Investigação sobre invasão ao Capitólio dos EUA avança e cresce

Sem perder tempo, já no dia 6 de janeiro, os agentes federais colocaram mãos à obra, revirando as redes sociais, analisando vídeos e verificando denúncias anônimas para apurar responsabilidades, depois da invasão ao Capitólio, o templo da democracia americana.

Esse trabalho "enorme" e "massivo" é "uma das maiores investigações da história do FBI" (a Polícia Federal americana), afirma o diretor do "Programa sobre Extremismo" da George Washington University, Lorenzo Vidino.

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Em quase um ano, estes esforços permitiram prender e indiciar mais de 725 simpatizantes do agora ex-presidente Donald Trump. Depois de ouvirem o republicano denunciar, sem qualquer prova, que as eleições foram-lhe roubadas, invadiram a sede do Congresso no momento em que congressistas certificavam a vitória do democrata Joe Biden.

Nomes são adicionados a esta lista quase todos os dias. Inicialmente, o FBI citou 800 participantes, mas, agora, acredita que pelo menos 2.000 pessoas estiveram "envolvidas no cerco" ao Capitólio.

Os arguidos são, principalmente, homens (87%), brancos, com idade média de 39 anos, "superior à idade habitual entre os extremistas", descreve Vidino, cujo centro de investigação compila todos os processos judiciais realizados.

São procedentes de todas as partes do país e têm perfis socioeconômicos variados (advogado, paisagista, corretor de imóveis etc.), e abundam as pessoas com experiência militar e em situação de falência.

Entre eles, há militantes de extrema direita e conspiradores, mas também meros simpatizantes de Donald Trump, que estão convencidos da necessidade de se travar uma cruzada pós-eleitoral.

A maioria dos envolvidos, que aparentemente se contentaram com circular pelo prédio, está sendo julgada por delitos menores, como violação de uma proibição de entrada, ou perturbação da ordem pública.

Os promotores parecem julgá-los rapidamente mediante um acordo de confissão: cerca de 165 pessoas já se beneficiaram desse sistema e pelo menos 50 sentenças foram proferidas.

A maioria é leve. Um jovem que admitiu ter roubado uma cerveja do gabinete da presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi, foi condenado a 20 dias de prisão. Vai cumprir sua pena nos finais de semana para manter seu emprego.

Já Jacob Chansley, de 34 anos, que ostentava um cocar de chifre de búfalo e se tornou um dos rostos icônicos do ataque, foi condenado a três anos e meio de prisão. Seu advogado, Al Watkins, critica essas diferenças, que, segundo ele, passam "a mensagem errada".

"Não parece justo para aqueles que se consideram presos políticos" e corre-se o risco de reforçá-los em suas posições, disse à AFP.

As penas mais duras foram conhecidas recentemente e recaíram sobre cerca de 225 pessoas acusadas de terem cometido atos violentos - em especial, contra os policiais do Capitólio.

Robert Palmer, por exemplo, de 54, acaba de ser condenado a cinco anos de prisão por atirar objetos nos policiais.

Neste grupo, cerca de 40 pessoas também estão sendo julgadas por "associação criminosa", o que implica ter planeado o ataque. Esta acusação, a mais grave, é dirigida, em particular, aos membros dos grupos de extrema direita Proud Boys, Oaths Keepers, ou Three Percenters.

Estes acusados, alguns dos quais em prisão preventiva há meses, provavelmente serão julgados por júri popular.

O primeiro julgamento poderá acontecer em fevereiro. Um nova-iorquino de trinta e poucos anos, membro dos Proud Boys, acaba de chegar a um acordo com a Promotoria. Vai colaborar com as investigações, em troca de uma sentença reduzida.

Ainda não houve acusações de "sedição", ou de "insurreição", mais difíceis de provar. Segundo Vidino, os promotores "tentam ser o mais criativos que podem dentro de um restritivo marco legal".

Nos Estados Unidos, lembra o especialista, grupos extremistas estrangeiros podem ser investigados, mas não organizações americanas com uma ideologia radical e violenta.

Ainda falta determinar quem, dentre aqueles que não foram ao local, incitou, ou orquestrou, o assalto ao Capitólio. Por enquanto, os promotores deixaram para os parlamentares a investigação.

Embora os senadores republicanos tenham permitido que Trump fosse absolvido de um processo de impeachment em fevereiro, o ex-presidente não está fora de perigo.

Uma comissão de inquérito da Câmara de Representantes tenta descobrir que papel Trump e seus colaboradores desempenharam. Se conseguirem encontrar provas para acusá-lo, os promotores vão usá-las. Então, uma nova página dessa extensa investigação poderá ser aberta.

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