Ultradireita larga na frente em eleição ao Parlamento da França
Reunião Nacional, de Marine Le Pen, obtém vitória histórica em votação ao Parlamento, com cerca de 33%, Aliança do presidente Macron fica em terceiro lugar, atrás da coalizão de esquerda.A ultradireitista Reunião Nacional (RN) de Marine Le Pen conseguiu uma vitória histórica no primeiro turno das eleições legislativas francesas, com cerca de 33,15% dos votos à Assembleia Nacional (câmara baixa do Parlamento francês), seguida pela coalizão de partidos de esquerda Nova Frente Popular (NFP), com 27,99%, e da coligação do presidente Emmanuel Macron, chamada Juntos, que ficou em terceiro lugar, com apenas 20,04%, de acordo com os resultados oficiais, divulgados nesta segunda-feira (01/07). Os números apontam um desempenho da RN em linha com o projetado pelas pesquisas, e indicam que a situação do presidente francês Emmanuel Macron, que ainda tem pouco menos de três anos pela frente no cargo, deve se tornar mais difícil. A Assembleia Nacional, onde ele já não tinha maioria desde 2022, pode travar seu governo. No sistema semipresidencialista da França, o presidente e os membros do governo são eleitos separadamente. Um presidente depende de um primeiro-ministro indicado pelo Parlamento para assegurar a governabilidade. Para obter a maioria absoluta e poder liderar um governo estável, um partido precisa de 289 das 577 cadeiras na Assembleia Nacional – antes da nova votação, Macron tinha apenas 250. A taxa de comparecimento dos franceses às urnas foi de quase 67% – a maior dos últimos 40 anos. O que acontece agora? A real composição da Assembleia Nacional só será conhecida após o segundo turno, marcado para o próximo domingo, dia 7 de julho. Pelas projeções das emissoras francesas de TV TF1 e France 2, a RN teria entre 230 e 280 dos 577 assentos, seguida pela NFP com entre 125 e 200 das cadeiras, e, por fim, a coalizão de Macron com entre 60 e 100 deputados. Por causa do sistema fragmentado de disputas, o resultado final da formação da Assembleia costuma ser difícil de prever. A julgar pelos dados preliminares, nenhuma coalizão tem a maioria dos votos. Por isso, é de se esperar que muitos assentos ainda estejam indefinidos. O sistema eleitoral francês prevê disputas locais em dois turnos para definir os 577 assentos da Assembleia Nacional. Vencem no primeiro turno aqueles que obtiverem a maioria absoluta dos votos, desde que a quantidade de votos recebidos equivalha a pelo menos 25% do eleitorado. Quando isso não acontece, aqueles com mais 12,5% dos votos vão ao segundo turno – que pode envolver até três ou quatro candidatos. Macron dissolveu Assembleia Nacional após vitória da ultradireita nas eleições europeias Em 9 de junho, após ver sua aliança centrista derrotada pela Reunião Nacional (RN) nas eleições ao Parlamento Europeu, Macron anunciou a dissolução da Assembleia Nacional e a convocação de eleições antecipadas. Ao convocar uma eleição-relâmpago, o francês esperava voltar a atrair os eleitores que se opõem à ultradireita de Le Pen, como ocorrera nas presidenciais de 2017 e 2022, e eventualmente eleger uma Assembleia Nacional mais favorável. Reações A chegada ao poder da ultradireita, pela primeira vez desde a libertação da França da ocupação da Alemanha nazista em 1945, aumentaria o espaço ocupado por essa tendência na União Europeia (UE), que hoje governa Itália e Hungria. Tal cenário poderia enfraquecer a política de Macron de apoio à Ucrânia. Embora diga apoiar Kiev, o partido de Le Pen, cujos detratores a veem como próxima da Rússia de Vladimir Putin, enfatiza que quer evitar uma escalada com Moscou. Reagindo à liderança eleitoral da RN, Macron pediu a formação de uma aliança democrática "ampla" para o segundo turno, e afirmou que a alta taxa de comparecimento do eleitorado às urnas demonstra o "desejo de esclarecer a situação política". "Os franceses quase apagaram o bloco macronista", disse Le Pen. Para ela, "a democracia falou" e os números são um sinal claro de que os eleitores querem "virar a página depois de sete anos de poder desdenhoso e corrosivo". Ainda assim, frisou que "nada está ganho" e que o segundo turno "é decisivo". Nome da RN para o cargo de primeiro-ministro, Jordan Bardella, 28, advertiu seus eleitores contra o que chamou de "perigosa extrema esquerda". "A escolha é clara", discursou, acusando a NFP de querer "desarmar a polícia", "escancarar as portas para a imigração" e de "insultar instituições e qualquer um que pense diferente deles". Já a NFP, que está em segundo lugar segundo as projeções, pediu união para barrar a RN e disse que irá retirar candidaturas do segundo turno que estiverem em terceiro lugar para não correr risco de que uma disputa de votos no campo democrático acabe beneficiando a ultradireita. "Nossa linha é simples e clara: nenhum voto a mais para a Reunião Nacional", afirmou Jean-Luc Melenchon, líder da França Insubmissa, que integra a NFP. Ultradireita disse antes que não apresentaria primeiro-ministro sem maioria dos deputados Caso a RN conquiste maioria absoluta, ela assegurará a indicação do próximo primeiro-ministro e gabinete. Esse cenário, quando o presidente e primeiro-ministro são de grupos políticos rivais, é denominado na França de "coabitação”. Isso já aconteceu três vezes (1986-1988, 1993-1995, e 1997-2002), mas em casos que envolveram partidos tradicionais, nunca com uma legenda radical como a RN. A RN condicionou a indicação de Bardella a para primeiro-ministro à obtenção de maioria na Assembleia Nacional. O programa de governo de Bardella busca limitar a imigração, impor "autoridade" nas escolas e reduzir as contas de eletricidade dos franceses. Caso a RN não forme maioria, a Constituição francesa é pouco clara sobre o que deve ser feito. Macron poderá manter um enfraquecido Gabriel Attal como premiê provisório ou se ver obrigado a procurar um primeiro-ministro na esquerda ou de algum grupo completamente diferente, sem o endosso da maioria do eleitorado. ra (dpa, AFP, DW, ots)
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