'Para onde podemos ir?', se perguntam os habitantes de Rafah após Israel ordenar evacuação

Civis palestinos na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, estavam desesperados nesta segunda-feira (6), depois que Israel começou a lançar panfletos com ordens de evacuação, antes do início de uma operação militar "limitada".

Moradores de Rafah relataram que panfletos começaram a cair do céu ordenando que 'se retirassem imediatamente', após a cidade ter sido alvo de uma dúzia de bombardeios durante a noite.

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O Exército israelense garantiu que pediu a retirada das famílias palestinas no leste de Rafah, antes de lançar um ataque terrestre contra esta cidade na fronteira com o Egito.

"O Exército está trabalhando intensamente contra as forças terroristas próximas a vocês", dizia um dos panfletos que circulavam no leste de Rafah.

"Para sua segurança, [...] evacuem imediatamente para as zonas humanitárias expandidas de al Mawasi", anuncia, juntamente com um mapa indicando a localização no norte de Rafah.

Osama al Kahlut, do Crescente Vermelho palestino em Gaza, disse à AFP que as áreas designadas para evacuação acolhem atualmente cerca de 250 mil pessoas, muitas das quais já foram deslocadas de outras áreas da Faixa de Gaza.

"O processo de evacuação já começou, mas de forma limitada", acrescentou.

Depois de ser questionado sobre quantas pessoas deveriam ser retiradas, um porta-voz militar israelense disse que "a estimativa é de cerca de 100 mil pessoas".

A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 1,2 milhão de pessoas vivam em Rafah, a maioria deslocadas durante a guerra de sete meses entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas.

Sob chuva, alguns destes refugiados em Rafah disseram que começaram a recolher os seus pertences em barracas abarrotadas e se preparavam para partir antes mesmo de Israel ordenar a evacuação.

"Aconteça o que acontecer, eu já estou pronto", disse um morador à AFP.

Por outro lado, outros dizem que a área para onde foram orientados a fugir estava superlotada e não confiavam que fosse segura.

Abdul Rahman Abu Jazar, de 36 anos, indicou que ele e doze membros da sua família estavam no ponto designado, mas que "não há espaço suficiente para montar a nossa barraca porque está cheia de pessoas deslocadas".

"Para onde podemos ir? Não sabemos", declarou.

"Da mesma forma, não há hospitais e está longe dos serviços de que muitos necessitam", disse, acrescentando que um membro da sua família dependia de diálise no hospital Al Najar, na zona de Rafah que está sob ordem de evacuação.

"Como vamos cuidar dela depois disso? Deveríamos vê-la morrer indefesa?".

Um porta-voz militar israelense disse aos repórteres que a evacuação "faz parte dos nossos planos para desmantelar o Hamas [...] Ontem tivemos um lembrete violento de sua presença e capacidades operacionais em Rafah".

No domingo, quatro soldados israelenses foram mortos e outros ficaram feridos, anunciou o Exército, em um ataque à passagem fronteiriça de Kerem Shalom entre Israel e Gaza, lançado a partir de uma área adjacente a Rafah, disse.

Organizações internacionais de ajuda soaram o alarme sobre a invasão a Rafah.

"Do ponto de vista humanitário, não existe um plano humanitário confiável para um ataque a Rafah", disse Bushra Khalidi, diretora da Oxfam nos territórios palestinos.

Ela se pergunta para onde vão os deslocados "quando a maior parte do seu entorno estiver reduzida à morte e aos escombros".

A guerra entre o Hamas e Israel começou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas lançaram um ataque ao sul de Israel no qual 1.170 pessoas, a maioria civis, foram mortas e cerca de 250 sequestradas, segundo um relatório da AFP baseado em dados israelenses.

Israel estima que 128 pessoas permanecem cativas em Gaza e que 35 morreram até agora. A ofensiva lançada por Israel já deixou 34.683 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território palestino governado pelo Hamas.

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