Secretário-geral da ONU denuncia 'punição coletiva' aos palestinos
A violência do Hamas "não justifica a punição coletiva" aos palestinos, afirmou, nesta sexta-feira (8), o secretário-geral da ONU, colocando pressão no Conselho de Segurança, que deve decidir sobre seu chamado a um "cessar-fogo", rejeitado pelos Estados Unidos.
"Condeno sem reservas" os ataques do Hamas de 7 de outubro, mas "a violência cometida pelo Hamas não pode justificar, em nenhum caso, a punição coletiva do povo palestino", declarou António Guterres.
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Na quarta-feira, o secretário-geral invocou pela primeira vez o artigo 99 da Carta da ONU para provocar esta reunião extraordinária do Conselho sobre um assunto que "poderia colocar em perigo a manutenção da paz e da segurança internacionais".
"Mesmo que o lançamento indiscriminado de foguetes contra Israel por parte do Hamas e o uso de civis como escudos humanos sejam violações das leis da guerra, esse comportamento não absolve Israel de suas próprias violações", insistiu, descrevendo uma vez mais uma situação humanitária "no ponto limite" na Faixa de Gaza.
"O mundo e a História estão olhando para nós. É hora de agir", acrescentou, diante dos membros do Conselho, pedindo-lhes que "pressionem por um cessar-fogo humanitário imediato".
O chamado de Guterres foi apoiado por um grupo de diplomatas de países árabes, mas rechaçado pelos Estados Unidos, principal aliado de Israel e membro permanente do Conselho com poder de veto.
"Os Estados Unidos apoiam firmemente uma paz duradoura, na qual ambos, israelenses e palestinos, possam viver em paz e com segurança, mas não apoiamos os pedidos de um cessar-fogo imediato", disse o embaixador adjunto dos Estados Unidos na ONU, Robert Wood.
"Isto apenas semearia as sementes da próxima guerra", acrescentou.
Desde o ataque sem precedentes contra Israel cometido em 7 de outubro pelo movimento islamista palestino Hamas, que segundo as autoridades israelense deixou cerca de 1.200 mortos, principalmente civis, Israel impôs um "cerco total" e bombardeou maciçamente a Faixa de Gaza.
Alimentos, água, combustível e medicamentos chegam a conta-gotas, enquanto cerca de 1,9 milhão de pessoas, 85% da população, tiveram que deixar suas casas, de acordo com a ONU.
Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa Gaza, mais de 17.000 pessoas morreram na ofensiva israelense, a maioria mulheres e menores de idade.
Após a invocação do artigo 99 por parte de Guterres, os Emirados Árabes Unidos prepararam um projeto de resolução cuja votação foi adiada para o fim do dia.
A última versão desse breve texto vista pela AFP destaca a "situação catastrófica na Faixa de Gaza" e "exige um cessar-fogo humanitário imediato".
Também pede a proteção dos civis, a libertação "imediata e incondicional" de todos os reféns e "garantias de acesso humanitário" ao território palestino.
A oposição dos Estados Unidos faz com que seja pouco provável que o Conselho aprove um cessar-fogo. Quatro projetos de resolução sobre o tema já foram rejeitados desde o início da guerra.
Em novembro, o órgão decisório da ONU aprovou uma resolução que pedia "pausas e corredores humanitários" na Faixa de Gaza, e não um "cessar-fogo", nem sequer uma "trégua".
"Apressar uma votação sem negociar seria um grande erro", afirmou nesta sexta o embaixador francês na ONU, Nicolas de Riviere.
"A última coisa que o Conselho precisa hoje é um novo enfrentamento e um novo fracasso", acrescentou.
"Os Estados Unidos e todos os demais Estados-membros do Conselho de Segurança da ONU têm uma clara obrigação, segundo o direito internacional, de impedir as atrocidades", comentou em comunicado a secretária-geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard.
"Esperamos que hoje [...] o Conselho possa finalmente pedir um cessar-fogo imediato", conclamou o embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour. "É chegada a hora da coragem [...] É preciso agir agora."
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