Kiev não quer atletas olímpicos russos sob bandeira neutra 'manchada de sangue', diz ministro à AFP

O governo ucraniano está "muito preocupado" com o pedido das federações esportivas e comitês olímpicos nacionais para reintegrar russos e bielorrussos, a título individual e sob bandeira neutra, à tempo para os Jogos Olímpicos de Paris, declarou, nesta quarta-feira (6), à AFP o ministro interino de Esportes da Ucrânia, Marviy Bidnyi.

Na terça-feira, as federações esportivas internacionais pediram ao Comitê Olímpico Internacional (COI) que admitisse "o mais breve possível" atletas russos e bielorrussos nos Jogos Olímpicos de 2024 em Paris, sob bandeira neutra.

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"Como bem disse o presidente Volodimir Zelensky: 'evidentemente, toda bandeira neutra de atletas russos está manchada de sangue'", adverte Marviy Bidnyi.

"Contamos com uma decisão responsável e uma direção do COI que não permita à Rússia utilizar o esporte com fins de propaganda militar", acrescentou o ministro interino, que assumiu o cargo após o afastamento de seu antecessor Vadym Gutzeit em novembro.

Desde o início da guerra na Ucrânia, iniciada pela invasão russa em fevereiro de 2022, o COI vem adiando sua decisão sobre a participação de atletas russos e bielorrussos nos Jogos Olímpicos de Paris.

A solução pedida pelas federações esportivas e os comitês olímpicos nacionais é a admissão de russos sob bandeira neutra, sem uniformes nem hinos nacionais.

"Respeitamos o princípio da neutralidade, mas a neutralidade só é possível em tempos de paz", protesta Bidnyi. "Quando há uma guerra e uma nação destrói a outra, a 'neutralidade' se torna uma irresponsabilidade."

Segundo Kiev, a única possibilidade de um atleta russo participar nos Jogos deveria ser com uma mudança de nacionalidade. "Rejeitar o passaporte russo é hoje o único meio possível para que um atleta demonstre que a excelência olímpica é sua maior prioridade, e que o atleta não assume nenhuma responsabilidade nos assassinatos de ucranianos", opinou o ministro.

De acordo com Bidnyi, 40 países apoiam a posição de Kiev, que deseja a exclusão pura e simples de russos e bielorrussos. Mas a ameaça ucraniana de boicotar os Jogos de Paris está cada vez mais distante, depois que vários atletas ucranianos expressaram desejo de enfrentar e derrotar os russos nas competições.

O ministro avalia, no entanto, que esse caso, para certos atletas ucranianos, poderia ser duro. "Moralmente, é muito difícil entrar em uma arena junto daqueles que querem lhe matar. E não em um sentido figurado, mas lhe matar de verdade".

"Nossos atletas estão enfrentando constantemente as provocações dos russos", insiste, e, portanto, "não podem estar em um estado emocional normal. Não posso imaginar o que sentiria se tivesse que rivalizar com os russos. É muito difícil".

Para Bidnyi, ademais, é provável que os atletas russos estejam relacionados, por vínculos próximos ou não, com soldados ativos no campo de batalha. "Imaginem entrar na arena e ter diante de você um homem que esteja a poucos conhecidos de distância de um soldado que tenha matado crianças em Butcha. Imaginem isso."

Segundo Marviy Bidnyi, a comunidade esportiva ucraniana pagou um alto preço pelo conflito. "Temos a confirmação de que 397 atletas e treinadores foram assassinados", garante, citando em especial atletas que poderiam estar nos Jogos Olímpicos, como o atirador Yegor Kigitov e o boxeador Maksym Galynichev.

"Em relação às infraestruturas esportivas, nossas perdas já superaram as 500 instalações, por um total de mais de 300 milhões de dólares [quase R$ 1,5 bilhão, na cotação atual]", insiste o ministro. "Isso pode ser reconstruído, mas as vidas humanas não podem ser restituídas", conclui.

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