Oposição venezuelana faz campanha com Maduro no horizonte

O duas vezes candidato à presidência da Venezuela Henrique Capriles distribui remédios de casa em casa em uma cidade perto de Caracas, um típico ato de campanha, embora ainda não tenha se candidatado oficialmente a nada.

Ele e outros líderes de uma fragmentada oposição já se mobilizam ante a possibilidade de participarem, este ano, das primárias para eleger o candidato único que enfrentará o presidente Nicolás Maduro nas eleições marcadas para 2024.

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Ainda sem uma data definida, as votações internas serão realizadas em meio a profundas divisões, após a eliminação, em janeiro, do simbólico "governo interino" de Juan Guaidó.

"Não sei se vou ser candidato", afirma Capriles, que enfrentou nas urnas o agora falecido Hugo Chávez, em 2012, e Maduro, em 2014.

Em entrevista à AFP, diz que sua candidatura dependerá da suspensão da inelegibilidade de 15 anos para o exercício de cargos públicos que lhe foi imposta em 2017 por "irregularidades administrativas" quando era governador do estado de Miranda (centro-norte). Ele nega a acusação.

Essa variável também afeta outros potenciais candidatos à presidência, como o próprio Guaidó.

"Se Maduro quiser eleições legítimas e competitivas, têm que ser sem inelegíveis", frisou Capriles, após o corpo a corpo feito na quarta-feira (1º), em Guarenas, cidade-dormitório a cerca de 40 km de Caracas, onde distribuiu remédios para pressão, anti-inflamatórios e antialérgicos, entre outros fármacos, a pessoas que apresentassem receita médica.

"Não é Maduro que escolhe o candidato", acrescentou.

As condições eleitorais são o ponto mais crítico das negociações, entre governo e oposição, retomadas no final do ano passado no México. Em contrapartida, o chavismo pede a retirada de todas as sanções internacionais que buscaram, sem sucesso, a queda de Maduro.

"Hoje, todos (os principais líderes da oposição) estão inelegíveis, presos, ou exilados", comentou Guaidó, em uma recente conversa com a AFP, que também não confirmou se concorrerá às primárias, embora tudo indique que sim.

Já confirmados nessa disputa estão María Corina Machado, da ala mais radical da oposição, assim como outros políticos de menor visibilidade, como Carlos Ocariz, ex-prefeito do município de Sucre, na Zona Metropolitana de Caracas.

As primárias enfrentam ainda um primeiro obstáculo: sua organização.

Machado rejeitou, por exemplo, que o processo seja instaurado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), como tem sido sugerido, pois acusa as autoridades eleitorais de favorecerem o governo.

"Não vou participar de um processo tutelado por Maduro", disse ela a uma estação de rádio local.

Capriles é recebido em Guarenas por um grupo de moradores. Está com um boné de beisebol da equipe Leones del Caracas, em vez daquele com as cores da bandeira venezuelana que costumava usar em aparições públicas.

Longe vão os tempos em que liderou mobilizações multitudinárias.

"A oposição está em uma fase de estagnação", mas "também está diante de oportunidades, se aproveitar o cenário pré-eleitoral para se mobilizar", afirma o assessor político Pablo Andrés Quintero.

Anos de ofensiva contra Maduro geraram desgaste, observa o especialista.

Acusações e críticas entre líderes da oposição surgem neste contexto, um reflexo das divisões que levaram ao fim do "governo interino", uma situação reconhecida em 2019 pelos Estados Unidos e por cerca de 50 países, devido a denúncias de "fraude" na reeleição de Maduro um ano antes.

Mentor de Guaidó e exilado na Espanha, Leopoldo López acusou Capriles e outro potencial candidato - o governador do estado de Zulia (noroeste), Manuel Rosales - de tentarem burlar as primárias e promover uma chapa para escolher um candidato único da oposição por consenso.

"Tem que ter primária", reagiu Capriles. "Não vejo um consenso possível", completou.

"São como bêbados brigando por uma garrafa vazia", ironizou Jorge Rodríguez, presidente do Parlamento - controlado pelo partido governista - e chefe da delegação negociadora de Maduro, sobre as fraturas da oposição.

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