Maior gasto dos EUA com câncer não resulta em melhores taxas de sobrevivência, diz estudo

Os Estados Unidos gastam em cuidados com o câncer duas vezes mais que a média dos países de alta renda, mas está no meio do ranking quando se trata de resultados, aponta um estudo divulgado nesta sexta-feira (27) na revista Journal of the American Health Association.

"Existe a percepção geral de que os Estados Unidos oferecem os tratamentos contra o câncer mais avançados do mundo", disse o principal autor do estudo, Ryan Chow, da Universidade de Yale.

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Os EUA se destacam por desenvolverem novos tratamentos e aprová-los mais rapidamente que outros países. Os autores do artigo quiseram saber se isso se traduzia em melhores resultados.

Dos 22 países de maior renda, os Estados Unidos destinam, de longe, a maior quantidade de fundos: 220 bilhões de dólares anuais para tratar o câncer, o que equivale a cerca de 600 per capita, em comparação aos 300 dos demais países ricos.

Porém, os pesquisadores perceberam que esse gasto mais alto não se refletia em menores taxas de mortalidade por câncer. "Países que gastam mais com o câncer não necessariamente têm melhores resultados", afirmou Chow.

Os EUA estão apenas levemente melhor que a média, mas seis países - Austrália, Finlândia, Islândia, Japão, Coreia do Sul e Suíça - gastam menos e conseguem resultados melhores.

Dos países estudados, a Coreia do Sul e o Japão têm as menores taxas de mortalidade por câncer, enquanto a Dinamarca e a França têm as maiores.

O tabagismo é o maior fator de morte por câncer, o que explica índices menores em países que tradicionalmente têm menos fumantes, como os EUA.

Após revisar as taxas de fumantes, os pesquisadores viram que os Estados Unidos estão exatamente na metade. Austrália, Finlândia, Islândia, Japão, Coreia do Sul, Luxemburgo, Noruega, Espanha e Suíça possuem taxas de mortalidade mais baixas por cânceres ligados ao tabagismo.

Vários fatores estão por trás das crescentes despesas nos Estados Unidos, escreveram os cientistas.

Os gastos com fármacos contra o câncer são 37% dos desembolsos dos seguros médicos privados no país. E esses medicamentos são muito mais caros nos EUA do que em outros países.

Diferente de países com sistemas públicos de saúde, o seguro Medicad, administrado pelo governo americano, não pode negociar o preço dos remédios.

Além disso, o FDA, agência americana de alimentos e medicamentos, não considera os preços quando avalia a aprovação de um medicamento.

A maior parte do crescimento dos gastos em remédios é atribuída a novos tipos de drogas, como os anticorpos monoclonais, inibidores de quinase e inibidores de ponto de controle imunológico, ainda quando as evidências a seu favor são pequenas.

Por fim, o tratamento médico é também mais agressivo nos EUA. "Nos últimos seis meses de vida, a taxa de pacientes americanos com câncer internados em unidades de terapia duplica em comparação a outros países e é mais provável que recebam quimioterapia", explicaram os pesquisadores.

Grupos especializados defendem um maior monitoramento que o recomendado nos manuais, o que aumenta os custos. Tumores de baixo risco, como os de próstata em suas primeiras fases, em geral são removidos, embora seja improvável que causem danos se não forem tratados.

ia/st/gm/ic

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