Rede de orfanatos ucraniana é um caso sem precedentes na Europa

A Ucrânia, com um grande número de crianças em orfanatos, internados ou em instituições para pessoas com deficiência, é um caso único na Europa.

O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) estima a quantidade de crianças nessa situação em, ao menos, 100.000. Algumas ONGs avaliam em até 200.000.

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Várias organizações não governamentais descreveram à AFP uma vasta rede de instituições - herdada do período soviético e que pouco evoluiu desde então -, cuja gestão está dividida entre vários ministérios sem visão comum e que, às vezes, se vê repleta de corrupção.

Segundo os especialistas, é um sistema fechado que se retroalimenta para preservar os fundos, em particular de doadores estrangeiros, em detrimento do interesse das crianças, que estão expostas a problemas de saúde e atrasos no desenvolvimento, apontam as ONGs.

Outra particularidade da Ucrânia é que, segundo as ONGs, a maioria das crianças internadas nesse tipo de instituição não é órfã no sentido literal do termo e tem ao menos um progenitor.

Devido à pobreza, ao desemprego ou a problemas sociais dos pais; a uma deficiência mental ou física da criança; ou também a problemas de saúde ou de linguagem; a tendência - devido à falta de serviços sociais que permitam apoiar o pai ou pais - é enviá-la a essas instituições.

Muitos ucranianos, que trabalham na Rússia ou em outros países, confiam seus filhos aos avós, tios ou tias.

Porém, às vezes, isso não é possível "e essas crianças se tornam 'órfãos sociais' vulneráveis" que são colocadas em instituições, observa Geneviève Colas, coordenadora do coletivo Juntos contra o Tráfico de Seres Humanos da Cáritas França.

Este universo, que inclui bebês (de 0 a 4 anos) é objeto de preocupação há anos e já foi cenário para abusos em alguns orfanatos.

"Em uma instituição que conta com 80 crianças, talvez somente três sejam declaradas órfãos legais e podem ser adotadas", explica a americana Colleen Holt Thompson, mãe adotiva de seis filhos ucranianos e voluntária regular na Ucrânia desde 2006 em orfanatos por meio de uma rede de pais adotivos americanos.

Os demais vão "viver" ali até que sejam maiores de idade, mesmo que seus pais nunca os visitem e não haja esperança de que voltem algum dia para casa. E quando alcançam a maioridade se encontram sozinhos e sem apoio, caem na precariedade e o círculo vicioso se repete ao longo de gerações, lamenta.

"Hope and Homes for Children" publicou um informe sobre o sistema intitulado "A ilusão da proteção", que estima em cerca de 700 o número de instituições no território ucraniano.

No início de 2020, 2.800 bebês e crianças pequenas estavam distribuídas em 40 centros desse tipo.

Uma reforma com alternativas ao orfanato foi iniciada em 2017 pelo governo, mas não alcançou melhoras significaticas e, inclusive, foi interrompida no final de 2021.

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