Premiê Mark Rutte é eleito pela quarta vez na Holanda

Autor DW Tipo Notícia
Apesar de protestos contra restrições devido à pandemia de covid-19 e do escândalo de benefícios sociais, holandeses apostam em estabilidade e dão maioria do assentos no Parlamento ao partido do atual chefe de governo.O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, e seu Partido Popular para a Liberdade e a Democracia (VVD), liberal de direita, venceram as eleições parlamentares antecipadas desta quarta-feira (17/03). Uma projeção com base em quase 90% dos votos indica que o VVD será, de longe, a força mais forte na câmara baixa do Parlamento holandês, assegurando 35 de um total de 150 mandatos.Rutte havia renunciado em janeiro, assumindo a responsabilidade por um escândalo que abalou o país, no qual milhares de famílias foram injustamente acusadas de fraude relacionada a benefícios sociais.Rutte, de 54 anos, está no poder há mais de uma década e, com mais essa vitória eleitoral, a caminho de recordes: quando a chanceler federal alemã, Angela Merkel, deixar o cargo, em outubro próximo, ele será o chefe de governo mais antigo na União Europeia (UE). E no próximo ano ele pode ultrapassar o ex-primeiro-ministro holandês Ruud Lubbers em termos de anos de mandato.Em comparação internacional, as vitórias eleitorais de Rutte não chegam a ser sensacionais, mas, no cenário partidário fragmentado da Holanda, já se pode ser vencedor com mais de 20% dos votos. Dos 37 partidos representados nas cédulas eleitorais, 17 conseguiram mandatos no Parlamento, outro recorde.O que torna Rutte invencível?A mídia holandesa especula sobre as razões para as vitórias de Rutte. Há muito tempo, ele é chamado debochadamente de "Mark Teflon" porque nada parece grudar nele nem atingi-lo. O escândalo dos benefícios sociais, que derrubou seu governo em janeiro, aparentemente não o prejudicou. Embora tudo tenha acontecido durante sua gestão, os eleitores não o culpam. Um colunista escreveu recentemente que Rutte é como um cão labrador feliz abanando o rabo: ninguém pode realmente zangar-se com ele − em vez disso, há um desejo irresistível de acariciá-lo.O balanço de governo de Rutte é diverso. Seu VVD, liberal de direita, prioriza a economia, e a Holanda prospera há anos. Por outro lado, os sistemas de educação e de saúde necessitam urgentemente de reformas e investimentos. Os aluguéis e os preços das moradias estão se tornando cada vez mais inacessíveis, a previdência social está sendo cada vez esfacelada e a diferença entre ricos e pobres também aumentou significativamente na Holanda, que costuma ser vista como igualitária.Protestos violentosRutte também não deixou uma boa imagem ao lidar com a pandemia: inicialmente, ele não quis sobrecarregar seus compatriotas, conhecidos por odiar regulamentações e restrições, e apostou na imunidade coletiva.Quando não havia mais maneira de manter essa estratégia fracassada, ele adiou qualquer tipo de bloqueio até que os hospitais holandeses passassem a ter problemas para admitir novos pacientes. Em janeiro, devido ao número muito alto de infecções, ele finalmente impôs um toque de recolher a partir das 21h, o que levou milhares de negacionistas e jovens a protestos violentos nas ruas.As fotos de manifestantes em luta contra a polícia circularam pelo mundo. Em vez de investigar as causas, o primeiro-ministro classificou os protestos de "atos criminosos". E a maioria no país também não o culpa por isso. Pelo contrário, as pesquisas mostram que muitos cidadãos estão satisfeitos com a maneira como ele lida com a pandemia.Mesmo antes de o termo ser inventado, Rutte se tornou um dos primeiros políticos pós-ideológicos. Ele consegue governar tanto com liberais, esquerdistas e direitistas sem se atrapalhar. O repertório dele inclui desde flertes com populistas de direita xenófobos a concessões à política ambiental para os liberais de esquerda.Autopromoção sem escândalosRutte também sabe polir sua imagem. O premiê continua morando em seu modesto apartamento em Haia, em vez de se mudar para a residência oficial. Ele vai de bicicleta ao trabalho, como é usual na Holanda, e insiste em proteger sua vida privada. Não há escândalos nem histórias domésticas sobre Mark Rutte e, acima de tudo, ele nunca mostra falta de modéstia. Ele é a personificação do holandês trabalhador e frugal.E finalmente: se não Rutte, então quem? Ninguém na Holanda parece saber responder a essa pergunta. Mesmo os eleitores que politicamente não são próximos dele têm a sensação de que ele representa o país de maneira adequada.A força de seu eterno adversário, o populista de direita Geert Wilders, já havia diminuído nas eleições anterioes. Agora, populista de direita PVV perdeu ainda mais votos e provavelmente ficará com apenas 17 cadeiras no parlamento. Thierry Baudet, muito admirado entre os extremistas de direita, ganhou seis cadeiras com seu FvD e agora tem um total de oito. Uma dissidência do FvD, JA21, chega ao parlamento com quatro mandatos, de modo que o resultado final é que os populistas de direita sairão mais fortes desta eleição, ainda que fragmentados.A maior surpresa, no entanto, foi o forte desempenho do D66, que participou da coalizão de quatro partidos de Rutte no governo anterior. O partido liberal de esquerda, liderado pela ministra holandesa do Comércio Exterior, Sigrid Kaag, ganhou mais cinco cadeiras e agora é o segundo partido mais forte, com 24 assentos.Mas mesmo o D66 não é capaz de oferecer séria concorrência a Rutte. Assim, ele poderá formar seu quarto gabinete sem contestação, reunir quatro partidos e, mais uma vez, equilibrar os interesses, da esquerda até a direita, de modo a dar aos holandeses o que eles hoje mais desejam: estabilidade.Autor: Barbara Wesel

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