Astrônomos debatem o que pode ser objeto "estranho" descoberto na Via Láctea

O objeto libera uma enorme quantidade de radiação eletromagnética cerca de três vezes a cada hora, por períodos extraordinariamente longos

A descoberta de um objeto giratório na Via Láctea que emite um feixe eletromagnético a um ritmo extraordinariamente longo abriu um novo campo de pesquisa, dizem os astrônomos.

Um jovem estudante australiano, com a ajuda de um poderoso telescópio localizado no centro do país, descobriu este objeto espacial, localizado segundo os cientistas a cerca de 4.000 anos-luz da Terra.

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O objeto libera uma enorme quantidade de radiação eletromagnética cerca de três vezes a cada hora, por períodos extraordinariamente longos, de acordo com dados publicados pela revista Nature.

"É um objeto incomum" indica sobriamente o radioastrônomo Ismaël Cognard, do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica (CNRS).

Os astrônomos já detectaram no passado astros que emitem ondas eletromagnéticas em intervalos regulares. Mas emite radiação aproximadamente a cada 18,18 minutos, em vez de um período muito mais curto.

Os pulsares são os mais comuns. São estrelas de altíssima densidade, compostas exclusivamente por nêutrons, cujas emissões são muito intensas, breves e regulares.

Outro "tipo" de estrela, também composta de nêutrons, é o magnetar, muito mais raro. Suas emissões eletromagnéticas podem durar dezenas de segundos.

A equipe de pesquisa australiana está agora trabalhando para entender o que foi descoberto.

"Tecnicamente é muito difícil e muito caro, em termos de cálculos", explica à AFP Fabian Schüssler, astrofísico da Comissão Europeia de Energia Atômica.

Os radiotelescópios produzem montanhas de dados que, por sua vez, requerem máquinas capazes de produzir algoritmos e cálculos elevados para alcançar um resultado.

"É um bom exemplo de descoberta que se consegue ao investigar em um espaço de parâmetros inexplorados", diz Fabian Schüssler. Ou seja, ao olhar para onde normalmente não se olha, ou com os meios adequados.

 

A existência desse objeto já havia sido teorizada, explica a astrofísica australiana Natasha Hurley-Walker, que lidera a equipe de pesquisa.

É, segundo ela, um magnetar de período ultralongo. Uma espécie de estrela de nêutrons, que gira extremamente lentamente sobre si mesma, emitindo um campo eletromagnético extremamente forte.

"Sabemos que a rotação de uma estrela de nêutrons diminui ao longo de sua existência", indica Fabian Schüssler, portanto a hipótese é "plausível".

Mas esse giro cada vez mais lento, como o de um pião que está perdendo força, apresenta outro problema.

O objeto detectado "não deveria ter energia suficiente para produzir esse tipo de onda radiomagnética a cada 18 minutos", diz Natasha Hurley-Walker, da Curtin University.

Um objeto de rotação mais lenta "deveria emitir uma emissão muito mais fraca, a ponto de ser quase indetectável", segundo o astrofísico Fabian Schüssler.

O sinal foi detectado durante um período de três meses, no início de 2018. O objeto não desapareceu, embora seu sinal não seja mais detectado.

Ismaël Cognard, do CNRS, baseia-se em uma teoria para explicar o poder da emissão registrada: "Alguns magnetares têm períodos de emissão muito brilhantes. Estamos começando a conjecturar que poderia haver rachaduras na crosta do magnetar, o que influenciaria seu campo magnético, aumentando a potência de sua emissão", disse.

O objeto misterioso ainda existe, insiste o astrônomo francês. Agora é preciso procurar outros exemplos para comparar os dados.

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