Nobel Maria Ressa denuncia 'clima de medo' nas Filipinas

A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz Maria Ressa sempre tem uma mochila com objetos pessoais à mão e, em uma época, chegou a andar com dinheiro em espécie para pagar sua fiança, caso fosse presa em sua luta pela liberdade de imprensa nas Filipinas.

A editora do veículo digital Rappler foi absolvida, nesta quarta-feira (18), de quatro acusações de evasão fiscal, mas disse que está preparada para o pior. Ainda há três casos em aberto na Justiça que podem levá-la à prisão, ou ao fechamento de seu portal de notícias on-line.

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Ressa, que dividiu o prêmio com o russo Dmitri Muratov em 2021, enfrenta uma série de acusações que os defensores da liberdade de imprensa atribuem às suas duras críticas ao ex-presidente Rodrigo Duterte e sua guerra contra as drogas, que já custou milhares de vidas.

"Acho que o que o presidente Duterte fez foi criar um clima de medo. E isso é para todos, para os jornalistas, para as empresas, para as instituições", disse ele em entrevista à AFP.

Desde que seus problemas legais começaram, logo após a eleição de Duterte em 2016, Ressa disse que tomou medidas para preparar seus repórteres para a perspectiva de uma invasão da polícia às redações do Rappler.

E os exercícios de simulação continuam, mesmo depois que Ferdinand Marcos foi eleito sucessor de Duterte no ano passado.

"Sim, fazemos, porque quem sabe o que pode acontecer? Quando você está na areia movediça, você está na areia movediça", justificou Ressa.

Depois que a agência reguladora do setor determinou o fechamento do Rappler no início de 2018, Ressa contou que reuniu sua equipe - 120 pessoas com idade média de 23 anos - e ofereceu-lhes ajuda para encontrar novos empregos, se quisessem pedir demissão.

Ninguém quis sair, e Rappler continua funcionando, enquanto luta contra uma ordem de fechamento nos tribunais.

"A melhor coisa sobre esses últimos seis anos - na verdade, serão sete - é que eles nos tornaram mais fortes. Nietzsche estava certo. O que não mata, fortalece", completou.

Ressa, de 59 anos, conta que arrumou uma mochila de emergência com uma muda de roupa, lençóis, pasta de dente e uma fronha, depois de ser condenada por difamação cibernética em 2020.

"Tem que preparar uma mochila para o caso de prenderem você e ir para a cadeia", explica, acrescentando que manteve a mochila pronta mesmo depois do anúncio de liberdade sob fiança, decorrente da apelação.

"Houve um tempo em que eu levava o dinheiro da fiança comigo o tempo todo, porque não sabíamos quando seríamos presos", acrescentou.

Ela e a equipe do Rappler também tiveram de enfrentar uma onda de assédio on-line e ameaças de morte.

"Quando falávamos do que poderia acontecer hoje, a primeira coisa em que pensamos foi uma condenação e depois uma absolvição. Porque é a primeira vez, desde que o presidente Duterte assumiu o cargo, que temos uma vitória legal", observou.

Ressa, que também tem passaporte americano, disse que nunca deixaria as Filipinas para evitar um processo.

"Você engole suas emoções e as leva para o fundo do estômago", afirmou, acrescentando que houve uma "mudança".

"Hoje, tenho muito mais esperança do que ontem à noite", completou.

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