Petro terá dificuldades em emplacar na Colômbia transição para economia verde

Transformar a economia da Colômbia em economia verde, com menos extração e uma nova relação com a produção foi uma das principais promessas de Gustavo Petro ao longo da campanha presidencial, mas tirar os planos do papel implica na construção de acordos internos e alianças internacionais. Analistas e economistas acreditam que quatro anos de governo - a reeleição na Colômbia está proibida - sejam suficientes para estabelecer as bases dessa mudança.

"Petro tem que andar com muito cuidado porque se quer implementar essas políticas, não pode incomodar os grandes investidores locais que têm ações na Copetrol - empresa petrolífera de capital misto que distribui muitos dividendos -, terá que moderar as propostas e buscar grandes acordos, além de pactos internos", afirma o professor de relações internacionais da Universidade Javeriana Mario Aller San Millán.

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A exportação de petróleo pela Colômbia praticamente triplicou entre 2021 e 2022, ampliando a receita do setor de US$ 461 milhões para US$ 1,2 bilhão. Segundo o Departamento Administrativo Nacional de Estatísticas (DANE) do país, as exportações em abril de 2022 tiveram um aumento de 82% em relação ao mesmo mês de 2021, principalmente impulsionadas pela área de combustíveis, que cresceu 165%.

"Empresas petrolíferas e de mineração veem com preocupação (as promessas de Petro), enquanto empresas de energias renováveis veem como oportunidade", afirma a analista de risco da Control Risks na Colômbia, Silvana Amaya. "Nossa mensagem tem sido de tranquilidade, de esperar para ver como as medidas serão implementadas. Não será fácil para Petro impulsionar as reformas porque ele tem apoio no Congresso, mas não a maioria necessária. Estamos esperando principalmente a nomeação do ministro de Minas e Energia, fundamental para entender a mensagem de Petro ao país", conclui.

Sinalização

Outro ministério responsável por liderar essa mudança de rumo econômico será o da Fazenda. Petro já nomeou José Antonio Ocampo para esse cargo, com a intenção de que ele "construa uma economia produtiva e uma economia para a vida".

Formado em Economia e Sociologia, atualmente Ocampo é codiretor da Especialização em Desenvolvimento Econômico e Político da Escola de Assuntos Internacionais e Públicos e copresidente da Iniciativa para o Diálogo de Políticas da Universidade de Columbia. A nomeação agradou a diferentes setores do empresariado no país porque foi considerado um respaldo no trato da agenda progressista de Petro. Isso é importante porque as mudanças no sistema energético do país provocam desconfianças entre setores do empresariado.

Mas entre o que promete o presidente eleito e o que conseguirá tirar do papel está a necessidade de obter o apoio da maioria do Congresso e alianças internacionais que levem à diminuição da dependência do petróleo. Petro já se reuniu com diferentes setores políticos do país desde que ganhou a eleição. Esteve com o presidente Iván Duque, o ex-presidente Álvaro Uribe, conversou com representantes da União Europeia, da Venezuela e com o presidente e o secretário de Estado dos Estados Unidos.

A vice-presidente eleita, Francia Máquez, também se uniu aos esforços diplomáticos antes de assumir o posto e realizou um giro por diferentes países da América do Sul, como Brasil, Argentina, Chile e Bolívia.

Implementação

"Estruturar uma economia verde implica em um processo de transformação profunda da estrutura produtiva, algo que já vem ocorrendo no país. Passa por uma agenda de transição energética, consolidação de uma economia circular e planejamento adequado do território. A agenda em direção ao carbono zero traz consigo transformações na força de trabalho, no sistema educativo e na regra do jogo para se obter acesso a financiamentos. Mas tudo isso é necessário para enfrentar as tendências mundiais que nos levam a uma urgente mudança", diz o economista e professor da Universidade Rosario Carlos Sepúlveda.

Segundo os analistas, independente de obter o apoio necessário internamente e externamente para levar adiante a agenda de mudança energética na Colômbia, Petro conseguirá, no máximo, estabelecer as bases para uma mudança a longo prazo.

"Ele pode conseguir montar as bases para os próximos governos. Uma transformação desse tipo em quatro anos é difícil de implementar, é preciso pensar e negociar o que ele propõe com os diferentes atores envolvidos no sistema energético e de produção do país. Por isso, será interessante ver quem ele vai nomear ao ministério de Planejamento, que estará envolvido com as mudanças", afirma San Millán.

Promessas

Atualmente, existem 150 contratos vigentes com empresas para a exploração de reservas de petróleo no país. Petro afirma que vai respeitá-los. Críticos dessas promessas, como a Associação Colombiana de Petróleo e Gás (ACP), afirmam que entre 2022 e 2026 (último ano de mandato de Petro), o país teria uma perda de 118 milhões de pesos colombianos em aportes.

"A questão é que podemos comprometer nossa independência energética e a capacidade de nos abastecer porque nossas reservas de petróleo vão até 2028, e as reservas de gás até 2025. Se não explorarmos mais, teremos que importar", explica Silvana Amaya. O argumento principal desses críticos, segundo a analista, é que os planos de Petro de promover a agricultura e o turismo não serão suficientes para recuperar os ingressos econômicos vindos da exploração de venda de petróleo e gás.

Para o professor da Javeriana San Millán, como presidente, Petro pode redirecionar a política energética, "mas é preciso ter em conta que a empresa Copetrol é muito lucrativa e é preciso pensar o que fazer com ela, que dá muitos dividendos para a nação". De toda forma, ele ressalta que essa é uma tendência mundial. "Todos os países terão que enfrentar o fato que aqueles que compravam muito petróleo já não querem tanto porque estão mudando o mindset. É preciso se adaptar."

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