas filhas. "É uma agressão que não se esquece", afirmou.

Sheinbaum também comemorou o "bom relacionamento" estabelecido com os Estados Unidos, baseado no "respeito à soberania".

"Tem sido muito cautelosa", disse à AFP Ana Laura Jácome, dona de casa de 42 anos, que se manifestou mesmo caminhando com uma bengala, sobre a relação de Sheinbaum com o presidente americano, Donald Trump.

O presidente republicano tem adiado há meses sua ameaça de impor novas tarifas ao México e de intervir em seu território para combater os cartéis de drogas.

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