Ataques ucranianos na Rússia têm forte valor simbólico para Kiev

O envio de drones contra duas bases aéreas russas localizadas a centenas de quilômetros de sua fronteira representa uma importante vitória simbólica para a Ucrânia, que demonstra sua capacidade de contrariar a aparente superioridade armamentista de seu inimigo.

Moscou acusou na segunda-feira as forças ucranianas de atacar duas bases aéreas em seu território, afirmando que três soldados morreram e dois aviões sofreram danos leves.

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Kiev não reivindicou o ataque nesta terça-feira (6), mas especialistas ocidentais disseram à AFP que a ação foi realizada por drones de reconhecimento dos anos 1970, de fabricação soviética.

Embora ainda existam incógnitas, os especialistas apontam que é uma operação limitada, mas muito eficaz em nível simbólico.

Várias fontes mencionam drones de reconhecimento Tupolev TU-141 Strizh, aparelhos soviéticas capazes de voar a grandes altitudes. Nesse caso, "os drones teriam sido modificados para terem capacidade de bombardeio", agindo como um drone suicida que se autodestrói com o impacto, disse à AFP Vikram Mittal, professor da Academia Militar dos Estados Unidos em West Point.

"Não se trata de tecnologia sofisticada", afirmou à AFP Jean-Christophe Noël, especialista do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI).

Mas os ucranianos poderiam ter adicionado uma carga explosiva e orientação por GPS, ou mesmo "orientação terminal por forças especiais ucranianas" em solo russo.

De acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, Kiev "tentou realizar ataques de drones projetados pelos soviéticos contra a base aérea de Diaghilevo na região de Ryazan e a base aérea de Engels na região de Saratov" (centro).

Moscou acusa o inimigo de tentar "inutilizar aviões russos de longo alcance", que são usados para ataques direcionados contra inúmeras infraestruturas de energia na Ucrânia.

As bases atingidas estão localizadas a várias centenas de quilômetros da fronteira com a Ucrânia, e ainda mais longe do front.

Os ataques são uma resposta aos bombardeios russos no interior do território ucraniano.

Embora não tenham nada a ver com a letalidade e os alvos dos ataques russos (nenhum civil foi atingido e nenhuma infraestrutura crítica foi afetada), a Ucrânia demonstra uma significativa capacidade de ataque de longa distância.

"A capacidade da Ucrânia de atacar a essa distância é impressionante", disse o ex-general australiano Mick Ryan no Twitter.

Os ucranianos "podem ter tido a ajuda de terceiros para planejar a missão, mas não é uma certeza. Uma combinação de fontes abertas, conhecimento das falhas da rede de defesa russa e observação do solo pode ter sido suficiente", analisou.

A maior vitória ucraniana foi o óbvio efeito surpresa e a incapacidade dos russos de contra-atacar antes que os drones se aproximassem de seus alvos.

"O que é realmente incrível é que esses drones conseguiram superar os sistemas de defesa russos terra-ar", disse Vikram Mittal.

Rob Lee, pesquisador do King's College de Londres, vê isso como um sinal muito desfavorável para Moscou.

"Se os radares russos e as defesas aéreas não puderem impedir um TU-141 voando a centenas [de quilômetros] de atingir a principal base aérea de seus bombardeiros estratégicos em uma situação de guerra, isso não é um bom presságio para sua capacidade de impedir um ataque massivo com mísseis de cruzeiro", explicou.

"É um golpe psicológico" que "vai causar consternação numa opinião que se acreditava protegida da guerra", disse Ryan, curioso para ver "a reação da máquina de propaganda russa".

O Instituto Americano para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês) observou nesta terça-feira uma abundância de críticas nas contas do Telegram de observadores militares russos.

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