Uma 'candidata' nas ruas e outro na cédula: a oposição venezuelana nas eleições

Em cima de caminhão, no furor de cada discurso, María Corina Machado abre um cartaz de Edmundo González Urrutia diante da multidão. "Temos candidato!", grita a inabilitada líder opositora venezuelana, alma da campanha presidencial contra Nicolás Maduro.

Mais de dois milhões de pessoas votaram em Machado nas primárias opositoras para ser a adversária de Maduro, no poder desde 2013. mas ela ficou de fora da cédula eleitoral por uma sanção da Controladoria, de linha governista, que a impede de exercer cargos públicos por 15 anos. González Urrutia, um ilustre desconhecido de 74 anos, se tornou o candidato formal da oposição majoritária.

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Mas Machado é a campanha. Há semanas ela percorre o país em automóvel - as autoridades a impedem de pegar um avião - e reúne multidões a cada lugar que visita.

No estado de Zulia, na fronteira com a Colômbia e maior colégio eleitoral do país, Machado lidera um comício diante de milhares de pessoas em sua capital Maracaibo. Nesta região petroleira, que entrou em declínio em meio à corrupção e ao desinvestimento na indústria, começou a exploração comercial de petróleo venezuelano há mais de um século.

Favorita nas pesquisas, Machado abre passagem entre seguidores eufóricos, que querem abraçá-la, tocá-la, apertá-la... e chega ao palanque: é uma imagem típica da campanha.

Em seu discurso, promete ser "a presidente de todos os venezuelanos", embora formalmente não seja a candidata, mas o diplomata que até agora não apareceu em público com ela: não há uma foto ou um vídeo nas redes sociais, muito menos um ato político.

"É um homem bom, sério, honrado. E, por isso, quero pedir... que em 28 de julho votemos com energia", exclama María Corina da carroceria de um caminhão transformado em palanque. "Vamos ganhar, vamos nos recuperar, vamos arrasar!", prevê.

"Estamos prontos!", responde a multidão. "Vamos libertar a Venezuela!", insiste.

Depois que o tribunal supremo ratificou em janeiro de 2024 a inabilitação de Machado, que ela tacha de ilegal, a coalizão opositora Plataforma Unitária Democrática (PUD) tentou inscrever uma primeira candidatura, que foi bloqueada, e no último minuto González, de maneira provisória.

Sem que nunca tivesse disputado um cargo de eleição popular, a PUD decidiu confirmá-lo como candidato.

"Eles acreditavam que, bloqueando o meu caminho, as pessoas diriam 'até aqui chegamos' e o que aconteceu foi o contrário", diz Machado à AFP depois do comício. "As pessoas me dizem, 'eu voto em quem você disser' e estou profundamente grata porque isso demonstra grande confiança."

"Quando, além disso, Edmundo González Urrutia aceitou esta responsabilidade, ficou claro o que cada um iria contribuir neste processo", acrescenta.

Jesús Castillo-Molleda, cientista político e sócio-diretor da firma Polianalítica, define a campanha "como se fossem gêmeos: por um lado a porta-voz, e pelo outro o candidato real".

O também cientista político e analista Nicmer Evans concorda: "temos hoje um candidato formal e uma candidata de campo. Edmundo González é a garantia, até agora, de participação e união estratégica, enquanto María Corina é a líder de massa que percorre o país mobilizando o voto."

E apesar de o rosto de Machado monopolizar a campanha, alguns dos presentes no comício em Maracaibo usavam camisas e bonés com o nome do candidato unitário e o slogan "Edmundo para todo o mundo".

"Estamos conscientes de que o candidato é Edmundo González Urrutia, mas a líder da oposição é María Corina Machado", diz Javier Atencio, presente no comício em Maracaibo. "Quem María Corina Machado disser que é o candidato, toda a Venezuela votará nele".

"Embora, lamentavelmente, o senhor Edmundo não possa percorrer o país [...], ela está aqui dando a cara para todos os venezuelanos", assinala, por sua vez, Ithzandra Ledezma, proprietária de uma padaria em Maracaibo.

A dirigente chega a Zulia depois de passar por outros estados com sua bandeira de González Urrutia. Do papel à realidade? "Quando possível, provavelmente eu a acompanhe em alguma ou outra atividade", disse o candidato à AFP. "Falta pouco, mas não vou adiantar", acrescentou Machado.

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Venezuela eleições política Maria Corina Machado Nicolás Maduro

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