Qual será o impacto da retirada russa da cidade ucraniana de Kherson?

O exército da Rússia anunciou, nesta quinta-feira (10), o início da retirada de suas tropas de Kherson, uma cidade estratégica do sul da Ucrânia que Moscou ocupava desde o fim de fevereiro. Confira algumas explicações sobre o impacto deste revés para o presidente Vladimir Putin.

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O comandante das operações russas na Ucrânia, o general Sergei Surovikin, apresentou esta retirada como uma forma de salvar os milhares de soldados russos no terreno, encurralados contra o rio Dnieper e sob forte pressão.

Desde o fim de agosto, o exército ucraniano realiza uma ampla contraofensiva na região, que lhe permitiu retomar, passo a passo, dezenas de localidades.

Utilizando artilharia de longo alcance de alta precisão fornecida pelo Ocidente, sobretudo os mísseis do sistema americano Himars, Kiev bombardeia há semanas, sem descanso, os depósitos de munições e as linhas de abastecimento russas na região.

Também aumentaram as execuções seletivas de integrantes do alto escalão pró-Rússia.

"O inimigo não teve outra escolha além de fugir", declarou nesta quinta o general Oleksiy Gromov, representante do Estado-Maior ucraniano, que, no entanto, acrescentou que era impossível "confirmar ou negar" se os russos haviam realmente se retirado.

Moscou já havia ordenado a evacuação dos civis e da administração de ocupação de Kherson, em 18 de outubro, para a margem leste do Dnieper, uma barreira natural onde Moscou poderia consolidar mais facilmente as suas linhas.

O centro de análise militar ISW considerou pouco provável que o anúncio da retirada russa fosse uma manobra de Moscou.

Disse que havia constatado, recentemente, "uma retirada constante das forças russas, dos recursos militares e econômicos e dos elementos da ocupação" para a margem leste do Dnieper.

A retirada das tropas russas é um enorme revés para Vladimir Putin, que havia anunciado a anexação da província de Kherson em setembro, junto com outros três territórios ucranianos, e havia prometido que essas terras seriam russas "para sempre".

Estrategicamente, será difícil para Moscou continuar sua ofensiva rumo à cidade ucraniana de Mykolaiv e o estratégico porto de Odessa, no Mar Negro.

Além disso, a Rússia poderia perder o controle da represa de Kakhovka, no Dnieper, que é estratégica para abastecer de água a península da Crimeia anexada, que faz divisa com a província de Kherson.

Na cidade de Kherson, as tropas ucranianas poderiam inclusive atacar diretamente a Crimeia com sua artilharia de longo alcance.

Após a retirada russa do nordeste da Ucrânia, este segundo recuo em dois meses também pode pesar no ânimo das tropas, no momento em que Moscou está mobilizando centenas de milhares de reservistas, a maioria civis sem experiência militar real.

Os canais de notícias russos falaram pouco sobre a retirada, como costumam fazer quando há notícias ruins na frente de combate ucraniana.

Ao contrário dos anteriores reveses russos, os altos responsáveis do regime aprovaram em geral a retirada, abstendo-se de criticar o alto escalão militar russo.

O líder checheno Ramzan Kadyrov e o fundador do grupo de mercenários Wagner, Yevgeny Prigozhin, disseram que a decisão era difícil, mas necessária.

A indicação em outubro do general Sergei Surovikin como chefe das forças russas na Ucrânia parece ter satisfeito os mais radicais. Este militar tem fama de ser um líder implacável, mas competente, capaz de tomar decisões difíceis.

O remanejamento das tropas russas para a outra margem do Dnieper dificultaria o prosseguimento da ofensiva ucraniana na região.

Moscou, que sofreu grandes perdas, quer ganhar tempo para equipar e treinar as dezenas de milhares de soldados mobilizados desde setembro, com a intenção, talvez, de empreender uma nova ofensiva depois do inverno.

Funcionários americanos também cogitam a possibilidade de retomada das negociações de paz entre Kiev e Moscou, que estão paralisadas desde o fim de março.

bur/sba/meb/mb/rpr

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