Madri espera que mudança sobre Saara melhore suas relações com Marrocos

O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, defendeu nesta quarta-feira (23) a mudança de posição histórica espanhola sobre o Saara Ocidental, argumentando que o estado das relações com Marrocos era insustentável e agora ganhará solidez.

Não só "encerramos uma crise" com Rabat, mas "lançamos as bases para uma relação muito mais sólida, muito mais forte, com o reino de Marrocos", disse Sánchez durante uma visita ao enclave espanhol de Ceuta, situado na costa norte de Marrocos.

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"Não era sustentável romper relações do ponto de vista político, diplomático e até econômico" com "um país estratégico como Marrocos para a Espanha", argumentou Sánchez.

Estas foram as primeiras declarações do líder socialista sobre o assunto desde que a Espanha abandonou sua tradicional neutralidade na sexta-feira para se mostrar a favor do plano de autonomia marroquino.

O ministro das Relações Exteriores, José Manuel Albares, anunciou que visitará o Marrocos em 1º de abril.

Elemento chave para Madri, Sánchez assegurou que a "normalização" das relações permitirá consolidar aspectos "relativos ao controle migratório" do lado marroquino, de onde vem boa parte dos migrantes irregulares que chegam todos os anos à costa espanhola.

O conflito no Saara Ocidental, um território rico em fosfatos e águas com abundante pesca, opõe há décadas o Marrocos e a Frente Polisário, apoiada pela Argélia.

Rabat, que controla cerca de 80% desse território, propõe um plano de autonomia sob sua soberania, enquanto os independentistas exigem um referendo de autodeterminação organizado pela ONU, previsto no cessar-fogo de 1991, que nunca se concretizou.

Deixando para trás a sua neutralidade, a Espanha considera agora que o plano de autonomia marroquino "é a base mais séria, realista e credível para a resolução desta disputa".

Uma "virada brusca", nas palavras da Argélia, um grande exportador de gás para a Espanha, que convocou seu embaixador em Madri no sábado para mostrar seu descontentamento.

A mudança de posição rendeu críticas a Sánchez tanto de seus aliados de esquerda, quanto da oposição, que lamentaram não terem sido consultados.

"Uma mudança drástica na política externa não pode ser decidida por um governo", disse o líder da oposição, Alberto Núñez Feijóo, do Partido Popular (conservador), avaliando que "dar uma guinada sem apoio suficiente é imprudente".

Foi também criticado pela sociedade civil, como a do ator Javier Bardem, ativo na defesa dos refugiados saarauís, que numa carta assinada com o seu irmão Carlos e publicada no jornal "Público" lamentou esta "cessão à chantagem marroquina".

Sánchez respondeu que sua posição não faz nada além de "aprofundar uma posição expressada por outros governos anteriores da Espanha" e seguir a postura de "nações muito poderosas e importantes na Europa", como França e Alemanha.

O governo sustenta ainda que o acordo com Rabat garante a "integridade territorial" de Espanha, fazendo alusão a Ceuta e Melilla, dois enclaves espanhóis em território marroquino sobre os quais Rabat teria estacionado as suas reivindicações.

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conflito diplomacia Marrocos Espanha Argélia migração

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