Esquerda francesa consolida união para derrotar Macron nas legislativas

O outrora governista Partido Socialista aprovou nesta quinta-feira (5) se somar a uma aliança de esquerda francesa, liderada pelo esquerdista Jean-Luc Mélenchon, que tenta arrebatar a maioria parlamentar do presidente liberal Emmanuel Macron, após uma reunião que evidenciou sua divisão.

"Queremos que Macron tenha todos os poderes ou propomos uma alternativa? Se nossa única obsessão é o debate entre esquerda e esquerda, a única alternativa será a extrema direita", advertiu o líder do PS, Olivier Faure, antes de o Conselho Nacional aprovar a aliança por 167 votos a favor, 101 contra e 24 abstenções.

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A 38 dias das eleições legislativas de 12 e 19 de junho, o partido de Macron e seus aliados de centro e centro direita apresentaram também nesta quinta sua aliança "Juntos" e se preparam para o início oficioso da campanha a partir do sábado.

Esse mesmo dia será realizada a posse do presidente centrista, reeleito em 24 de abril com 58,55% dos votos frente à ultradireitista Marine Le Pen, em um contexto de descontentamento com sua política em relação às classes populares.

E a "Nova União Popular Ecológica e Social", que reúne socialistas, comunistas, ecologistas e o partido de esquerda radical A França Insubmissa (LFI), de Mélenchon, organizará seu primeiro ato conjunto nesse dia, após tensas negociações.

A primeira aliança de esquerda em 25 anos visa impedir que Macron cumpra sua promessa de atrasar a idade de aposentadoria de 62 para 65 anos e propõe ao contrário antecipá-la para 60 anos e aumentar o salário mínimo a 1.400 euros líquidos (1.474 dólares), entre outras medidas sociais.

Para tal, esta frente quer alcançar a maioria dos 577 deputados eleitos em junho - escolhidos por um sistema de circunscrição uninominal em dois turnos - e obrigar o presidente a nomear Mélenchon primeiro-ministro.

O político veterano de 70 anos conseguiu se impor como líder deste partido após obter quase 22% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais, ficando às portas do segundo turno, enquanto os demais partidos de esquerda obtiveram menos de 5%.

A França já conheceu o modelo de "coabitação" no passado. Em 1997, Jacques Chirac nomeou primeiro-ministro o socialista Lionel Jospin. O presidente conservador tinha sido anteriormente chefe de governo do socialista François Mitterrand entre 1986 e 1988.

No entanto, a imagem polêmica de Mélenchon e seu programa crítico com a União Europeia (UE), que prevê "desobedecer" algumas regras fiscais e sociais, não convenceram pesos-pesados do PS, seu antigo partido, que se opuseram à aliança, como o ex-presidente François Hollande.

Outra crítica ao pacto, que levou o ex-primeiro-ministro Bernard Cazeneuve a abandonar o partido, são as 70 das 577 circunscrições que os socialistas vão liderar nas legislativas, menos do que o esperado. Os ecologistas obtiveram 100 e os comunistas 50.

Os diálogos tampouco foram fáceis para a aliança de centro direita de Emmanuel Macron, embora seu ex-premier Edouard Philippe, que criou em 2021 o partido Horizontes (centro direita), tenha pedido nesta quinta-feira que se julguem "os atos" e não "as conjecturas".

Seu República em Marcha (LREM), que passará a se chamar "Renascimento", finalmente criou uma "confederação" com o Horizontes e o MoDem (centro). E nesta quinta apresentaram seus primeiros 187 candidatos a deputados.

Entre eles está a ministra do Trabalho, Elisabeth Borne, cujo nome circula para ser primeira-ministra a partir de 13 de maio, e ex-chefe de governo Manuel Valls, que retorna para a política francesa como candidato pela circunscrição da Espanha.

O chefe de Estado, de 44 anos, precisa manter sua maioria para realizar seu programa reformista, mas seu principal desafio é unir um país dividido e se aproximar de um eleitorado que o vê como o "presidente dos ricos".

Segundo uma pesquisa da Elabe publicada nesta quinta, apenas 34% dos franceses confiam em Macron, - a "menor confiança desde 1995" para um presidente eleito -, que é superado por Philippe (48%) e Mélenchon (35%).

Os demais partidos também preparam sua campanha. Apesar do chamado à unidade, a extrema direita, outra tendência forte na França, concorrerá em dois partidos: Agrupamento Nacional, de Le Pen, e Reconquista!, de Éric Zemmour.

bur-tjc/dbh/mvv

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