Hamas vai retomar negociações após examinar proposta israelense de trégua em Gaza

O movimento islamista palestino Hamas, que desde o fim de abril estuda sua resposta a uma proposta de trégua com Israel em Gaza, anunciou nesta sexta-feira (3) que enviará no sábado uma delegação ao Cairo para retomar as negociações, com um "espírito positivo".

"A delegação do Hamas viajará para o Cairo amanhã, sábado, para continuar as negociações. Ressaltamos o espírito positivo com que a liderança do Hamas tratou a proposta de cessar-fogo recebida recentemente e estamos indo ao Cairo com o mesmo espírito para chegar a um acordo", disse o movimento em um comunicado.

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O plano de trégua inclui o fim dos combates por 40 dias e a troca de reféns israelenses mantidos em Gaza desde 7 de outubro por palestinos presos em Israel.

Mas o Hamas, que governa Gaza desde 2007, exige um cessar-fogo permanente e a retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza, arrasada por quase sete meses de guerra.

"O Hamas e as forças de resistência palestinas estamos determinados a chegar a um acordo que atenda às demandas do nosso povo para a completa cessação da agressão, a retirada das forças de ocupação, o retorno das pessoas deslocadas, a ajuda e a reconstrução e um acordo sério de troca", disse a declaração.

A trégua seria a primeira desde a do final de novembro, que permitiu a troca de 105 reféns mantidos em Gaza por 240 palestinos presos em Israel.

Nesta sexta-feira, uma autoridade do Hamas acusou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de tentar obstruir as negociações com suas declarações públicas, reiterando sua determinação de ordenar uma invasão de Rafah, no sul de Gaza.

A Netanyahu "não interessa um acordo e por isso faz declarações (...) para frustrar os esforços", acrescentou o dirigente, Hosam Badran, em declarações à AFP.

O líder israelense afirma que Rafah é o último bastião dos comandos do Hamas e que Israel não pode reivindicar a vitória até que haja uma operação terrestre na cidade, onde 1,5 milhão de palestinos, a maioria deles deslocados pela guerra, estão amontoados.

"Entraremos em Rafah e eliminaremos os batalhões do Hamas, com ou sem um acordo [de trégua], para alcançar a vitória total", disse Netanyahu na terça-feira.

A guerra eclodiu em 7 de outubro, após a incursão de comandos do Hamas no sul de Israel, onde mataram 1.170 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 250, segundo um relatório da AFP baseado em dados israelenses.

As autoridades israelenses estimam que, após a troca de novembro, 129 pessoas ainda estão detidas em Gaza, mas suspeitam que 35 dos sequestrados estejam mortos.

A ofensiva lançada por Israel em resposta ao ataque de 7 de outubro deixa até agora 34.622 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas.

O chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, indicou na quinta-feira que o Hamas avaliava com "espírito positivo" a proposta de trégua e que o grupo enviará "em breve" uma delegação ao Cairo, onde ocorrem as negociações indiretas, mediadas pelo Egito, Catar e Estados Unidos.

Essas declarações alimentam a esperança de um acordo que dê um respiro à população de Gaza, onde os bombardeios israelenses mataram 26 pessoas nas últimas 24 horas, segundo o Ministério da Saúde do território palestino.

Os últimos bombardeios atingiram principalmente Rafah, na fronteira com o Egito.

A ONU e muitos países, inclusive os EUA, expressaram o temor de uma catástrofe humanitária caso Israel ordenasse uma invasão da cidade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) "está profundamente preocupada com o fato de que uma operação em grande escala em Rafah, Gaza, poderia levar a um banho de sangue e enfraquecer ainda mais um sistema de saúde já desmantelado", disse o diretor-geral da agência da ONU, Tedros Adhanom Ghebreyesus, nesta sexta-feira.

Uma moradora de Rafah, Sanaa Zoorob, disse que perdeu sua irmã e seis sobrinhos.

Duas das crianças "foram encontradas despedaçadas nos braços de sua mãe", disse ela, pedindo "um cessar-fogo permanente".

A crise humanitária e o crescente número de mortes em Gaza provocaram manifestações em todo o mundo, inclusive um grande movimento de protesto nos campi dos EUA, que foi reprimido pela polícia.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou na quarta-feira o rompimento das relações com Israel e a Turquia anunciou na quinta-feira a suspensão de todo o comércio.

Uma das principais questões é a chegada de mais ajuda a Gaza, onde 2,4 milhões de pessoas enfrentam grave escassez devido ao cerco de Israel.

Sob pressão dos EUA, Israel aumentou o fluxo de ajuda nos últimos dias e a OMS disse na sexta-feira que a disponibilidade de alimentos melhorou ligeiramente.

Além disso, Netanyahu enfrenta protestos dentro de Israel de que seu governo, que é formado por partidos nacionalistas, de extrema direita e judeus ultraortodoxos, deveria negociar a libertação dos sequestrados.

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