Brasil vota em segundo turno incerto entre Lula e Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) travam, neste domingo (30), sua queda de braço final pela Presidência da República, em um segundo turno de resultado incerto, que mantém apreensivo um eleitorado profundamente dividido.

A última pesquisa Datafolha publicada neste sábado (29) reduziu a vantagem de Lula de seis para quatro pontos, com 52% das intenções de voto contra 48% para Bolsonaro, em comparação com a consulta anterior, de dois dias atrás.

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Mas há uma grande incerteza por causa da pequena diferença e pelo ocorrido no primeiro turno, quando as pesquisas subestimaram o potencial de Bolsonaro, que acabou ficando atrás de Lula por apenas cinco pontos (43%-48%).

O presidente se mostrou confiante em sua vitória ao votar neste domingo no Rio de Janeiro: "Expectativa de vitória. Se Deus quiser, sairemos vitoriosos hoje à tarde", disse Bolsonaro, vestindo uma camisa amarela do Brasil.

Depois seguiu para o aeroporto internacional do Galeão para receber os jogadores do Flamengo, campeão da Copa Libertadores um dia antes em Guayaquil (Equador). O presidente tirou uma foto levantando o troféu ao lado de jogadores como Rodinei e Fabrício Bruno.

Ao votar em São Bernardo do Campo, Lula se mostrou convencido de que "o povo brasileiro está definindo o modelo de Brasil que ele deseja" e desejou, vestido de branco, que "seja um dia de paz", após uma campanha muito tensa.

Apesar da tensão entre os dois campos, a professora de dança Elisete Silveira, de 46 anos, e seu marido Alex, um militar de 50 anos, conseguiram se manter em harmonia.

Em Brasília, saíram para votar de mãos dadas, ele vestindo a camisa amarela da seleção em apoio a Bolsonaro e ela vestida de vermelho para Lula.

"Concordamos em não falar sobre política em casa para preservar o amor", explicou Elisete, que riu ao relembrar como fizeram campanha nas redes sociais sentados no sofá, cada um pelo seu candidato.

As seções eleitorais abriram às 8h e devem fechar às 17h e os resultados são esperados poucas horas após o encerramento da votação para a qual estão convocados 156 milhões de eleitores.

Bolsonaro, de 67 anos, se apoiou na defesa dos valores tradicionais e na melhora recente dos dados econômicos - desaceleração da inflação e queda do desemprego -, para defender um segundo mandato, ao mesmo tempo em que continuou insuflando um discurso nacionalista.

"Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!", reiterou, ao finalizar o ríspido debate televisivo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sexta-feira.

Uma mensagem especialmente valorizada pelo agronegócio e a população evangélica, que representa um terço do eleitorado e continua crescendo neste país de maioria católica.

O ex-capitão do exército tem enviado mensagens contraditórias sobre se reconhecerá os resultados em caso de derrota. Na sexta-feira, assegurou que sim: "Quem tiver mais votos, leva".

Por sua parte, Lula, de 77 anos, promete "consertar o país", ainda impactado pela crise da pandemia e seus 688.000 mortos.

Durante sua campanha, destacou os feitos socioeconômicos de seus dois mandatos anteriores (2003-2010), como a saída de mais de 30 milhões de brasileiros da pobreza com iniciativas sociais financiadas pelo 'boom' das matérias-primas.

O ex-presidente conta com o apoio dos mais vulneráveis e de quem se ressentiu das políticas e das ofensas do presidente, como os jovens, as mulheres e as minorias.

A campanha entre os dois turnos foi ainda mais profícua em desinformação, ofensas e golpes baixos entre os dois adversários.

Lula associou Bolsonaro à "pedofilia" e ao "canibalismo", enquanto o presidente acusou o adversário de "cachaceiro" e "traidor da pátria",

O tom agressivo acentuou a polarização e a rejeição aos dois líderes.

"Uma parte não desprezível vai votar nele [Lula] pela rejeição que tem de Bolsonaro. E a mesma coisa vale do outro lado", disse à AFP Lara Mesquita, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo.

Embora os indecisos sejam poucos, "num pleito tão apertado, podem fazer a diferença", afirmou.

Se a esquerda vencer, "será um governo frágil", disse à AFP Brian Winter, redator-chefe da publicação Americas Quarterly. "No Brasil ressurgiu um movimento conservador muito forte", que se identifica com o presidente, acrescentou.

Um segundo mandato de Bolsonaro, ao contrário, "será muito parecido com o primeiro, com uma intensificação da guerra de valores, e será uma era da motosserra" para a Amazônia, onde o desmatamento disparou durante seu governo.

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