Boris Johnson enfrenta eleições locais arriscadas

Os britânicos comparecerão às urnas para eleições locais na quinta-feira (5) que serão um teste para o primeiro-ministro conservador Boris Johnson, enfraquecido pelo "partygate", o escândalo das festas organizadas durante o confinamento em Downing Street, sua residência oficial.

Os resultados permitirão medir a relação de forças em todo o país entre o Partido Conservador de Johnson e o opositor Partido Trabalhista visando as próximas eleições legislativas.

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Johnson, 57 anos, conquistou uma ampla vitória em dezembro de 2019 com a promessa de romper anos de estagnação política e concretizar o Brexit, a polarizante saída do Reino Unido da União Europeia (UE).

Mas ele perdeu força com o escândalo das festas organizadas em Downing Street durante as severas restrições provocadas pela pandemia de covid-19, além da inflação elevada que afeta os bolsos dos eleitores.

Uma investigação policial fez dele o primeiro chefe de Governo britânico a ser multado por violar a lei enquanto estava no cargo.

Parlamentares conservadores, irritados com sua atitude, tentaram forçar um voto de desconfiança contra Johnson em janeiro.

Mas a guerra da Ucrânia, país invadido pela Rússia, com o firme apoio de Johnson ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, desativou a rebelião no Partido Conservador.

Uma derrota dos conservadores de Johnson nas eleições de quinta-feira podem intensificar os pedidos para que ele deixe o cargo e permita a ascensão de um novo líder, antes das eleições gerais previstas para 2024.

O escândalo das festas não parece ter importância para os eleitores.

"O que vai afetar muito as pessoas é o custo de vida: o preço da comida está aumentando, o preço da energia está subindo", disse um eleitor, que se identificou apenas como Bob, em Dudley, no centro da Inglaterra.

"O que ele (Johnson) fez foi ruim, com o partygate, eles estavam mais ou menos rindo de todos", disse o aposentado de 76 anos à AFP.

"Mas eles deveriam se concentrar no custo de vida", acrescentou.

O Partido Trabalhista registrou avanços nas eleições locais de 2018, em parte pelo caos entre os conservadores após a votação do Brexit em 2016.

Keir Starmer, líder trabalhista desde 2020, espera recuperar o poder dos conselhos locais da "Muralha Vermelha" da Inglaterra, que votaram nos conservadores nas últimas eleições gerais.

As pesquisas apontam que o Partido Trabalhista vencerá a maioria das cadeiras na Inglaterra.

Os trabalhistas esperam ainda conquistar cadeiras na Escócia atualmente ocupadas pelo independentista Partido Nacional Escocês (SNP), além de consolidar o controle em Gales.

Além de Johnson, as eleições de quinta-feira podem colocar em xeque o futuro a longo prazo do Reino Unido na Irlanda do Norte, onde serão eleitos os representantes da Assembleia.

O partido nacionalista Sinn Fein pode virar o maior partido da Assembleia da Irlanda do Norte, algo que nunca aconteceu em 100 anos de história problemática na província.

Uma pesquisa do instituto LucidTalk para o jornal Belfast Telegraph aponta uma vantagem de seis pontos dos nacionalistas sobre o Partido Unionista Democrático (DUP), favorável ao Reino Unido.

Deirdre Heenan, professora de Política Social na Universidade do Ulster, considera este "um momento de inflexão na política irlandesa".

"Será uma grande mudança se um nacionalista virar primeiro-ministro", disse à AFP.

O Sinn Fein - ex-braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA) -, favorável a uma consulta sobre a soberania britânica na Irlanda do Norte, optou nestas eleições por insistir no custo de vida e temas locais.

Mas o líder do DUP, Jeffrey Donaldson, insiste que uma consulta sobre a soberania britânica está "no coração" da agenda dos rivais.

As eleições podem dar a Johnson outra dor de cabeça constitucional, pois o SNP promete estimular os planos de um novo referendo independentista escocês.

A Escócia votou em 2014 para continuar a união de três séculos com a Inglaterra e Gales, mas a oposição escocesa ao Brexit provocou o retorno do tema.

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