Orgulho e frustração entre os palestinos após a decisão da CIJ
Em suas casas, nas ruas e até em cinemas de Gaza ou da Cisjordânia, os palestinos aguardaram esta sexta-feira (26) com esperança, mas ficaram divididos entre o orgulho e a frustração com a decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ).
"Me sinto orgulhoso da decisão da Corte, é a primeira vez que o mundo diz a Israel que passou dos limites", afirmou Maha Yasin em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, após o veredicto desse tribunal da ONU ser revelado.
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A CIJ, com sede em Haia, exigiu de Israel que impeça qualquer ato de genocídio em Gaza e permita a entrada de ajuda humanitária no território palestino, cenário de uma intensa ofensiva militar contra o Hamas, em represália a um sangrento ataque de milicianos islamistas.
"O que Israel nos fez em Gaza nestes quatro meses não ocorreu nunca na história. Pelo menos tenho a impressão de que o mundo começa a se simpatizar conosco", comenta essa palestina de 42 anos, uma dos 1,7 milhão de palestinos deslocados pela guerra, segundo estimativas da ONU.
"Nosso sangue, nossos mártires, nossas perdas físicas e mentais não são em vão", acrescenta.
Segundo as autoridades do Hamas, no poder em Gaza, os bombardeios e operações terrestres israelenses mataram 26.083 pessoas, em sua grande maioria mulheres e menores.
Em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, a decepção era palpável entre as dezenas de palestinos reunidos em um cinema, alguns deles com cartazes nos quais se lia em inglês: "Ninguém é livre até que todos sejam livres".
"Nos sentíamos muito otimistas, mas agora estamos insatisfeitos", diz Mays Shabana, uma das participantes.
"O tribunal poderia ter pedido claramente um cessar-fogo, além de facilitar a entrada de ajuda humanitária em Gaza", explica Hala Abu Gharbiyeh, sacudindo uma bandeira da África do Sul, o país que pediu à CIJ que investigasse se as operações israelenses supunham um risco de "genocídio".
A guerra começou em 7 de outubro com a incursão de comandos islamistas em Israel, que mataram cerca de 1.140 pessoas, em sua maioria civis, e sequestraram 250, segundo um balanço da AFP a partir de dados oficiais israelenses.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas, classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia e Israel, e lançou uma ampla operação militar em Gaza.
Nesta sexta-feira, uma onda humana se formou ao redor da cidade de Khan Yunis, no sul de Gaza. Desde ontem, em mensagens em árabe nas redes sociais, o Exército israelense insta a população a se retirar de certas áreas da cidade, onde veículos blindados tomaram posição.
Dezenas de milhares de palestinos tentam ir mais ao sul do pequeno território de 362 km².
Muitos deles são crianças. Alguns estão sentados no chão, suportando o frio, em frente à Universidade Al Aqsa, a oeste de Khan Yunis. Outros caminham, cobertos com mantas.
O Exército israelense registrou algumas pessoas e abriu fogo, segundo testemunhas entrevistadas pela AFP.
Entre eles, Mushtana Musalim, de 56 anos, se diz "agradecido à África do Sul" por ter apresentado uma "denúncia contra Israel" e considera que a decisão de Haia constitui um "avanço" para os palestinos.
"Mas se remontamos à história, Israel não reconhece as decisões internacionais", enfatiza. A CIJ emite decisões juridicamente vinculantes e inapeláveis, mas não possui meios para fazer com que elas sejam cumpridas.
"Vivemos humilhados. Parem a guerra! Parem-na!", suplica Inas al Najjar, enquanto uma espessa nuvem de fumaça se eleva sobre Rafah.
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