Rússia ordenou assassinato de tchetcheno em Berlim, diz tribunal alemão

Autor DW Tipo Notícia

Tribunal conclui que o réu mantinha relações próximas com a inteligência russaTribunal em Berlim condena cidadão russo à prisão perpétua pelo assassinato de um ex-comandante tchetcheno em parque da capital alemã em 2019. Evidências apontam para vínculos com o serviço secreto da Rússia.Um tribunal de Berlim determinou que o assassinato de um ex-comandante tchetcheno em um parque da capital alemã em 2019 foi ordenado pela Rússia. O veredicto anunciado nesta quarta-feira (15/12) atraiu a ira imediata do Kremlin e gerou um risco de agravar ainda mais as tensões diplomáticas. Os juízes de uma corte de Berlim condenaram o suspeito russo Vadim Krasikov, também conhecido como Vadim Sokolov, a uma pena de prisão perpétua. Krasikov foi considerado culpado de ter matado Tornike Kavtarashvili, de 40 anos, que tinha etnia tchechena e nacionalidade da Geórgia. "O mais tardar em junho de 2019, as autoridades do Estado russo ordenaram que o acusado aniquilasse a vítima em Berlim", disse o juiz Olaf Arnoldi, que presidiu a sessão. Arnoldi decretou a pena sob a justificativa de que a chamada "gravidade particular da culpa" exigida pela lei alemã para potenciais veredictos de prisão perpétua tinha sido cumprida neste caso. "Quatro crianças perderem o pai, e dois irmãos, o irmão", concluiu o juiz. Assassinato em plena luz do dia Os promotores alemães defenderam a tese de que Krasikov estava agindo sob as ordens do serviço secreto russo (FSB). Ao longo do julgamento, eles apresentaram um extenso material para mostrar que as autoridades russas arranjaram um pseudônimo para o homem – Vadim Sokolov – e que ele cruzou várias fronteiras europeias com essa identidade nos dias que antecederam o assassinato. No parque Kleiner Tiergarten, Krasikov assassinou Kavtarashvili a tiros à queima-roupa em plena luz do dia em 23 de agosto de 2019. O suspeito foi preso no mesmo dia. A vítima, por sua vez, tinha sido classificada como terrorista pelos serviços de segurança russos. O cidadão georgiano foi acusado por Moscou de lutar como insurgente contra as forças russas na Tchetchênia e, posteriormente, de estar envolvido em um ataque a bomba no metrô de Moscou. O presidente russo, Vladimir Putin, descreveu Kavtarashvili como um "lutador muito cruel e sangrento" que se juntou a separatistas contra as forças russas no Cáucaso. O Kremlin estava tentando sua extradição junto às autoridades alemãs. Segundo relatos da imprensa alemã, Kavtarashvili conseguiu sobreviver a duas tentativas de assassinato na Geórgia antes de buscar asilo na Alemanha, onde morava há vários anos. Chacoalhada nas relações diplomáticas Após o veredicto, a nova ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, informou que sua pasta havia convocado o embaixador russo Sergei Nechayev e informado sobre a expulsão de dois diplomatas. "Dissemos a ele que dois membros do pessoal da embaixada seriam declarados persona non grata", afirmou Baerbock. A ministra também destacou que falou com seu homólogo russo, Sergey Lavrov, e ressaltou que Berlim "quer e precisa" ter um diálogo aberto e honesto com Moscou. "Isso precisa ser baseado no direito internacional e no respeito mútuo", acrescentou. Em 2019, alguns meses após o crime, Berlim já havia expulsado dois diplomatas russos por "não contribuírem" para o esclarecimento do caso. Moscou criticou o veredicto desta quarta-feira e o classificou como "decisão política" alimentada por um "sentimento antirusso generalizado". "Consideramos esse veredicto uma decisão tendenciosa e politicamente motivada que agrava seriamente as já difíceis relações russo-alemãs", disse Nechayev, em comunicado. Quanto à expulsão dos diplomatas, Moscou afirmou que "responderá "adequadamente". O veredicto aumenta a pressão sobre o novo governo da Alemanha, que prometeu uma postura mais dura em relação à Rússia, e surge em meio a um crescente alarme no Ocidente sobre os movimentos de tropas russas ao longo da fronteira com a Ucrânia. Entre as ameaças alemãs está o aviso de que o novo governo não aprovará o polêmico gasoduto Nord Stream 2, caso Moscou prossiga com suas intenções militares na fronteira ucraniana. Segundo a revista semanal alemã Der Spiegel, a nova ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, enfrenta agora "seu primeiro grande teste". O local do assassinato – o parque Kleiner Tiergarten – fica a poucos quarteirões da sede da Chancelaria Federal alemã e dos edifícios do Bundestag, o Parlamento alemão. Logo após o ato, a Alemanha – ainda sob o comando de Angela Merkel, expulsou dois diplomatas russos em protesto contra a aparente falta de cooperação de Moscou com a investigação. O julgamento de Krasikov abrangeu um período de relações particularmente turbulentos entre Berlim e Moscou atrelados a uma série de casos de espionagem, bem como o envenenamento e aprisionamento do notório crítico do Kremlin, Alexei Navalny. A Rússia nega todas as acusações. pv (Reuters, AFP)

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