Papa defende o multilateralismo contra a lógica dos 'blocos' no Cazaquistão

O papa Francisco elogiou nesta terça-feira (13) o multilateralismo contra a lógica dos "blocos" que, segundo ele, aumenta o risco de novos conflitos, no primeiro dia de sua visita ao Cazaquistão, em um contexto de tensões relacionadas à guerra na Ucrânia.

"Enquanto estou aqui, continua uma guerra sem sentido e trágica causada pela invasão da Ucrânia, enquanto outros confrontos e ameaças de conflito colocam nossa era em risco", disse em seu primeiro discurso perante as autoridades e o corpo diplomático na capital, Nur-Sultan.

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"É hora de evitar o acirramento das rivalidades e o fortalecimento dos blocos opostos. Precisamos de líderes que, em nível internacional, permitam que os povos se entendam e conversem, e gerem um novo 'espírito de Helsinque'", acrescentou, referindo-se aos acordos de 1975.

Assinados após a conferência de Helsinque sobre segurança e cooperação na Europa, esses acordos consolidaram uma diminuição das tensões entre ocidentais e soviéticos após décadas de Guerra Fria.

Para "fortalecer o multilateralismo", o papa insistiu na necessidade de dialogar "com todos", aludindo implicitamente à Rússia. Desde fevereiro, a Santa Sé tenta manter contato diplomático com Moscou, denunciando uma guerra "cruel e sem sentido".

Ele também elogiou as virtudes do Cazaquistão, um "país de encontro" entre numerosos grupos étnicos, em uma "encruzilhada de importantes interseções geopolíticas" que o torna, segundo o papa, uma "oficina multicultural e multirreligiosa única".

O papa também mencionou o "processo de democratização que visa fortalecer os poderes do Parlamento e das autoridades locais" realizado no Cazaquistão.

Minutos antes, o papa foi recebido com honras militares e se reuniu com o presidente cazaque, Kassym Jomart Tokayev, que se declarou "honrado" por recebê-lo.

Nesta sua 38ª viagem ao exterior desde que foi eleito em 2013, o pontífice também participará de uma cúpula inter-religiosa em Nur-Sultan com a presença de delegações de cerca de 50 países.

Quando perguntado durante o voo sobre um possível encontro com o presidente chinês Xi Jinping, que também estará em Nur-Sultan nestes dias, o pontífice argentino disse que "não tinha informações".

"Estou sempre disposto a ir para a China", acrescentou. Por acaso, a presença de Xi - que deve se encontrar com o presidente russo Vladimir Putin no Uzbequistão no dia seguinte - alimentou especulações sobre uma possível ação da diplomacia vaticana sobre o conflito na Ucrânia.

Inicialmente, era esperada a presença na cúpula do Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa, próximo ao presidente Vladimir Putin, mas o russo cancelou sua participação sem dar motivos.

As opiniões de ambos os líderes religiosos se opõe sobre esta questão: o papa pediu paz e denuncia "uma guerra cruel e sem sentido", enquanto Kirill defendeu a "operação militar" e a luta contra "inimigos internos e externos" da Rússia.

Rico em recursos energéticos, o Cazaquistão tem 19 milhões de habitantes, dos quais 70% são muçulmanos sunitas e 25% são cristãos, principalmente ortodoxos russos. Apenas 1% é de católicos.

O presidente cazaque Tokayev chegou ao poder em 2019. Desde então, lançou várias reformas e propôs a realização de eleições presidenciais antecipadas no outono.

No entanto, os ativistas de direitos humanos não pararam de denunciar a repressão à oposição no Cazaquistão e o autoritarismo praticado por quem está no poder.

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