Marcha na Argentina relembra 46º aniversário do golpe militar

Dezenas de milhares de argentinos voltaram a marchar até a Plaza de Mayo no aniversário de 46 anos do golpe de Estado que instaurou uma ditadura, responsável por dezenas de milhares de desaparecimentos, exílios e execuções em centros clandestinos.

Com o grito de "30.000 detidos-desaparecidos! Presente!", Taty Almeida, da organização humanitária Madres de Plaza de Mayo-Línea Fundadora, encerrou o ato, após alertar que "não vamos permitir que a democracia seja prejudicada, desde que foi recuperada (em 1983) esta cidade cuidará dela para sempre".

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Em clima de comemoração pelo retorno às ruas da capital argentina após a pandemia de coronavírus, que impediu a realização desta emblemática marcha em 2020 e 2021, os manifestantes exigiram "memória, verdade e justiça".

Essas três palavras foram repetidas em inúmeras máscaras intervencionadas, enquanto outras tinham "Há 30.000" e "Nunca mais" escritos nelas.

Algumas integrantes das Mães e Avós da Plaza de Mayo, todas com mais de 90 anos, acompanharam a marcha de um ônibus, enquanto uma enorme faixa de mais de 200 metros com fotos dos rostos dos desaparecidos carregados por parentes era desfraldada nas ruas e ativistas.

"Sigo os passos de minha mãe procurando meu irmão detido-desaparecido em Misiones (nordeste), que está aqui (em uma foto) com os 30.000. Que nunca mais falte ao povo argentino democracia, participação, compromisso" Queremos justiça, que nos digam o que aconteceu", disse à AFP María Graciela Leyes, 63 anos, uma das que carregavam a faixa.

Na Argentina, a ditadura teve sucessivos presidentes. O primeiro a assumir o cargo em 24 de março de 1976 foi Jorge Videla, que morreu na cadeia aos 87 anos, condenado à prisão perpétua. Foi sucedido por Roberto Viola (março a dezembro de 1981), Leopoldo Galtieri (dezembro de 1981 a setembro de 1982) e Reynaldo Bignone (até 10 de dezembro de 1983).

Mais cedo, outra manifestação massiva dos partidos radicais de esquerda focou as críticas ao recente acordo do governo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para refinanciar a dívida de cerca de 45 bilhões de dólares concedida em 2018 ao ex-presidente liberal Mauricio Macri.

"30.000 companheiras e companheiros desaparecidos e detidos, presentes! Não ao acordo governo-FMI!", dizia sua faixa.

O presidente de centro-esquerda Alberto Fernández liderou outro ato na manhã em que foi anunciada a reparação dos arquivos de oito trabalhadores e cientistas da Comissão Nacional de Ciência e Tecnologia (Conicet), onde constará que eles sofreram "desaparecimento forçado".

"A ditadura foi impiedosa porque tinha medo do pensamento", disse Fernández. "Todos sabemos que houve uma ditadura que perseguiu, matou, assassinou, condenou ao exílio, fez a Argentina desaparecer como nenhum outro governo jamais fez", acrescentou.

Ao seu lado, todo a seleção de futebol argentina, com seu craque Lionel Messi, posou com uma grande faixa onde se lê "Mais memória, mais verdade e mais justiça", publicada nas redes sociais.

A seleção argentina está concentrada em Buenos Aires, onde jogará nesta sexta-feira contra a Venezuela pelas eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo do Catar 2022, em partida que seria disputada nesta quinta-feira e foi remarcada a pedido de organizações de direitos humanos.

Desde que as leis de anistia de 1986 e 1987 foram anuladas, os julgamentos por crimes contra a humanidade foram retomados em 2006. 46 anos após o golpe, a Argentina tem 20 julgamentos em andamento e outros 65 aguardam data de início.

De acordo com dados da Promotoria de Crimes contra a Humanidade, até agora 1.058 pessoas foram condenadas em 273 sentenças proferidas em todo o país.

Atualmente existem 764 detidos, dos quais 118 estão em prisão e os restantes em prisão domiciliária.

Outros 542 estão aguardando julgamento e 573 réus ainda não foram chamados a depor. Entre os acusados, 964 morreram e 22 estão foragidos.

ls/atm/am

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