Polícia retira 78 corpos de mina de ouro ilegal na África do Sul
Operação encerra meses de um cerco policial que visava coibir a prática criminosa. Um total de 246 sobreviventes resgatados foram presos.A polícia da África do Sul encerrou nesta quarta-feira (15/01) uma operação de resgate em uma mina de ouro abandonada na cidade de Stilfontein, onde disse ter encontrado 78 mortos e resgatado 246 sobreviventes. Os investigadores suspeitam que as vítimas tenham morrrido de fome. Os mineiros trabalhavam ilegalmente na mina de Buffelsfontein, de 2,5 quilômetros de profundidade, e estavam presos há meses em um dos pontos de extração de ouro mais profundos do país. Após o resgate, todos os sobreviventes foram levados sob custódia, acusados de mineração ilegal e invasão. Segundo observadores presentes, muitos deixaram o local debilitados. A operação, que teve início na segunda-feira, encerra um cerco de meses promovido pelas forças de segurança para coibir as atividades ilegais na área. Polícia bloqueou acesso a comida e água, diz ONG Segundo organizações da sociedade civil, a polícia teria bloqueado o acesso a suprimentos que eram levados às profundezas da mina como forma de obrigar a saída dos trabalhadores ilegais. A estratégia foi defendida por um ministro sul-africano que argumentou que o isolamento da área seria uma forma de expulsar os mineiros do local. O cerco acontece ao menos desde agosto, afirmou o líder sindical Mametlwe Sebei, quando agentes removeram um sistema de polia usado para entregar alimentos e água. O governo se recusou, porém, a iniciar um resgate anteriormente. Para os grupos de defesa dos direitos humanos, isso pode ter sido definitivo para provocar a morte dos trabalhadores por fome ou desidratação. A operação para retirada dos garimpeiros só aconteceu após uma decisão judicial deferida na última semana. A causa oficial das mortes, no entanto, ainda não foi divulgada. Grupos que acompanharam o resgate e estão em contato com familiares acreditam que ainda existam corpos na mina e que os trabalhos não deveriam ter sido encerrados. A Federação Sul-Africana de Sindicatos também acusou o governo do país de permitir que os homens "morressem de fome nas profundezas da terra". "Esses mineradores, muitos deles trabalhadores sem documentos e desesperados de Moçambique e de outros países da África, foram deixados para morrer em uma das mais horríveis demonstrações de negligência voluntária do estado na história recente", disse a federação em um comunicado. Polícia nega as acusações A polícia nega as acusações. "Nunca bloqueamos nenhum poço. Nunca bloqueamos ninguém de sair", disse Athlenda Mathe, porta-voz nacional da polícia sul-africana. "Nosso mandato era combater a criminalidade, e é exatamente isso que fizemos. Se fornecêssemos alimentos, água e necessidades a esses mineradores ilegais, estaríamos permitindo e incentivando a criminalidade", acrescentou. As autoridades sul-africanas defendem que, ao isolar a área, a polícia não impediu os mineiros de saírem pelo poço, e que eles permaneceram no subsolo por medo de serem presos. Os ativistas, porém, disseram que a saída envolveria uma perigosa caminhada subterrânea, e muitos estavam bastante debilitados ou doentes pela falta de comida e água. O argumento das autoridades foi reforçado pelo ministro de Minas do país, Gwede Mantashe. Segundo ele, a mineração ilegal custou à África do Sul mais de 3 bilhões de dólares no ano passado. "É uma atividade criminosa. É um ataque à nossa economia por estrangeiros, principalmente", disse. Segundo a polícia, desde agosto de 2024, 1.576 mineiros saíram do local de forma autônoma até o início da operação de segunda-feira. Todos foram presos, e 121, deportados. O Partido da Aliança Democrática, o segundo maior da coalizão governamental liderada pelo Congresso Nacional Africano, disse nesta quarta-feira que a repressão na mina "saiu totalmente do controle" e pediu uma investigação independente. A mineração ilegal é comum em algumas partes da África do Sul. Normalmente, mineradores sem documentos conhecidos como "zama zamas" entram em minas abandonadas por mineradores comerciais e tentam extrair o que resta. Alguns atuam sob o controle de gangues criminosas violentas. A maioria dos mineradores encontrados em Stilfontein eram imigrantes de Moçambique, Zimbábue e Lesoto. Apenas 21 deles eram sul-africanos, segundo a polícia. Um tribunal decidiu em dezembro que voluntários deveriam ser autorizados a enviar suprimentos essenciais para os mineradores cercados. Uma decisão separada na semana passada ordenou que o estado iniciasse o resgate. gq (Reuters, AP, ots)
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