Governo britânico determinado a expulsar migrantes para Ruanda

O governo britânico decidiu nesta terça-feira (14), defendendo uma questão de "princípio", expulsar para Ruanda menos de 10 imigrantes que chegaram ilegalmente ao Reino Unido, em uma medida controversa que a Igreja Anglicana qualificou de "imoral".

Ao enviar migrantes clandestinos e solicitantes de asilo para este país da África Oriental, localizado a 6.500 km de Londres, o governo pretende desencorajar as chegadas ilegais através do Canal da Mancha, que não param de crescer.

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O projeto polêmico, mas popular entre o eleitorado conservador, foi aprovado pelos tribunais britânicos. Após a rejeição de vários recursos examinados com urgência nos últimos dias, o Supremo Tribunal britânico se recusou nesta terça-feira a considerar novos recursos.

No entanto, como resultado de diferentes recursos individuais, o voo fretado, que custa centenas de milhares de dólares e deve decolar à noite de um aeroporto indeterminado, provavelmente estará quase vazio.

De acordo com a associação Care4Calais, apenas sete migrantes devem sair, apesar de as autoridades inicialmente planejarem enviar até 130 (iranianos, iraquianos, albaneses e sírios) para Ruanda no primeiro voo.

"Haverá pessoas neste voo e, se não estiverem nele, estarão no próximo", afirmou a ministra das Relações Exteriores, Liz Truss, à Sky News. "O que importa mesmo é estabelecer o princípio" e "quebrar o modelo de negócio dessas pessoas perversas, desses traficantes que comercializam a angústia" dos migrantes.

"Não seremos dissuadidos ou prejudicados de jeito nenhum por algumas críticas", disse o primeiro-ministro, Boris Johnson.

Mais recursos individuais eram esperados na tarde desta terça-feira, enquanto uma revisão detalhada da legalidade da medida está prevista para julho.

O governo de Ruanda disse estar disposto a acolher "milhares" de migrantes e voltou a defender o acordo, considerando-o uma "solução inovadora" para um "sistema global de asilo defeituoso".

Enquanto isso, em Calais, na costa norte da França, de onde muitos migrantes partem para a Inglaterra, alguns esperançosos parecem não se impressionar com essa medida "dissuasória".

Moussa, 21 anos, de Darfur, diz que quer ir para a Inglaterra para "obter documentos" e porque já fala inglês.

Eles "atravessaram tantos países, enfrentaram tantas situações de estresse e perigo imediato" que vão correr esse risco, explica à AFP William Feuillard, coordenador da associação L'Auberge des Migrants.

Travessias ilegais do Canal da Mancha são um problema para o governo conservador britânico e regularmente causam tensões com a França. Desde o início do ano, mais de 10.000 migrantes cruzaram ilegalmente a costa francesa para a inglesa em barcos frágeis, um aumento recorde em relação aos anos anteriores.

Sob seu acordo com as autoridades ruandesas, Londres financiará inicialmente o plano com 120 milhões de libras (157 milhões de dólares). O governo de Kigali disse que oferecerá aos migrantes a chance de "se estabelecerem permanentemente".

"Esta política imoral envergonha o Reino Unido", disseram líderes da Igreja Anglicana, incluindo o arcebispo de Canterbury Justin Welby, o arcebispo de York Stephen Cottrell e 23 bispos em uma carta publicada no jornal The Times.

"Nossa herança cristã deve nos encorajar a tratar os solicitantes de asilo com compaixão, igualdade e justiça", enfatizaram.

Mas Truss rejeitou essas críticas. "Nossa política é totalmente legal. É totalmente moral", disse a ministra, assegurando que Ruanda é "um país seguro".

"Os imorais neste caso são os traficantes", acrescentou.

Aumentando a controvérsia, o príncipe Charles, o herdeiro de 73 anos do trono britânico, chamou o plano do governo de "terrível", informou o The Times no sábado.

Em Ruanda, país liderado pelo presidente Paul Kagame desde o fim do genocídio de 1994, no qual, segundo a ONU, 800 mil pessoas morreram, o governo é frequentemente acusado por ONGs de reprimir a liberdade de expressão, a crítica e a oposição política.

Os migrantes deportados serão alojados no albergue Hope em Kigali, que "não é uma prisão" e sim um hotel cujos moradores serão "livres" para sair, segundo seu diretor, Ismael Bakina. O estabelecimento tem capacidade para 100 pessoas, com um preço de 65 dólares por pessoa por dia.

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