Economia russa começa a rachar com peso de sanções

A economia da Rússia começa a mostrar fraturas sob as sanções ocidentais, que não deixaram de ganhar intensidade nas últimas semanas: a produção de carros afundou, o risco de uma moratória da dívida se agrava e a inflação ameaça disparar, como mostram os dados publicados nesta quarta-feira (6).

Os anúncios de grupos internacionais que se retiraram da Rússia foram bastante propagandeados, mas ainda não havia reflexos de suas graves repercussões sobre a atividade econômica real.

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Algumas semanas depois da crescente bateria de sanções, após o início da ofensiva russa na Ucrânia, os efeitos começam a ser sentidos.

O Ministério das Finanças russo anunciou que pagou em rublos uma dívida de 650 milhões de dólares após a negativa de um banco estrangeiro de efetuar o pagamento em dólares, o que expõe a Rússia a um risco de 'default' ao término de um período de carência de 30 dias, a partir de 4 de abril.

Durante muitas semanas, a Rússia evitou o risco de calote, já que o Tesouro dos Estados Unidos permitiu a utilização de divisas estrangeiras em posse de Moscou para pagar dívidas no exterior. Contudo, nesta semana, o Tesouro endureceu as sanções, não aceitando mais os dólares que Moscou possui em bancos americanos.

O ministério russo, por sua vez, fez esta advertência aos credores de "países hostis": o dinheiro será pago em rublos depositados em uma conta russa, e esses países só poderão converter esses rublos com a condição de que os fundos da Rússia no exterior sejam desbloqueados.

"Não há motivo para um default real", garantiu nesta quarta-feira o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, que também assegurou que "a Rússia tem todos os recursos suficientes para pagar as suas dívidas".

"É difícil para a Rússia evitar um default soberano", afirma Timothy Ash, analista da gestora de fundos Blue Bay Asset.

"Um calote poderia não derrubar de imediato os mercados e a economia russa, mas terá sim consequências no longo prazo", diz o analista, que prevê "um impacto nos investimentos, no crescimento, no nível de vida", entre outros.

"Putin está empobrecendo a Rússia durante anos", conclui.

Outra cifra impactante do dia são as vendas de automóveis novos, que caíram 62,9% interanual em março, símbolo de todo um setor com graves problemas, já que o Ocidente proibiu as exportações à Rússia de componentes e peças de reposição.

Além disso, muitos produtores anunciaram a suspensão da venda de componentes e de automóveis à Rússia, tal como Audi, Honda, Jaguar e Porsche. Outros anunciaram a paralisação da produção, como Renault, BMW, Ford, Hyundai, Mercedes, Volkswagen e Volvo.

As fábricas da Avtovaz (grupo Renault-Nissan), a maior fabricante de carros na Rússia, que emprega dezenas de milhares de pessoas, estão praticamente paralisadas devido à falta de componentes importados.

Segundo os dados da Avtostat, citados pelo jornal russo Kommersant, os preços dos carros novos aumentaram, em média, 40% em março, e até 60% para os carros de luxo, cujo fornecimento está sendo limitado por problemas de logística, mas também pelas sanções.

Os números da inflação de março são esperados para esta quarta-feira à noite (horário local da Rússia), mas tudo indica que devem bater recorde.

Alexei Vedev, pesquisador associado do Instituto Gaidar da Universidade Ranepa em Moscou, considera que a inflação anualizada ficará em 20%, após superar 9% em fevereiro.

"Foi um mês de pânico para os consumidores" que compraram maciçamente os produtos que acreditam que vão desaparecer, aponta.

Ademais, segundo Andrei Yakovlev, da Alta Escola de Economia de Moscou, a verdadeira crise só vai atingir a economia real a partir de junho ou em meados do segundo semestre: "em maio, muitas empresas poderão suspender suas atividades" por falta de componentes importados, especialmente na indústria automotiva, que emprega centenas de milhares de pessoas.

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